25 setembro 2010

Conhecer o Porto em cima de um Segway

 
 
25 de Setembro, 2010
 
Por Susana Branco (texto) e Humberto Almendra
 
Descobrimos o Porto Património Mundial num passeio rolante de quatro horas que incluiu curiosidades, enigmas e surpresas. Foi a revelação do lado lúdico desta 'mui nobre e sempre leal Cidade Invicta'.
Os seis Segways encostados à paragem de autocarro, na Trindade, não deixam dúvidas. É aqui, junto à estação de metro, que começa o Original Segway Tour e a escolha do local não foi por acaso. «Este largo plano é ideal para fazermos um pequeno treino inicial», justifica Bruno Silva. Nas quatro horas seguintes é ele quem nos vai guiar «por esta cidade empoleirada sobre o rio, que salta entre as colinas e se balança no topo dos morros de granito», como resume.

Enquanto distribui os Segway - baptizados com nomes como Lara Croft, Lucky Luke e Astérix -, Bruno lança o desafio ao pequeno grupo, em português. «Mesmo para os portuenses, como vocês, há sempre algo de novo para descobrir. Vamos ver se sabem mesmo tudo sobre o Porto!».

Mais do que um meio de transporte, o Segway é uma extensão do nosso corpo. Intuitivo, move-se e direcciona-se consoante a inclinação que lhe damos. Os cerca de 20 minutos de treino foram suficientes para nos familiarizarmos com este «varapau de duas rodas», como lhe chamou o guia.

Às dez da manhã, três bicicletas partem da Trindade. Ângelo André aproveita para apresentar a nova empresa que se propõe oferecer tours originais: «A Bluedragon nasceu há três meses e o nosso intuito é dar a conhecer a cidade de uma forma diferente da habitual visão panorâmica de autocarro ou recorrendo a um guia que parece repetir sempre a mesma cassete perante grupos enormes. Não queremos dar aulas de História nem proferir monólogos, mas interagir com os turistas, em grupos pequenos», adianta o responsável.

Arrancámos e a circulação de ar refrigerou ligeiramente a temperatura bem quente da manhã. Em frente aos Paços do Concelho, no topo da Avenida dos Aliados - a principal - Bruno apresentou-nos a cidade classificada pela Unesco em 1996 como Património da Humanidade e as três esculturas que ali moram: «Sentado em frente à Câmara está Almeida Garrett, mais abaixo temos uma alegoria à abundância numa representação de crianças em cima de frutos e a seguir está a estátua da Juventude ou Menina dos Aliados. Trata-se de Lelinha, uma conhecida dama de companhia dos nobres da cidade do século XX», conta.

Foi no dia 31 de Janeiro de 1891, na sequência das reacções ao Ultimato Britânico por causa das disputas coloniais entre Portugal e Inglaterra, que na Praça da Liberdade, a partir da varanda da Câmara Municipal (que à época se situava no actual Palácio das Cardosas), Alves da Veiga proclamou pela primeira vez a República. Mesmo ao lado de D. Pedro IV - a segunda estátua mais valiosa do país - também nós fizemos uma pequena revolta republicana: «Viva a República!», gritou Bruno e à resposta colectiva juntou-se um «Viva» de um portuense mais interessado no Segway do que em História. Episódio que, com nuances, se repetiu constantemente à nossa passagem. À saída da Estação de S. Bento, onde ficámos a saber o número de azulejos que a compõem (20 mil), alguém gritava à boa moda do Porto: «Tens a porta aberta!».

No Terreiro da Sé, ladeados por um dos bairros da cidade que ainda preserva as suas características
medievais, explorámos alguns enigmas da catedral e seguimos rumo ao troço mais refrescante da viagem: a travessia do tabuleiro superior da Ponte Luís I. Já do lado de Gaia, no alto da Serra do Pilar, desfrutámos da panorâmica.

De volta ao Porto, espreitámos o tesouro escondido de talha dourada no Mosteiro de Santa Clara, e tomámos um café no emblemático Majestic. Do relógio do edifício da FNAC saíram Camilo Castelo Branco, S. João, Almeida Garrett e o Infante D. Henrique para assinalar o meio-dia. Parados, os turistas fotografavam o momento que surpreendeu totalmente um dos portuenses do grupo.
Montados no Segway ficámos mais altos e continuámos a percorrer a cidade, pelos passeios e rampas, atentos aos toldos das lojas e sobre diferentes pisos, ora trepidantes, ora mais lisos. À porta do Bolhão sentimos os cheiros de fruta, legumes e flores e escutámos o pregão das 'vendedeiras'. Como um marcador de leitura, assinalámos a Livraria Lello e na loja A Vida Portuguesa revisitámos algumas das memórias vivas do passado. Na conhecida Praça dos Leões, na verdade Praça Gomes Teixeira, descobrimos a casa mais pequena do Porto e junto aos Clérigos ouvimos a história que ficou conhecida por Um Chá nas Nuvens: «Em 1917 dois artistas circenses espanhóis escalaram esta torre, sem qualquer ajuda, e lá no alto da cruz numa bandeja com um bule e duas chávenas tomaram chá. Na realidade esta foi uma grande operação de marketing de lançamento das bolachas Invicta», revela o nosso guia.

Numa versão light de todo-o-terreno, atravessámos o Jardim da Cordoaria e descemos até ao rio pela Rua da Restauração e lado a lado com o Douro alcançámos a colorida Ribeira. Descemos então do Segway e, com alguma dificuldade, voltámos a ser peões comuns.



http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=835

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