27 agosto 2011

Como é viver em Porto Alegre, a capital do pleno emprego

Com salário de R$ 4 mil, azulejista perdeu as contas das vezes em que teve de parar o serviço para recusar ofertas de trabalho


Chamado pelo chefe no meio do serviço, Claiton Silva Vargas desceu contrariado nove lances de escadas do prédio em construção, no centro de Porto Alegre. Desde que assinou a carteira com uma construtora em dezembro, com salário mensal de até R$ 4 mil, o azulejista de 28 anos perdeu as contas do número de vezes que teve de parar o serviço para negar ofertas de trabalho. “Já estava pensando o que falaria desta vez”, disse, aliviado, ao saber que não precisaria inventar desculpas ao encontrar a reportagem do iG.


 
O azulejista Claiton: assédio diário de empregadores

Como Claiton, o assédio é corriqueiro sobre os trabalhadores da construção civil, um dos setores responsáveis por manter o desemprego da região metropolitana de Porto Alegre entre os menores do País. Segundo a última pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de julho, a capital gaúcha aparece com um índice de 4,7%, ao lado de Belo Horizonte.

O resultado de Porto Alegre é 1,3 ponto percentual inferior à média nacional. O desemprego da metrópole gaúcha e dos 32 municípios dos seus arredores foi o menor nos primeiros seis meses do ano, colocando a cidade próxima da condição do pleno emprego - conceito utilizado por economistas para definir locais onde praticamente grande parte da população economicamente ativa está ocupada.

Segundo especialistas, o Brasil teria pleno emprego quando os indicadores de desemprego ficarem na faixa entre 5% e 6%.

Em dezembro, quando Claiton deixou a vida de autônomo e viu sua renda mensal dobrar com o novo emprego, o índice de Porto Alegre havia atingido 3%.

Foi a menor taxa de desocupação alcançada entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas desde que a série começou a ser feita na década de 1980. “Estamos próximos de um cenário de pleno emprego, no qual as taxas de desemprego são consideradas friccionais (quando o trabalhador fica fora do mercado de trabalho por um curto período)”, diz o economista Flávio Fligenspan, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O desemprego friccional é considerado uma condição natural, uma vez que sempre existirá um nível de desocupação na economia por conta dos trabalhadores que estão trocando de função ou em busca de novas oportunidades. “É inegável que se trata de uma situação muito privilegiada em termos históricos”, diz Fligenspan.

Uma conjunção de fatores conjunturais e estruturais torna a região metropolitana mais meridional do país um dos símbolos da fatura de emprego – alguns deles com características muito singulares.

Além de aproveitar o bom momento da economia brasileira, o Rio Grande do Sul tem polos industriais espalhados pelo Estado e não concentrados ao redor da metrópole.

Ao contrário de outros Estados, os movimentos migratórios em busca de emprego no Rio Grande do Sul não miram a capital e arredores, mas outras regiões como a serra gaúcha e o Norte.

O município de Caxias do Sul, na Serra, é o campeão em atração de novos migrantes, segundo dados do IBGE. Por isso, segundo economistas, a situação do pleno emprego da cidade é tão particular. Sem os migrantes e os desempregados que rondam zonas industriais das demais capitais brasileiras, Porto Alegre e região apresentam maior equilíbrio entre a oferta de trabalho e a demanda por emprego.

Arquivo INFOTRANSP