Os constantes
congestionamentos nas grandes cidades e o impacto ambiental da
movimentação de uma frota de milhões de veículos farão com que novas
opções ao transporte por automóveis se desenvolvam.
Essa tendência foi
apontada durante o seminário Sustentabilidade e Mobilidade Urbana,
realizado pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(Oscip) TodaVida, na sexta-feira, em Porto Alegre.
O coordenador do Programa de Extensão Ciclovida
da Universidade Federal do Paraná, José Carlos Assunção Belotto,
acredita que a realidade atual pode começar a mudar através do ambiente
universitário.
Ele destaca que esse é um espaço frequentado por um
público formador de opinião e jovem. Além disso, o tema da mobilidade
sustentável tem se inserido no meio acadêmico, com o desenvolvimento de
pesquisas.
Belotto defende que as universidades precisam
estar na vanguarda do movimento de transformação que a sociedade deverá
adotar. “O que vivemos hoje é uma cultura do automóvel e, por
consequência, ela também acompanha os técnicos que trabalham na questão
do trânsito e políticos”, salienta o coordenador do Ciclovida.
Ele
pondera que, se foi a sociedade que criou o problema, ela também tem
condições de resolvê-lo.
No entanto, Belotto admite que se trata de um
processo lento, pois a economia precisa girar e a indústria
automobilística exerce uma importante função nesse sentido.
O coordenador do Ciclovida diz que, aos poucos, a
humanidade terá que dar valor a atividades menos poluidoras, que afetem
menos a qualidade de vida no planeta. “O automóvel chegou a um ponto
que tem que ter seu uso repensado, não somos contra as pessoas terem
carro, mas que o utilizem com moderação”, ressalta Belotto.
Ele sugere
que seja mais bem aproveitado o espaço dentro do carro, evitando que o
veículo transporte apenas uma pessoa, que distâncias curtas sejam
percorridas a pé ou com bicicletas, assim como a utilização do
transporte coletivo.
Sobre o automóvel ainda ser um bem de consumo
muito desejável, Belotto não descarta a possibilidade de isso mudar.
Ele
recorda que o ex-prefeito de Curitiba e governador do Paraná Jaime
Lerner já declarou que o carro é o cigarro do futuro.
O coordenador do
Ciclovida salienta que, há 30 anos, nunca se imaginaria que se proibiria
o fumo dentro de cinemas, ônibus, restaurantes etc.
Para ele, o
automóvel acabará “matando” a eficiência do próprio automóvel, que seria
o usuário mover-se com rapidez e não se estressar com o deslocamento.
Essas vantagens estão desaparecendo devido ao acúmulo de carros nas vias
urbanas. Belotto enfatiza também que a indústria automobilística está
preocupada com o comportamento da juventude europeia, que não pensa que
seja tão importante acumular bens e prefere gastar com cultura e
viagens.
Para o coordenador do Ciclovida, o segredo de
uma mobilidade adequada é ter várias opções de transporte (coletivo,
bicicletas etc).
Ele ainda alerta que, se a ideia for querer enfrentar
os congestionamentos alargando ruas, isso será como combater a obesidade
soltando o cinto. Haverá um conforto momentâneo, porém a causa do
problema não será superada e o “cinto” logo voltará a apertar.
O
professor do Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran) da Ufrgs
Fernando Dutra Michel diz que o carro continua sendo um sonho de consumo
da população.
“A grande dificuldade é como o automóvel vai
circular”, adverte o professor.
Ele concorda que o ideal é trabalhar no
“como” usar o automóvel.
O especialista reforça que é preciso
desenvolver uma cultura sobre isso e acrescenta que os alunos das
universidades estão demonstrando preocupação com a sustentabilidade no
setor de transportes.
Michel cita a bicicleta como uma boa alternativa
que vem surgindo.
Ele afirma que Porto Alegre tem condições de
implementar um conjunto de ciclovias que permita condições de mobilidade
para todos.
A presidente da Oscip TodaVida, a engenheira
Ligia Miranda, crê que, se a sociedade cobrar, é possível expandir as
ciclovias, melhorar as calçadas e utilizar o transporte hidroviário.
Ela
argumenta que a desaceleração da indústria automobilística seria
compensada com o crescimento dos segmentos de ônibus, trens, entre
outros. “O carro não é o vilão, mas, sim, o mau uso; é preciso integrar e
tornar seguros todos os meios de transportes”, diz Ligia.
Ela defende
que sejam dadas opções de vários meios de transporte coletivo para
“caber no bolso de cada um”, atraindo públicos com diferentes condições
financeiras.