25 janeiro 2011

De carona no descaso do transporte urbano

O transporte público é o meio de transporte mais usado pelos brasileiros dentro das cidades. Segundo a Pesquisa do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 43,4% da população usa ônibus, metrô ou outros meios coletivos para se locomover. No entanto, uma histórica falta de estrutura no sistema faz com que parte da população opte por andar em seus próprios veículos.

O publicitário Ronaldo Santos usa ônibus ou metrô diariamente para ir de sua casa, em Taguatinga, Brasília, até o trabalho no Setor Comercial Norte. Mesmo morando perto de uma estação de metrô e com a dificuldade que há para estacionar na Asa Norte, ele pretende comprar um carro até maio e se juntar aos cerca de 1,3 milhões de veículos que já circulam no Distrito Federal. ´Hoje, vejo que a saída é pagar por estacionamento. Colocando na balança, vale a pena gastar mais para vir de carro do que enfrentar chuva, sol e demora de ônibus`, compara.

Para o diretor-superintendente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Marcos Bicalho dos Santos, falta no país uma política de mobilidade urbana que dê prioridade ao transporte público. Segundo Bicalho, uma série de medidas tomadas no Brasil ao longo dos últimos anos incentivou o uso dos automóveis. ´Nós tivemos subsídio ao preço da gasolina, depois ao preço dos veículos, das motocicletas, que causou essa explosão na frota, sem que o sistema viário das cidades tivesse condições de suportar esse aumento`, explica.

O crescimento da frota de veículos particulares afeta a qualidade do serviço de transporte público, principalmente de ônibus, segundo Bicalho. Ele defende que a maior quantidade de carros nas ruas, sem a preparação viária adequada, acaba causando mais congestionamentos e reduz a produtividade das empresas. ´Uma viagem que se fazia em 10 minutos passa a durar duas horas. Para manter o mesmo intervalo exige-se um aumento da frota, de motoristas, cobradores. Com isso, os custos sobem mais do que em processos inflacionários normais`.

Rapidez, variedade de horários e pontualidade são fatores importantes para a escolha dos usuários. A Região Sudeste, segundo os dados do Ipea, é a única do país em que mais da metade dos entrevistados (50,7%) usa transporte público como principal meio para se deslocar. E os números mostram que a escolha dos usuários pode estar relacionada à qualidade do serviço prestado, uma vez que a região é, também, a que tem a maior porcentagem de pontualidade apontada pelos passageiros: 51,5% afirmam que o transporte está no horário.

O país tem, hoje, 46 cidades com mais de 500 mil habitantes que precisam ter resolvidos os problemas crônicos de transporte. Em 12, está sendo implantado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da modalidade urbana, devido à Copa do Mundo de 2014, com projetos de mobilidade brasileiros usados em 80 países, mas não foram desenvolvidos aqui. ´Temos experiências da década 1970, por exemplo, em Curitiba, onde há o BRT (Bus Rapid Trans) com o objetivo de priorizar o transporte coletivo. Agora o governo federal acordou, após praticamente duas décadas ausente no setor. Acredito que é apenas um primeiro passo para reverter essa crise`, diz Bicalho. 





http://www.diariodepernambuco.com.br/2011/01/25/brasil6_0.asp

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