SÃO PAULO - Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprova que apesar de o transporte público ainda ser o principal meio de mobilidade no Brasil, utilizado por 44,3% da população, o avanço na frota de veículos causa congestionamentos que já afetam, ao menos uma vez por mês, 66,6% dos brasileiros. Entre 2000 e 2010, a frota de automóveis cresceu 83,5%, passando de 20 milhões para 36,7 milhões. A baixa qualidade dos transportes públicos, aliada à melhora de renda da população, resulta em um crescimento galopante na frota de veículos particulares.
Engarrafamentos, ônibus lotados, pouca ou nenhuma interligação entre meios de transporte, custo elevado e baixo conforto são características bastante conhecidas pelos usuários de transporte público no Brasil. A pesquisa do Ipea comprova esta percepção ao mostrar que 70% dos brasileiros qualifica o transporte público como regular, ruim e muito ruim.
" O estudo revela que os avanços econômicos desta década foram convergentes com decisões de transporte individuais "
- O estudo revela que os avanços econômicos desta década foram convergentes com decisões de transporte individuais. O transporte coletivo cresceu bem menos que a aquisição de veículos. No entanto, a população mostra-se interessada em usar o transporte público. Opta pelo transporte individual pela falta de qualidade. No curto prazo, a ênfase no transporte individual pode ser menos onerosa ao poder público. Mas no longo prazo representa um custo elevado, inclusive de qualidade de vida e produtividade - avalia Marcio Pochmann, presidente do Ipea, que defende a elaboração de uma política nacional de transporte coletivo, cujo foco seja trem, metrô e VLT (veículo leve sobre trilhos).
Outro dado interessante revelado pelo estudo é que, numa média mensal, cada cidadão gasta com transporte o mesmo que gasta com alimentação no dia a dia.
Apresentado pelo presidente do Ipea, Marcio Pochmann, o Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) de mobilidade urbana revela também os contrastes nos tipos de transporte de cada região brasileira. Quase 50% das pessoas que andam de ônibus no país estão na região Sudeste - onde 50,7% da população têm no transporte público seu principal meio de deslocamento - enquanto 45,5% daqueles que utilizam bicicleta moram na região Nordeste. Da mesma forma, 43,4% dos utilizadores de motocicleta também estão no Nordeste.
- Houve uma mudança de ponto de vista da composição da frota. Em 2000, os automóveis eram 62,7% do total de veículos no Brasil. As motos eram 13,3%. Agora, em 2010, os automóveis são 57,5%, contra 25,2% das motos, afirmou Pochmann. - Para cada ônibus novo surgido colocado em circulação nos últimos dez anos, apareceram 52 automóveis, continuou o presidente do Ipea.
Um dos dados citados na apresentação do estudo, retirado da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), revelou o crescimento dos gastos com transporte no País. Passou de 18,7% no ano 2000 para 20,1%, enquanto a alimentação caiu de 21,1% para 20,2% no mesmo período.
Em relação à segurança, 32,6% declararam que não se sentem seguros nunca ou se sentem apenas raramente no meio de transporte que mais utilizam.
Pochmann concluiu que a expansão da frota brasileira na última década se deu especialmente por meio de motos e automóveis.
- Houve crescimento no transporte coletivo, mas não na mesma proporção. A população tem interesse em usar o transporte público, mas ainda precisa identificá-lo mais com características de rapidez, melhor preço e segurança. Há espaço para ação em matéria de políticas públicas, disse.
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/01/24/pesquisa-do-ipea-revela-que-congestionamentos-afetam-66-6-dos-brasileiros-923591646.asp