01 junho 2013

Novo conceito de mobilidade nas grandes cidades entra em debate


Os constantes congestionamentos nas grandes cidades e o impacto ambiental da movimentação de uma frota de milhões de veículos farão com que novas opções ao transporte por automóveis se desenvolvam. 

Essa tendência foi apontada durante o seminário Sustentabilidade e Mobilidade Urbana, realizado pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) TodaVida, na sexta-feira, em Porto Alegre.

O coordenador do Programa de Extensão Ciclovida da Universidade Federal do Paraná, José Carlos Assunção Belotto, acredita que a realidade atual pode começar a mudar através do ambiente universitário. 

Ele destaca que esse é um espaço frequentado por um público formador de opinião e jovem. Além disso, o tema da mobilidade sustentável tem se inserido no meio acadêmico, com o desenvolvimento de pesquisas.

Belotto defende que as universidades precisam estar na vanguarda do movimento de transformação que a sociedade deverá adotar. “O que vivemos hoje é uma cultura do automóvel e, por consequência, ela também acompanha os técnicos que trabalham na questão do trânsito e políticos”, salienta o coordenador do Ciclovida. 

Ele pondera que, se foi a sociedade que criou o problema, ela também tem condições de resolvê-lo. 

No entanto, Belotto admite que se trata de um processo lento, pois a economia precisa girar e a indústria automobilística exerce uma importante função nesse sentido.

O coordenador do Ciclovida diz que, aos poucos, a humanidade terá que dar valor a atividades menos poluidoras, que afetem menos a qualidade de vida no planeta. “O automóvel chegou a um ponto que tem que ter seu uso repensado, não somos contra as pessoas terem carro, mas que o utilizem com moderação”, ressalta Belotto. 

Ele sugere que seja mais bem aproveitado o espaço dentro do carro, evitando que o veículo transporte apenas uma pessoa, que distâncias curtas sejam percorridas a pé ou com bicicletas, assim como a utilização do transporte coletivo. 

Sobre o automóvel ainda ser um bem de consumo muito desejável, Belotto não descarta a possibilidade de isso mudar. 

Ele recorda que o ex-prefeito de Curitiba e governador do Paraná Jaime Lerner já declarou que o carro é o cigarro do futuro. 

O coordenador do Ciclovida salienta que, há 30 anos, nunca se imaginaria que se proibiria o fumo dentro de cinemas, ônibus, restaurantes etc. 

Para ele, o automóvel acabará “matando” a eficiência do próprio automóvel, que seria o usuário mover-se com rapidez e não se estressar com o deslocamento. 

Essas vantagens estão desaparecendo devido ao acúmulo de carros nas vias urbanas. Belotto enfatiza também que a indústria automobilística está preocupada com o comportamento da juventude europeia, que não pensa que seja tão importante acumular bens e prefere gastar com cultura e viagens.

Para o coordenador do Ciclovida, o segredo de uma mobilidade adequada é ter várias opções de transporte (coletivo, bicicletas etc). 

Ele ainda alerta que, se a ideia for querer enfrentar os congestionamentos alargando ruas, isso será como combater a obesidade soltando o cinto. Haverá um conforto momentâneo, porém a causa do problema não será superada e o “cinto” logo voltará a apertar. 

O professor do Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran) da Ufrgs Fernando Dutra Michel diz que o carro continua sendo um sonho de consumo da população.

“A grande dificuldade é como o automóvel vai circular”, adverte o professor. 

Ele concorda que o ideal é trabalhar no “como” usar o automóvel. 

O especialista reforça que é preciso desenvolver uma cultura sobre isso e acrescenta que os alunos das universidades estão demonstrando preocupação com a sustentabilidade no setor de transportes. 

Michel cita a bicicleta como uma boa alternativa que vem surgindo. 

Ele afirma que Porto Alegre tem condições de implementar um conjunto de ciclovias que permita condições de mobilidade para todos. 

A presidente da Oscip TodaVida, a engenheira Ligia Miranda, crê que, se a sociedade cobrar, é possível expandir as ciclovias, melhorar as calçadas e utilizar o transporte hidroviário. 

Ela argumenta que a desaceleração da indústria automobilística seria compensada com o crescimento dos segmentos de ônibus, trens, entre outros. “O carro não é o vilão, mas, sim, o mau uso; é preciso integrar e tornar seguros todos os meios de transportes”, diz Ligia. 

Ela defende que sejam dadas opções de vários meios de transporte coletivo para “caber no bolso de cada um”, atraindo públicos com diferentes condições financeiras.

Arquivo INFOTRANSP