Ministério dos Transportes avalia a retomada de 14 trechos de ferrovias
Trens regionais de passageiros podem voltar a circular pelo Brasil
Viajar de trem pode voltar a ser um costume no Brasil. Após forte
decadência do setor ferroviário no país, ocorrida na segunda metade do
Século 20, o Governo Federal volta a investir nas estradas de ferro e já
realiza estudos para implantar novos trens regionais de curta
distância.
Tendo o trem de alta velocidade (TAV) Rio-São Paulo-Campinas como
carro-chefe da retomada ferroviária, o país encara o desafio de voltar a
investir em um transporte que foi deixado de lado em nome da
priorização da indústria automobilística.
As montadoras começaram a
ganhar força no Brasil a partir do governo de Juscelino Kubitschek
(1956-1961), que promoveu o modal rodoviário ao posto de principal do
país.
O projeto de retomada é em parte ousado e em parte conservador. De
acordo com o Ministério dos Transportes, a intenção é criar uma malha de
TAV ligando São Paulo a Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Curitiba e Brasília. Goiânia também é uma possibilidade.
No entanto,
somente o trecho Campinas-São Paulo-Rio está em vias de licitação. Os
outros são apenas suposições.
Já a parte conservadora diz respeito aos trens regionais.
A retomada
está ancorada em um estudo realizado pelo BNDES e pela Coppe no começo
da década passada, no qual apenas 14 trechos, de 64, são considerados
viáveis.
Destes, apenas três terão linhas mais longas que 200 km.
Governo investe em passageiros, mas prioriza carga
Euler Costa Sampaio, coordenador do projeto de Trens Regionais de
Passageiros do Ministério dos Transportes, vê necessidade de se realizar
um novo estudo.
“Ele foi concluído em 2002, já está antigo. O Brasil
mudou muito de lá para cá. Vamos rearrumar esse estudo para identificar
se há novas oportunidades”, garante.
O coordenador se diz surpreso com o interesse da população pelos trens.
“As pessoas se fascinam. Fiquei impressionado com a participação na
audiência pública de Caxias do Sul.
A cidade parou para acompanhar.
Havia entidades empresariais, políticas, de classe.
O interesse é
impressionante”, garante Sampaio, que destaca ainda a forte cobrança das
pessoas após as audiências.
A intenção do Ministério dos Transportes, segundo Sampaio, é fazer com
que o trem seja melhor que o ônibus, para que os viajantes queiram fazer
a troca de modal.
Todas as vias devem ser operadas por empresas
concessionárias
Apesar da retomada dos trens, ele não acredita que viagens de
passageiros de longas distâncias sejam implementadas. Um trecho Porto
Alegre-Brasília, por exemplo, está descartado neste primeiro momento.
Esse tipo de deslocamento deve ser feito somente por cargas, que poderão
viajar o Brasil inteiro com a conclusão da Ferrovia Norte-Sul.
A obra tem muitos problemas e atrasos, mas é o foco de investimentos do
Governo Federal na área de transportes.
E mesmo que a prioridade sejam
as cargas, nada impede que trens façam serviços de passageiros, segundo a
Valec, empresa pública responsável pela venda de capacidade de
transporte nas novas ferrovias federais. Basta que uma companhia se
interesse.
Após praticamente cinco décadas de abandono, o Brasil, que
teve sua primeira estrada de ferro implantada ainda na época do Império,
tenta retomar sua tradição de andar nos trilhos. É esperar para ver.