09 junho 2013

Ex-secretário de Transportes explica como rodízio pode ser mais eficiente

Para Fábio Feldman, medida só terá efeito se for integrada à melhoria na qualidade do transporte público e conscientização dos usuários de carros

Hoje consultor, Fábio Feldman era secretário de Transportes de São Paulo em 1997, quando a cidade implantou o primeiro sistema de rodízio de automóveis do Brasil. Apesar de o trânsito de melhorado, ainda não foi o suficiente.

“A prefeitura retira cerca de 1,4 milhão de automóveis das ruas de São Paulo nos meses do rodízio. Isso é uma frota maior que a da maioria das cidades brasileiras”, comenta Feldman, que aponta soluções para que o sistema funcione melhor na capital e em outras cidades brasileiras.

Em São Paulo, o rodízio funciona no inverno, entre junho e setembro e em determinadas horas do dia: das 7h às 10h e das 17h às 20h. 

“O ar da cidade fica pior nesse período. Está mais seco e circula menos, potencializando os efeitos da poluição”, comenta. 

Em um grande trecho que engloba todo o Centro da cidade, além de partes das zonas Leste, Oeste, Norte e Sul, carro e caminhões não podem circular de acordo com o número final da placa. Na segunda-feira, ficam de fora os carros com final 1 e 2. 

Na terça, os finais 3 e 4 estão proibidos. Na quarta, 5 e 6. Os carros com finais 7 e 8 devem ficar em casa durante a quinta-feira, enquanto os de 9 e 0, ficam parados na sexta. “Em casos de saúde, os carros estão liberados, independentemente do dia”, explica Feldman.
Poluição doa ar estimulou governo chileno a implantar rodízio de automóveis na cidade em 1989 (Foto: Divulgação/ Bruna Acácio) 
A poluição do ar levou o governo a implantar o
rodízio de carros em Santiago do Chile, ainda em
1989. 
 
Sendo a primeira – e até agora única – cidade a implantar o sistema de rodízio de automóveis no Brasil, São Paulo buscou inspiração em outras metrópoles latino-americanas que também sofrem com poluição e trânsito pesado. “O rodízio já era aplicado na Cidade do México e em Santiago do Chile”, conta. 

O consultor explica que, ao ser aplicado no Brasil, o modelo sofreu algumas modificações, em relação às medidas chilena e mexicana: “Nos outros países, o rodízio é mais rígido. Em alguns dias, apenas carros de final de placa par podem circular. Em outros, apenas os ímpares”. 

Ele destaca que cidades europeias também adotam o rodízio, porém de acordo com a qualidade do ar. 

Quando os sistemas meteorológicos locais detectam uma alta concentração de poluição, o rodízio é imposto.

 “A grande diferença é que, na Europa, o sistema de transporte público funciona”, critica.

Aumentando a eficiência do rodízio

“O rodízio por si só não adianta nada”, argumenta Feldman. 

Ele conta que, quando propôs a implantação da medida em São Paulo, sugeriu também uma série de medidas que o viabilizassem. “Junto ao rodízio, a prefeitura deveria estimular um maior número de passageiros por veículo, criando faixas diferenciadas para carros com duas ou três pessoas. 

 Deveríamos criar a cultura da carona solidária”, comenta.

O ex-secretário sugere que sejam criados mecanismos que beneficiem motoristas que levam outras pessoas em seus veículos, seja com redução de impostos ou mesmo com o poder público trabalhando junto às empresas, oferecendo vagas privilegiadas para essas pessoas.

O aumento da eficiência do rodízio passa também por investimentos em transportes públicos e novas tecnologias. “Para o rodízio dar certo, o transporte público deve ser barato, pontual e menos poluente. 

Devemos investir na construção de metrô e no uso de veículos elétricos”, comenta. Feldman aposta no uso de combustíveis menos poluentes, como o diesel mais eficiente, utilizado no exterior, mas que não existe no Brasil.

Outro fator que deve ser trabalhado para aumentar a eficiência do rodízio no país é uma mudança cultural dos próprios motoristas.  

“Temos uma cultura onde as pessoas pensam que, quando compram o carro, podem usá-lo quando quiserem, toda hora”, comenta Feldman. 

O ex-secretário recorda que houve milhares de ações judiciais contra o rodízio em 1997, por conta dessa cultura.

Ele explica que é preciso fazer uma conscientização dos motoristas, para que eles se adaptem ao rodízio e entendam a importância de sua implantação.

Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Brasília tinha cerca de 500 mil automóveis em abril de 2003. 

Dez anos depois, o número de carros circulando pela Capital Federal chegou a 1 milhão, aumentando em quase 100% a frota. 

Não só Brasília, mas outras grandes cidades brasileiras também registraram um aumento significativo no número de carros circulando. 

“As baixas taxas de juros aliadas a grande parcelamento permitiram que mais famílias pudessem comprar seus carros, enchendo as ruas”, comenta Feldman, que defende a implantação do rodízio de carros em todo o país, acompanhado de medidas que o viabilizem.
Para Fabio Feldman, o rodízio de automóveis em São Paulo vai funcionar quando houver investimento em transporte público de maior qualidade e mais barato (Foto: Divulgação/ Lucas Conrado)Para Fábio Feldman, o rodízio de automóveis em São Paulo vai funcionar quando houver investimento em transporte público de maior qualidade e mais barato 
 
 

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