Para Fábio Feldman, medida só terá efeito se for integrada à melhoria na qualidade do transporte público e conscientização dos usuários de carros
Hoje consultor, Fábio Feldman era secretário de Transportes de São
Paulo em 1997, quando a cidade implantou o primeiro sistema de rodízio
de automóveis do Brasil. Apesar de o trânsito de melhorado, ainda não
foi o suficiente.
“A prefeitura retira cerca de 1,4 milhão de automóveis das ruas de São
Paulo nos meses do rodízio. Isso é uma frota maior que a da maioria das
cidades brasileiras”, comenta Feldman, que aponta soluções para que o
sistema funcione melhor na capital e em outras cidades brasileiras.
Em São Paulo, o rodízio funciona no inverno, entre junho e setembro e
em determinadas horas do dia: das 7h às 10h e das 17h às 20h.
“O ar da
cidade fica pior nesse período. Está mais seco e circula menos,
potencializando os efeitos da poluição”, comenta.
Em um grande trecho
que engloba todo o Centro da cidade, além de partes das zonas Leste,
Oeste, Norte e Sul, carro e caminhões não podem circular de acordo com o
número final da placa. Na segunda-feira, ficam de fora os carros com
final 1 e 2.
Na terça, os finais 3 e 4 estão proibidos. Na quarta, 5 e
6. Os carros com finais 7 e 8 devem ficar em casa durante a
quinta-feira, enquanto os de 9 e 0, ficam parados na sexta. “Em casos de
saúde, os carros estão liberados, independentemente do dia”, explica
Feldman.
A poluição do ar levou o governo a implantar o
rodízio de carros em Santiago do Chile, ainda em
1989.
rodízio de carros em Santiago do Chile, ainda em
1989.
Sendo a primeira – e até agora única – cidade a implantar o sistema de
rodízio de automóveis no Brasil, São Paulo buscou inspiração em outras
metrópoles latino-americanas que também sofrem com poluição e trânsito
pesado. “O rodízio já era aplicado na Cidade do México e em Santiago do
Chile”, conta.
O consultor explica que, ao ser aplicado no Brasil, o
modelo sofreu algumas modificações, em relação às medidas chilena e
mexicana: “Nos outros países, o rodízio é mais rígido. Em alguns dias,
apenas carros de final de placa par podem circular. Em outros, apenas os
ímpares”.
Ele destaca que cidades europeias também adotam o rodízio,
porém de acordo com a qualidade do ar.
Quando os sistemas meteorológicos
locais detectam uma alta concentração de poluição, o rodízio é imposto.
“A grande diferença é que, na Europa, o sistema de transporte público
funciona”, critica.
Aumentando a eficiência do rodízio
“O rodízio por si só não adianta nada”, argumenta Feldman.
Ele conta
que, quando propôs a implantação da medida em São Paulo, sugeriu também
uma série de medidas que o viabilizassem. “Junto ao rodízio, a
prefeitura deveria estimular um maior número de passageiros por veículo,
criando faixas diferenciadas para carros com duas ou três pessoas.
Deveríamos criar a cultura da carona solidária”, comenta.
O
ex-secretário sugere que sejam criados mecanismos que beneficiem
motoristas que levam outras pessoas em seus veículos, seja com redução
de impostos ou mesmo com o poder público trabalhando junto às empresas,
oferecendo vagas privilegiadas para essas pessoas.
O aumento da eficiência do rodízio passa também por investimentos em
transportes públicos e novas tecnologias. “Para o rodízio dar certo, o
transporte público deve ser barato, pontual e menos poluente.
Devemos
investir na construção de metrô e no uso de veículos elétricos”,
comenta. Feldman aposta no uso de combustíveis menos poluentes, como o
diesel mais eficiente, utilizado no exterior, mas que não existe no
Brasil.
Outro fator que deve ser trabalhado para aumentar a eficiência do
rodízio no país é uma mudança cultural dos próprios motoristas.
“Temos
uma cultura onde as pessoas pensam que, quando compram o carro, podem
usá-lo quando quiserem, toda hora”, comenta Feldman.
O ex-secretário
recorda que houve milhares de ações judiciais contra o rodízio em 1997,
por conta dessa cultura.
Ele explica que é preciso fazer uma
conscientização dos motoristas, para que eles se adaptem ao rodízio e
entendam a importância de sua implantação.
Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Brasília
tinha cerca de 500 mil automóveis em abril de 2003.
Dez anos depois, o
número de carros circulando pela Capital Federal chegou a 1 milhão,
aumentando em quase 100% a frota.
Não só Brasília, mas outras grandes
cidades brasileiras também registraram um aumento significativo no
número de carros circulando.
“As baixas taxas de juros aliadas a grande
parcelamento permitiram que mais famílias pudessem comprar seus carros,
enchendo as ruas”, comenta Feldman, que defende a implantação do rodízio
de carros em todo o país, acompanhado de medidas que o viabilizem.
Para
Fábio Feldman, o rodízio de automóveis em São Paulo vai funcionar
quando houver investimento em transporte público de maior qualidade e
mais barato