Os brasileiros estão trocando o transporte coletivo pelo individuai e a tendência deve se intensificar se não houver uma atuação mais forte do Governo Federal. Essa é a conclusão do Comunicado do Ipea nº 94, A mobilidade urbana no Brasil, lançado nesta quarta-feira, 25/05, no Rio de Janeiro.
O número de usuários de veículos individuais cresceu 9% ao ano, no caso dos carros, e 19% no caso de motocicletas. O uso do transporte público caiu de 68% para 51% do total de viagens motorizadas. Essas mudanças estruturais tiveram enormes conseqüências nos gastos dos usuários, no consumo de energia e na piora nos níveis de poluição, no congestionamento e nos acidentes de trânsito.
Apresentada pelo Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Carlos Henrique Carvalho, a pesquisa revelou que os sistemas de mobilidade são ineficientes e pioram as desigualdades sócio-espaciais.
O estudo apontou que mais de 20% da população no Brasil gasta mais de uma hora por dia no trajeto casa-trabalho.
“Não sou contra o estímulo ao mercado e à indústria, pelo contrário, isso mostra crescimento econômico, só que é preciso políticas públicas e racionalidade na utilização”, alerta ele, que complementa: “Na Europa, o índice de veículos cresce quase na mesma proporção que no Brasil, as famílias têm automóvel, mas utilizam o transporte público graças aos incentivos do governo”
Uma das soluções para desafogar as grandes cidades seria a integração dos transportes, como já ocorre em grandes centros como Rio e São Paulo. E mais: uma melhoria no próprio transporte, que precisa ser atrativo para a população trocar o conforto do carro pelo ônibus ou pelo metrô. Uma última estratégia, apontada por Carvalho, seria a criação de subsídios do governo no preço do diesel para as empresas de transporte coletivo, o que provocaria um abatimento no valor da passagem, repassado ao usuário.
Os sistemas de ônibus urbanos e metropolitanos são a modalidade de transporte público predominante no Brasil, operando em cerca de 85% dos municípios.
O transporte público coletivo urbano atende majoritariamente a pessoas de média e baixa renda no Brasil, o que torna o valor da tarifa desses serviços um instrumento importante na formulação de políticas de inclusão social e também na gestão da mobilidade urbana.
Em 2008, foram vendidos no Brasil cerca de 2,2 milhões de automóveis e 1,9 milhão de motocicletas.
Este aumento decorre tanto da elevação do poder aquisitivo das pessoas quanto das deficiências do transporte público e do apoio crescente do governo federal, na forma de isenções de impostos e facilidades financeiras para a aquisição de veículos individuais. Se estas condições permanecerem, as frotas de automóveis e motos deverão dobrar até 2025.
Os dados do Comunicado fazem parte do livro Infraestrutura Social e Urbana no Brasil: subsídios para uma agenda de pesquisa e formulação de políticas públicas e também serão apresentados durante o XIV Encontro Nacional da ANPUR (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional). O evento, cujo tema será realizado no Rio de Janeiro, de 23 a 27 de maio de 2011.
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=8605&Itemid=2