Brasil tem poucas empresas capacitadas para fazer a reciclagem adequada das fluorescentes
O que fazer com as lâmpadas fluorescentes após a vida útil? Das mais de 200 milhões de unidades que são consumidas anualmente no Brasil, apenas cerca de 6%, ou 12 milhões, recebem destinação correta - o que inclui a retirada do mercúrio e a reciclagem de seus componentes, como vidro e alumínio.
Atualmente, a falta de uma estrutura de coleta para que o consumidor leve suas lâmpadas e o pequeno número de empresas capacitadas para realizar a destinação correta do material são os grandes desafios. Em todo o País, não existe mais que uma dezena de empresas licenciadas para reciclar o material.
"A demanda existe, mas há poucas empresas que se dedicam a essa atividade porque é baixo o valor de mercado para os resíduos do processo de descarte de lâmpadas fluorescentes. E isso inibe as empresas", afirma Plínio Di Masi, diretor-geral da Naturalis Brasil, recicladora de lâmpadas de Itupeva (SP).
A Naturalis Brasil atende companhias que, por força da legislação ou de programas de gestão ambiental, como a certificação da ISO 14001, são obrigadas a dar destinação correta às lâmpadas. São cerca de 50 clientes, entre hospitais, escolas e indústrias. Mas também recebe lâmpadas de consumidores e condomínios que não sabem o que fazer com o resíduo.
Segundo outro reciclador, a Tramppo, em Cotia (SP), que tem cerca de 400 clientes, entre eles o Metrô de São Paulo, a demanda pelo serviço de descontaminação e reciclagem de lâmpadas vem crescendo fortemente nos últimos anos. "Nossos clientes, em sua maioria, são empresas que possuem programas de gestão ambiental e precisam dar destino correto a esse tipo de resíduo", diz Carlos Alberto Patchelli, diretor da Tramppo.
A empresa nasceu na incubadora de negócios da Universidade de São Paulo (Cietec/USP), vislumbrando o mercado potencial de reciclagem de lâmpadas. A tecnologia empregada permite, por exemplo, que o pó fosfórico, subproduto do processo de reciclagem, seja reaproveitado na indústria de cerâmica. O vidro vai para a produção de pisos e o perigoso mercúrio é reutilizado na produção de barômetros e termômetros. "A proposta é fechar o ciclo", diz Patchelli.
Custos. O Estado de São Paulo ainda precisa concluir a regulamentação da Política Estadual de Resíduos Sólidos, que vai impor metas de reciclagem para determinados tipos de resíduos, como pilhas, embalagens de agrotóxicos e lâmpadas.
A definição das metas deveria sair até o dia 31, mas, segundo o secretário adjunto de Meio Ambiente de São Paulo, Casemiro Tércio Carvalho, o prazo para que a indústria se adapte à coleta das lâmpadas nos pontos de venda deve ser prorrogado até fevereiro. "Existe um custo para a logística reversa desse material. Mas isso tem de ser feito, e um dos caminhos é por meio de parcerias entre a indústria e os pontos de venda." Segundo os recicladores, o custo de reciclar uma lâmpada fluorescente fica entre R$ 1 e R$ 1,20.
Outro problema, segundo Carvalho, é que há poucas empresas habilitadas a fazer o descarte e a reciclagem dos componentes das lâmpadas. Em todo o Estado de São Paulo, por exemplo, só há quatro. De acordo com a própria Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a quantidade é insuficiente para atender à demanda que a lei de resíduos estadual vai gerar. Sozinho, o Estado consome nada menos do que 65% das lâmpadas fluorescentes vendidas no País.
Logística. O Brasil tem algumas iniciativas de coleta de lâmpadas. A Apliquim Recicla Brasil, hoje a maior recicladora de lâmpadas do País - processa em torno de 7,5 milhões de unidades/ano -, fechou parcerias com lojas de materiais de construção do Rio de Janeiro e de Caxias do Sul (RS) para receber descarte dos consumidores. Grandes redes, como Leroy Merlin, também já começam a coleta em algumas lojas. "Mas são iniciativas pontuais, que não atendem o consumidor. A maioria acaba descartando as lâmpadas no lixo comum", diz Eduardo Sebben, diretor superintendente da Apliquim Recicla Brasil.
De olho na obrigatoriedade futura, indústria e varejo começam a se articular. A Philips deve incluir, no primeiro semestre de 2011, as lâmpadas fluorescentes em seu projeto Ciclo Sustentável, que realiza a logística reversa de eletroeletrônicos, pilhas e baterias.
PARA ENTENDER
Faltam critérios mais rígidos para destinação
A Lei Nacional de Resíduos Sólidos, de 2 de agosto de 2010, foi regulamentada na semana passada, mas não houve detalhamento sobre a questão da destinação e reciclagem das lâmpadas. Havia a expectativa de que seriam impostos critérios mais rígidos para a destinação desse tipo de resíduo, o que ainda não ocorreu.
Segundo o decreto, os consumidores que não separarem o lixo seco do úmido estarão sujeitos a multas.
Entre outras medidas, o decreto prevê penalidades para aqueles que não cumprirem as obrigações estabelecidas na coleta seletiva e nos sistemas de logística reversa, pelo qual aparelhos eletroeletrônicos, pilhas e pneus terão de retornar aos fabricantes. A punição pode vir em forma de advertência e, em caso de reincidência, multas de R$ 50 a R$ 500.