25 janeiro 2011

Gasto com transporte é igual a despesa com alimentação, diz Ipea



Em 2010, despesa do brasileiro com este serviço chegou a 20,1%. á o gasto com alimentação caiu de 21,1% para 20,2% em 10 anos
 
O Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Mobilidade Urbana, divulgado nesta segunda-feira (24), em São Paulo, mostra que o gasto do brasileiro com transporte público cresceu nos últimos anos e que, atualmente, é praticamente igual a despesa com alimentação.

Em 2000, o gasto com transporte público abocanhava 18,7% das despesas do cidadão, em média. Em 2010, chegou a 20,1%, enquanto a alimentação caiu de 21,1% para 20,2% no mesmo período.

Este dado citado na apresentação do estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi retirado da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o IBGE, entre 2002 e 2003, o brasileiro gastava mensalmente R$ 423,20 com alimentação. Em 2008/2009, a despesa com comida caiu para R$ 421,70. Já com transporte, o gasto médio passou, no mesmo período analisado, de R$ 375,90 para R$ 419,20.

A pesquisa sobre mobilidade urbana indica que 44,3% da população brasileira tem no transporte público seu principal meio de deslocamento. Na região Sudeste, o percentual chega a 50,7%. Apesar da importância desse tipo de transporte, a quantidade de ônibus em circulação no Brasil cresceu menos, de 2000 a 2010, que a quantidade de veículos particulares.

Atualmente, há um ônibus para cada 427 habitantes, e, em 2000 era um para 649 pessoas. Em relação aos carros, a proporção hoje é de um automóvel para cada 5,2 habitantes, enquanto há dez anos era de 8,5.

Insatisfeitos

Em contrapartida, a qualidade do transporte público foi avaliada como ruim por 19,2% das pessoas pesquisadas e muito ruim por outros 19,8%. O percentual de insatisfeitos, desta forma, atinge 39% da população brasileira. Para 26,1%, o transporte público é bom e para apenas 2,9%, muito bom, em um total de 29%. O transporte público é considerado regular para 31,3% da população.

Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea, o SIPS revela também os contrastes nos tipos de transporte de cada região brasileira. Quase 50% das pessoas que andam de ônibus no país estão na região Sudeste, enquanto 45,5% daqueles que utilizam bicicleta moram na região Nordeste. Da mesma forma, 43,4% dos motociclistas também estão no Nordeste.

“Houve uma mudança de ponto de vista da composição da frota. Em 2000, os automóveis eram 62,7% do total de veículos no Brasil. As motos eram 13,3%. Agora, em 2010, os automóveis são 57,5%, contra 25,2% das motos”, afirmou. “Para cada ônibus novo surgido colocado em circulação nos últimos dez anos, apareceram 52 automóveis”, completou.

Congestionamentos

O estudo traz também dados sobre a quantidade de pessoas afetadas por congestionamentos em cada região do Brasil. No geral, 69% dos cidadãos disseram que enfrentam engarrafamentos nas cidades. Surpreendentemente, 26,2% dos entrevistados da Região Norte afirmaram que enfrentavam congestionamentos mais de uma vez por dia, índice superior ao da Região Sudeste, com 21,6%, e da Sul, com 21,9%. No Brasil, a média é de 20,5%.

“O congestionamento, fator que compromete a ida e vinda dos cidadãos para o trabalho, é percebida com similaridades nas cinco regiões do País, revelando as consequências da qualidade precária dos meios de transportes públicos em conglomerados urbanos”, afirma estudo em sua conclusão.

Pochmann concluiu que a expansão da frota brasileira na última década se deu especialmente por meio de motos e automóveis. “Houve crescimento no transporte coletivo, mas não na mesma proporção. A população tem interesse em usar o transporte público, mas ainda precisa identificá-lo mais com características de rapidez, melhor preço e segurança. Há espaço para ação em matéria de políticas públicas”, disse.
 

Arquivo INFOTRANSP