O Índice de Expectativas das Famílias (IEF) apurado em maio foi de 62,9 pontos, valor inferior aos 63,8 de abril. No entanto, o índice mantém a expectativa das famílias brasileiras no nível de otimismo, que vai de 60 a 80 pontos.
O professor e diretor presidente da Fractal, Celso Grisi, afirma que como a inflação subiu muito nos últimos meses, a primeira percepção é de que houve redução na capacidade de compra dos brasileiros, a influenciar em uma piora do otimismo das famílias. "Exemplo de que a renda caiu é que diversas pesquisas apontam que o número de itens na cesta básica diminuiu. Outro sinal de impacto é que as pessoas passaram a comprar produtos com marcas menos prestigiadas", diz. "Isto também significa que os brasileiros sinalizam ao varejo e à indústria de que o consumo será menor", acrescenta.
De fato, o relatório do Ipea mostrou que houve queda de 13% na percepção sobre o momento atual para comprar bens de consumo duráveis nos cinco primeiros meses do ano. Em janeiro, 58,2% das famílias via o presente como bom momento para compras. Em maio, essa proporção foi de 50,3%.
Em maio, verifica-se que houve aumento de 22,6% para 23,1% na proporção de famílias que acreditam terem piorado financeiramente. Porém, 74% das famílias brasileiras pesquisadas indicaram estar melhor financeiramente hoje do que um ano atrás, percentual praticamente idêntico ao apresentado no quarto mês deste ano.
Segundo Grisi, é positivo para a economia o fato da população reduzir o consumo. "Preserva a estabilidade econômica, e beneficia, principalmente a população de baixa renda, quem é que mais sofre com a alta da inflação. O governo está a atuar corretamente para conter o crédito e, assim, pressões inflacionárias, além de elevar os juros", afirma ele, ao se referir ao aumento da taxa básica de juros (Selic) para 12,25% ao ano.
Para tornar o consumo benéfico para a economia, Fabrício Pessato Ferreira comenta que o brasileiro tem de praticar ao que chama de "compra consciente". "Meios de se fazer isso são: pagar à vista com descontos; e boicotar, ou melhor, não adquirir produtos que tenham alta de preços, mesmo que esse aumento seja pequeno, em contrapartida buscar alternativas. Ou seja, se o leite tiver caro, compra leite de soja."
Em relação ao endividamento, houve elevação do percentual de famílias sem dívidas, que atingiu 51,6% em maio. Entre os endividados, porém, cresceu muito a proporção das famílias que responderam que não terão condições de pagar. Subiu de 32,2%, em janeiro, para 41,3% em maio, o maior patamar da série, iniciada em agosto de 2010. "Do ponto de vista do crédito, há espaço para políticas públicas de maior acesso ao crédito. Por outro lado, há uma elevação dos que tem dificuldades para pagar as dívidas. Isso indica que haverá uma acomodação e as instituições financeiras deverão reavaliar a concessão de crédito", avaliou Pochmann.
Para o presidente do Ipea, os dados da pesquisa confirmam a tendência de desaceleração do consumo, reflexo das medidas macroprudenciais do governo. Por outro lado, destacou que a pesquisa do Ipea ainda mostra otimismo das famílias no longo prazo e no mercado de trabalho, tendo em vista que 76,4% dos responsáveis pelos domicílios declararam-se seguros em relação à manutenção do atual emprego.
Regiões
Ainda segundo o relatório do Ipea, a Região Centro-Oeste voltou a apresentar maior pontuação otimista das famílias em maio (73,3), seguida das Regiões Norte e Sudeste. Destoando das outras regiões, o norte elevou consideravelmente seu otimismo e se tornou a segunda região mais otimista (64,2). O menor índice foi da Região Nordeste, ao atingir 59,8. Já a Região Centro-Oeste continua a apresentar índices superiores à média nacional.
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