26 setembro 2010

Motoristas de BH recebem 400 mil panfletos diariamente

Publicado em: 25/09/2010
Cidades

Propaganda.

Pelo menos cem funcionários de cinco empresas distribuem papéis nas ruas da capital

Motoristas de BH recebem 400 mil panfletos diariamente

Esse tipo de ação só é proibido quando feito diretamente com os pedestres

GABRIELA SALES

O tempo de espera em um sinal vermelho é, em média, de 20 segundos. Parece pouco, mas é tempo suficiente para que o motorista belo-horizontino receba uma enxurrada de publicidade em papel. Em um mesmo semáforo são entregues, em média, de cinco a sete panfletos, que acabam amontoados nos bancos ou nas sacolas de lixo dos veículos.

Na capital, as cinco principais empresas que cuidam desse tipo de publicidade colocam nas ruas, todos os dias, pelo menos cem funcionários com a missão de distribuir, cada um, entre 2.000 e 4.000 papéis. Com a meta alcançada, os motoristas belo-horizontinos encerram o dia com 400 mil panfletos em seus carros.
Ontem, a reportagem do O TEMPO percorreu os principais corredores de trânsito da cidade. Em apenas 10 km entre a Savassi e a avenida Cristiano Machado, próximo à estação São Gabriel, do metrô, foram oito abordagens da denominada ação de rua.

Pelo Código de Posturas, em vigor desde abril deste ano, esse tipo de propaganda só é proibido quando feito diretamente com os pedestres. Através das janelas dos carros, a "rota da panfletagem" encontra campo livre para agir, apesar das queixas de muitos motoristas.

Alguns dizem que sequer prestam atenção ao que é apresentado nos folhetos, que vão direto para a sacolinha de lixo. Outros contam que só pegam os papéis para ajudar os que têm a missão de ficar livre do material até o final do dia.

Para alguns condutores, a panfletagem nos carros é um tormento que só serve para sujar a cidade. "Não aguento receber tanta propaganda", diz o empresário Carlos de Andrade, 41, que passa obrigatoriamente pela avenida Getúlio Vargas, todos os dias, a caminho do trabalho. Como ele, alguns motoristas adotam a estratégia de fechar os vidros para evitar a abordagem. "Fecho o vidro porque me sinto incomodada. Não vou ficar carregando lixo no meu carro", conta a funcionária pública Isabel Castro, 36.

O aposentado Antônio Silva Resende, 60, faz parte do grupo que vê o trabalho como um sacrifício e que deve ser apoiado. "É um trabalho como outro qualquer e, por isso, devemos colaborar e respeitar. Não custa nada ajudar quem está trabalhando de sol a sol", diz. Para motoristas como o estudante Flávio Carvalho, 21, ser abordado não é incômodo algum. "Até paquero as meninas quando são bonitas".



Contratação

`Panfleteiro´ precisa de boa aparência e simpatia

Beleza, simpatia e descontração são itens quase obrigatórios na hora de contratar os chamados “panfleteiros”. Segundo Paulo Furquim, proprietário da empresa MG Art, que faz esse tipo de trabalho, a publicidade feita nas ruas garante um resultado rápido para as empresas. “Temos clientes variados que buscam por uma resposta rápida. Contratamos conforme a solicitação, mas pedimos sempre moças e rapazes de boa aparência e que saibam conversar”.

Segundo o empresário, o serviço de panfletagem tem sido cada vez mais procurado em Belo Horizonte. Ele não forneceu números sobre o crescimento do setor. “Observamos que os clientes que contratam o serviço uma primeira vez acabam gostando do resultado e contratando de novo”.

Para a publicitária e proprietária da empresa Bendita Comunicação, Ingrid Gomes, a panfletagem é geradora de empregos, principalmente para jovens. “Temos como funcionários jovens entre 18 a 24 anos”.

Os donos das empresas concordam, no entanto, que a resistência à abordagem é grande. “Infelizmente muitas pessoas não têm respeito por esse trabalho. Julgam que os trabalhadores são jovens desocupados”, explica Furquim.

O empresário conta que além de ignorar a entrega dos panfletos, muitos motoristas ainda assediam as moças que distribuem a propaganda.

A capital conta atualmente com cinco grandes empresas especializadas nesse tipo de trabalho. A região Centro-Sul e a avenida Cristiano Machado, por onde passam 80 mil veículos diariamente, são os principais focos de distribuição de panfletos. (GS)

Arquivo INFOTRANSP