O já tradicional congestionamento na região do túnel que liga as Avenidas Paulista e Dr. Arnaldo |
Dayanne Sousa
"Vai chegar o dia em que andar de carro será impossível e que o metrô será tão caro que só os ricos vão se locomover". Num exagero bem-humorado, o professor Witold Zmitrowicz alerta para o que São Paulo mais precisa na semana em que ela completa 457 anos. Zmitrowicz é ex-diretor de planejamento da prefeitura, e, junto com outros especialistas, comentou para Terra Magazine o que pode tirar da Paulicéia a fama de caótica.
Este ano, começa um plano da prefeitura em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) para planejar como a cidade deve ser em 2040. O ponto crítico e repetido por todos: as pessoas não podem mais passar horas para ir de casa ao trabalho.
Atualmente, a maioria da população paulistana vive na Zona Sul (em bairros como o Campo Limpo e Parelheiros): mais de dois milhões de habitantes segundo dados da SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) de 2009. No centro vivem pouco mais de 340 mil pessoas, mas é em seus arredores que há a maior oferta de equipamentos públicos e empregos. Uma viagem do Campo Limpo à Sé usando ônibus e metrô chega a durar cerca de duas horas nos horários de pico.
"Hoje São Paulo não tem apenas um centro concentrador, temos vários", argumenta Domingos Pires, diretor da São Paulo Urbanismo, ligada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. São grandes avenidas como a Paulista ou a Faria Lima que concentram a maior parte dos escritórios. O objetivo para os próximos 30 anos, conta, é tornar cada bairro um espaço completo, com moradia, lazer e emprego. "Mais do que fazer as pessoas morarem perto do local de trabalho, precisamos humanizar os bairros e dar qualidade de vida", pondera o professor James Wright, coordenador do projeto para 2040 que a USP levará à prefeitura.
Lições do passado
O novo plano para daqui a 30 anos chega ao mesmo tempo em que o prefeito Gilberto Kassab diminuiu metas que ele mesmo criou para sua gestão. Reduziu de 120 mil para 85 mil o número de famílias a serem beneficiadas pelo programa de urbanização de favelas, por exemplo.
Da sua experiência de mais de 25 anos na gestão pública, Zmitrowicz sustenta: "muitas vezes esses planos ficam para trás diante das vantagens financeiras e políticas do momento". Ele conta que uma série de projetos criados nos anos 70 para agilizar a locomoção na cidade não foram em frente por conta da especulação imobiliária.
Uma das ideias envolvia um anel que ligasse uma série de vias importantes da cidade. "Seria como uma rodovia cortando a Avenida Brasil", conta. Mas se optou por ligações apenas por meio de avenidas porque elas permitem mais espaço e atenção a comerciantes e a novos negócios. Isso explica o porque a ligação de zonas mais distantes com o centro foi feita de forma periférica, a partir das marginais dos Rios Tietê e Pinheiros. "As marginais foram o que permitiu a interligação de áreas distantes, o problema são as enchentes, nem os piscinões dão conta mais".
Para James Wright, a pressão que um plano de longo prazo como o para 2040 causará nos administradores deve impedir esse tipo de decisão que política que muda a cada administração, mas que deixa suas marcas na cidade.
"O que nós precisamos é do controle das coisas e os políticos não gostam muito disso", critica Zmitrowicz. Professor do prefeito Kassab na Escola Politécnica da USP, ele prefere ser otimista.
- O melhor para a cidade é o planejamento racional. Enquanto estiverem a política de um lado e o dinheiro do outro, a racionalidade vai para o brejo. Eu acredito na racionalidade.