Percurso Nápoles-Roma foi atrasado pelas diferentes polícias italianas
Policiais italianos em trem evacuado em Nápoles, na Itália
Foto:
Rosane Tremea / Rosane Tremea
Não lembro de ter perdido trem, avião, ônibus, carona... Sempre fui
meio mineirinha.
Só que, na última viagem, os “quase perdi” andaram ali,
ali. Salva pela impontualidade dos trens italianos.
Mas aquele seria o último trecho “longo” de nossa viagem, com uma
passagem promocional premium não reembolsável e, se não pegássemos
aquele trem, além de termos de comprar um novo bilhete (sim, sangue
italiano!), perderíamos também horas preciosas em Roma.
Então, lá
estávamos nós, beeem antes da hora na estação de Nápoles. Tempo para um
sempre bem-vindo cappuccino e muito mais.
Especialmente, tempo para
acomodar nossas pesadas bagagens (sim, alma feminina, que não pensa nos
degraus na hora de fazer a mala!), em operações sempre difíceis.
Como nunca havia acontecido naquelas muitas viagens, meia hora antes
apareceu no painel a plataforma do nosso trem.
Que sorte! Binário 16,
vagão 6, nos aguarde.
Das primeiras a entrar, assumimos as duas últimas
poltronas, bem próximo da porta.
Que beleza! Bagagem pesada logo atrás dos assentos, mochilas (também
peso chumbo) no bagageiro superior, sentamos, abrimos mesinhas, sacamos
leituras, fones etc.
Seria só curtir a viagem a 300 km/h com vista
privilegiada, serviço de bordo com lanchinhos incluídos no preço,
jornais, wi-fi etc, etc. Seria! Minutos antes da saída, eu distraída,
minha irmã ouve um burburinho vindo lá detrás:
– Acho que a polícia está no trem.
Imagina, o que a polícia faria aqui, na hora de partir?!
Mas, a curiosidade matou o gato e a jornalista.
Fui conferir. E, sim,
estavam logo ali os policiais, muitos deles. E discutiam. Muito!
Olhavam para um bagageiro fora do meu alcance visual.
E as discussões em
alta voz eram interrompidas pela porta automática e antirruído.
Em
seguida, por um enviado especial do nosso vagão, descobrimos o que
acontecia logo ali no vagão número 7: bagagem abandonada, suspeita de
bomba, vagão evacuado.
Durante 20 minutos, os policiais italianos discutiram e gesticularam
(imagina!).
Que eles não se entendiam ou chegavam a uma conclusão era
certo. Nem sabia que existia tanto tipo de polícia/segurança diferente
na Itália (da empresa, da estação, da cidade, do Estado, entre outras).
Mais 20 minutos (dava tempo para o trem e a estação inteira terem
explodido) entra um passageiro afobado e vai gritando, pra não deixar
dúvidas:
– Binário dicianove! Binário dicianove!
Lá se foram o trem inteiro, nós, as malas pesadas, as mochilas
pesadas e tudo o mais descer, percorrer intermináveis plataformas até o
“binário 19”, trocar de trem.
No meio do caminho, claro, um acesso de
riso que quase fez as mineirinhas sofrenildas abandonarem as malas e
perderem o trem.
Quarenta e oito minutos depois, o Nápoles-Roma partia a 300 km/h.
Esse trem não explodiu.
Chegamos sãs e salvas.
O outro ficou lá. Até
onde eu sei, inteirinho.