Aumento dos insumos e das gratuidades pressiona tarifas, segundo estudo.
Perda de qualidade e competitividade gera aumento do transporte individual.
O sistema de transporte público rodoviário urbano está perdendo competitividade e atratividade, num "ciclo vicioso" que aumenta o transporte individual e gera mais congestionamento, poluição, acidentes e "desigualdades urbanas" para os brasileiros, aponta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta quarta-feira (25).
De acordo com a pesquisa, o aumento dos preços dos insumos dos ônibus pressiona a tarifa. Só o óleo diesel, por exemplo, teve um aumento real superior a 70% nos últimos 15 anos. "Com exceção dos salários dos trabalhadores que praticamente permaneceram no mesmo patamar, os demais insumos tiveram aumentos acima da inflação", diz o estudo.
Outro custo que é repassado para a tarifa é o dos beneficiários, como vale-transporte e bilhete de estudante. "No Brasil, apenas a gratuidade dos idosos (pessoas acima de 65 anos) é prevista na Constituição Federal
[...] Na maioria dos sistemas de transporte, como não há formação de fundos extratarifários para cobrir os gastos dos beneficiados, os custos de prestação dos serviços para os beneficiários dessas gratuidades são repassados para o resto da sociedade pelo valor geral da tarifa", diz a pesquisa. "Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), esse custo gira em torno de R$ 4 bilhões por ano, fazendo que a gratuidade tenha um impacto de cerca de 20,8% sobre o preço das tarifas de ônibus."
Segundo o estudo, quem acaba pagando os benefícios tarifários são os empregadores que fornecem os vale-transportes e os usuários não beneficiários. "É nesse ponto que reside a grande iniquidade dessa política. Quem acaba pagando a maior parte do benefício concedido são pessoas de média e baixa renda, usuários cativos do transporte público."
Com uma tarifa alta e sem uma política de priorização do transporte coletivo, aumentam ainda mais os estímulos ao transporte individual, como carros, motos e bicicletas, diz o Ipea. Isso gera perda de demanda e receita para os sistemas públicos, alimentando novamente o ciclo.
Ônibus x carros
De acordo com o Ipea, os ônibus operam em cerca de 85% dos municípios brasileiros, sendo a modalidade de transporte público predominante no país. Desde 1995, as tarifas aumentaram aproximadamente 60% acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor e o setor perdeu 30% da demanda neste período.
Ao mesmo tempo, o uso do transporte individual vem aumentando no país. Segundo o estudo, se o aumento do número de carros circulando continuar do jeito que está, até 2025 as frotas de automóveis e motos deverão dobrar. "Este aumento decorre tanto da elevação do poder aquisitivo das pessoas quanto das deficiências do transporte público e do apoio crescente do governo federal, na forma de isenções de impostos e facilidades financeiras de aquisição de veículos individuais."