08 agosto 2011

Acidente põe em destaque dívidas do setor ferroviário da China .

Atolado em dívidas, o Ministério das Ferrovias da China, sob ataque depois da fatal colisão de trens do mês passado, pode precisar do socorro financeiro do governo central e terá dificuldade para levantar novos fundos, preveem analistas — o que suscita ainda mais preocupação com o sistema de trens de alta velocidade do país.
CTRAIN
A construção de uma rede de trens velozes foi um pilar do plano de estímulo econômico da China para combater a crise financeira mundial. Liderada por empréstimos de bancos comerciais, a dívida do Ministério das Ferrovias chinês subiu para centenas de bilhões de dólares — dinheiro basicamente usado para acelerar a construção da rede de alta velocidade, que Pequim anunciou como de categoria mundial.

O drama da dívida do setor ferroviário é parte das sequelas maiores do pacote de estímulo que hoje começam a pesar sobre o governo chinês e poderiam colocar em dúvida a estrutura financeira — e não só padrões de segurança — de um setor que, esperava a China, poderia se tornar uma grande fonte de exportação.

Segundo analistas, a revolta pública causada pela colisão de dois trens de alta velocidade no dia 23 de julho — que matou 40 pessoas e deixou 191 feridas — provavelmente enfraqueceu o poderoso Ministério das Ferrovias, único órgão estatal chinês fora o Ministério da Fazenda com permissão para emitir títulos — aos olhos do próprio governo e de investidores. Isso, por sua vez, está nutrindo dúvidas sobre sua capacidade de levantar mais fundos para cobrir a dívida atual e para dar continuidade à construção da badalada rede de alta velocidade — e levando alguns a pedir a reestruturação do ministério ou sua abolição.

"Em vista da atenção que o acidente atraiu para as práticas de gestão [do Ministério das Ferrovias], pode levar um tempo para que [o ministério] possa voltar aos mercados de dívida", disse o economista do banco Standard Chartered num relatório de pesquisa. "Vai haver dificuldade de financiamento e, inevitavelmente, um aumento da pressão para o pagamento de juros".

Green disse duvidar que o fluxo de caixa de operações do ministério tenha folga suficiente para cobrir o pagamento de juros da dívida. Ele e outros analistas disseram que o Ministério das Finanças provavelmente terá de intervir a certa altura com uma injecção de capital.

O Ministério das Ferrovias da China não respondeu a um pedido de esclarecimentos.

Para o governo central, o drama do ministério veio agravar a preocupação com a dívida do plano de estímulo. Entidades especiais de financiamento criadas por governos locais também acumularam dívidas enormes — cerca de US$ 1,65 trilhão, ou 27% do PIB da China no ano passado, de acordo com estimativas de junho do Escritório Nacional de Auditoria do país. Em estimativas do setor privado, esse total é maior.

Embora poucos questionem a capacidade do governo de cobrir a dívida, analistas alertam que a carga poderia desviar fundos de outras prioridades fiscais e onerar bancos estatais chineses com empréstimos ruins.

Arquivo INFOTRANSP