25 setembro 2010

São Paulo não suporta mais carros

 

Leia artigo do diretor da Urban Systems, sobre a imobilidade na rude paulicéia

Rotina: trânsito parado na Marginal do Pinheiros, em São Paulo (crédito: Arquivo)
 
Thomaz Assunção*

postado em 23/09/2010
 
O paulistano passa, em média, 11,25% do seu dia no trânsito para trabalhar, estudar ou se divertir. Não é à toa que recente estudo da IBM Commuter Pain coloca a capital como sexta pior cidade do mundo para se transitar. Em São Paulo é grande a porcentagem – maior que em Pequim, Cidade do México ou Nova Deli – de pessoas que topariam trabalhar mais se gastassem menos tempo em deslocamento.

E a situação só tende a piorar, já que o número de carros tende a aumentar proporcionalmente ao crescimento do poder aquisitivo da população. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a frota de veículos da capital paulista já ultrapassou os 6 milhões de unidades e apenas em 2009 mais 223 mil carros foram emplacados. Os números são considerados altos até por especialistas, que apontam a falta de estrutura e de planejamento para acompanhar esse crescimento como as grandes culpadas pelo caos que se aproxima.

A situação do trânsito paulistano está bem próxima a um limite intransponível: a cidade simplesmente não suporta mais tantos carros

Uma opção para a cidade é apostar com mais força no transporte público. De acordo com a pesquisa "Nossa São Paulo/Ibope - Dia Mundial Sem Carro 2010”, 52% da população está disposta a usar o transporte público, 12% a mais que o número registrado no ano passado. O relatório mostra que esse movimento já começou, timidamente: de 2008 para cá, a quantidade de motoristas que usam o carro quase todos os dias caiu de 30% para 26%. E mais: sete em cada dez (76%) se dizem dispostos a deixar de usar o carro quando houver uma boa alternativa de transporte público.

Infelizmente, parece que essa “boa alternativa” está longe de chegar. A pesquisa do Ibope revelou que a população avalia negativamente o serviço de ônibus municipal. Ao dar notas de 0 a 10, os entrevistados reprovaram a lotação dos coletivos (nota média de 3,4), a acessibilidade para pessoas com deficiência (nota 3,8), o preço da passagem (nota 4) e o tempo de espera nos pontos de ônibus (nota 4,3).

A expansão do metrô também não representa uma potencial melhoria. Especialistas em engenharia de tráfego defendem que o projeto o Expansão SP do metrô terá impacto pouco significativo na diminuição da densidade de passageiros. Isso porque existe a previsão, realizada pelo próprio Expansão SP, de que a demanda aumente em 55% nos próximos anos. O metrô de São Paulo já é um dos mais densos do mundo, e conta hoje com 11,6 milhões de usuários transportados anualmente por quilômetro de linha. E, em breve, terá que carregar o dobro dos 3,5 milhões de passageiros que circulam diariamente só nas linhas Azul, Verde e Vermelha.

Para efetivamente reduzir o trânsito –e mesmo o número de usuários do metrô e de outros sistemas de transporte público–, São Paulo precisa repensar seu modelo urbanístico para viabilizar o desenvolvimento de novas centralidades equilibradas, com opções de residência, trabalho, saúde, educação e lazer. As regiões conhecidas como cidade-dormitório são deixadas diariamente por milhares de pessoas que vão trabalhar em outras partes da cidade. E justamente nessas áreas o valor dos terrenos costuma ser ainda bastante inferior ao praticado em outras vizinhanças mais cobiçadas pelo mercado imobiliário.

Quando os investidores perceberem essa vantagem competitiva e o quanto podem melhorar a qualidade de vida dos paulistanos ao investir na descentralização da cidade, estaremos todos um passo mais próximos de uma reconfiguração urbana que vai efetivamente desafogar o caótico trânsito paulistano. Como disse o guru da propaganda Dan Bellack, a vida é muito curta para gastar tempo em engarrafamentos...
http://www.copa2014.org.br/noticias/5337/SAO+PAULO+NAO+SUPORTA+MAIS+CARROS+E+O+METRO+ESTA+EM+COLAPSO.html

Arquivo INFOTRANSP