Tecnologia
A biblioteca mundial
Tatiana de Mello
Eles foram tão geniais e universais que se pode dividir a concepção e o entendimento que a própria humanidade tem de si em antes e depois que suas obras vieram à luz. Fala-se, por exemplo, de Sófocles, Petrarca, Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Friedrich Hegel e Machado de Assis, entre outros poetas, escritores e filósofos.
Por mais criativos e "antenados" que tenham sido, jamais poderiam prever, no entanto, um mundo digitalizado como o atual - no qual papel e caneta vão se tornando cada vez mais descartáveis. Unindo o que há de ideal da cultura humana com a inevitável e imprescindível informatização dos dias de hoje, a Unesco dá ao mundo, na terça-feira 21, o mais moderno e revolucionário acervo de todos os tempos: a Biblioteca Digital Mundial. "Ela não tem somente a função de reunir livros para consulta. Essa biblioteca fará circular de forma online as informações e os bens culturais de diversos países", disse à ISTOÉ Muniz Sodré de Araújo Cabral, presidente da Biblioteca Nacional, que representa o Brasil nesse projeto. A ideia de sua montagem começou a ganhar forma quando ela foi exposta à Unesco por James Hadley, presidente da Biblioteca do Congresso dos EUA, a maior do mundo.
Diversos países foram convidados a participar do projeto cedendo obras raras para serem digitalizadas e colocadas na rede. A Biblioteca Nacional brasileira, que tem o oitavo maior acervo do mundo, contribuiu, por exemplo, com a Coleção Thereza Christina, que reúne 42 álbuns e cerca de 1,2 mil fotografias antigas que pertenceram a dom Pedro II (Thereza Christina foi sua mulher). Doou também 1,5 mil mapas dos séculos XVI a XVIII. "É uma propaganda muito positiva do País", diz Sodré.
Há um detalhe importante: a Biblioteca Nacional já foi elevada pela própria Unesco à categoria de Patrimônio da Humanidade. As obras estarão dispostas de maneira simples na nova Biblioteca Digital e o acesso a elas será fácil. O site se apresenta em sete idiomas (português, inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo) e seus serviços serão totalmente gratuitos, assim como os de outros acervos online disponíveis no mundo, embora muito mais modestos.
A iniciativa da Unesco, em si, não é nova - a própria Biblioteca Nacional já tem arquivo digitalizado com cerca de 250 livros de domínio público, além de fotos e manuscritos de edições raras. Também o Google, o maior site mundial de buscas, disponibiliza cerca de sete milhões de livros para pesquisas online.
A nova Biblioteca Digital da Unesco, no entanto, torna-se original e revolucionária porque funcionará como um poderoso arquivo ao entrelaçar acervos distintos e possibilitar a troca de conhecimento entre os diversos arquivos do mundo. Assim como o Brasil optou por ceder o acervo de dom Pedro II, outros países escolherão o que consideram mais relevante em sua história - será possível acessar, por exemplo, aquilo que os indianos consideram importante para o entendimento da Índia ou o que os egípcios julgam interessante sobre si. "É uma nova concepção. Não se trata de uma reunião de livros digitalizados, mas sim, de um grande arquivo globalizado", diz Sodré.
O site da Biblioteca Digital Mundial é http://www.worlddigitallibrary.org/.