O secretário estadual de Planejamento, Zezéu Ribeiro, fez ontem o anúncio oficial do transporte de massa a ser implantado em Salvador para a Copa do Mundo
Os 6,5 quilômetros do primeiro trecho do metrô de Salvador não ficaram prontos em 11 anos, mas os 22 quilômetros anunciados ontem pelo governo do estado terão que ser licitados, contratados, construídos e estar operando, no máximo, até 31 de dezembro de 2013. E com o detalhe de que o projeto final ainda não está concluído.
O secretário estadual de Planejamento, Zezéu Ribeiro, fez ontem o anúncio oficial do transporte de massa a ser implantado em Salvador para a Copa do Mundo: trilhos de Lauro de Freitas até a Rótula do Abacaxi, e BRT (sigla em inglês para ônibus de trânsito rápido) nas vias chamadas alimentadoras (ruas que desembocam na Paralela).
E o anúncio parou por aí, porque o governo ainda não sabe quantos corredores de BRT seriam implantados, se eles se estenderiam para Lauro de Freitas e a região do Iguatemi, quantas estações teria o novo transporte sobre trilhos, se ele seria construído no solo ou em vias aéreas, e nem se o metrô será metrô mesmo ou monotrilho (um trem que opera encaixado em apenas um trilho).
“Se for metrô vai ser construído no solo, nas laterais do canteiro central. No caso do monotrilho, as vias seriam suspensas”, explicou na entrevista coletiva Alberto Valença, diretor executivo da Secretaria de Planejamento (Seplan) e presidente do Grupo de Trabalho Executivo (GTE), responsável pela decisão.
Ele acrescentou que, no caso de construção no canteiro da Paralela, uma das poucas desapropriações seriam os postos de gasolina que ficam no local. “Sai bem mais barato do que fazer na lateral da pista e ter que indenizar aquele monte de terreno”, disse.
MIX DE PROJETOS
Dos sete projetos apresentados por construtoras no mês passado, foram usados elementos de pelo menos cinco, embora não tenha sido divulgado quais foram as duas empresas que ficaram de fora. “Elas atenderam todas as premissas, mas não teve nenhuma completa”, explicou Valença.
Os critérios para a decisão foram a consistência de viabilidade técnica, ambiental e financeira, além da durabilidade do sistema e o interesse público.
Como nenhum projeto específico foi selecionado, a verba de R$ 2,5 milhões destinada a pagar o sistema vencedor será dividida proporcionalmente pelas cinco empresas. Agora, elas saem de cena e o governo terá 45 dias para elaborar um termo de referência, com as características e regras para uma nova concorrência. Depois disso, pelo cronograma da Seplan, será aberta uma ou mais licitações, para construção e administração dos sistemas de trilhos e BRT, da qual qualquer empresa poderá participar.
Até 31 de dezembro deste ano, a empresa tem que estar não só escolhida, como contratada e preparada para iniciar as obras nos primeiros dias de 2012. Em 31 dezembro de 2013, tudo precisa estar pronto e operando, ou Salvador corre risco de não ver a cara da Copa do Mundo.
O secretário especial para assuntos da Copa, Ney Campello, reconhece que o cronograma é apertado. “É irresponsabilidade dizer que chegaremos a 2014 de maneira confortável. Teremos que fiscalizar bem os prazos, para atingir esse objetivo desafiador”, diz.
PROJETO
Ainda não existe um projeto final, apenas ideias e estimativas do governo. Uma delas é que o transporte tenha capacidade para atender até 80 mil passageiros por hora, a um custo de R$ 2,50 (passagem isolada) ou R$ 3,25 (bilhete integrado).
Para manter esses valores, o governo do estado teria que subsidiar o sistema em cerca de R$ 700 milhões por ano. Já o valor da obra, pode variar de R$ 2,6 bilhões a R$ 3 bilhões, verba que sairia principalmente do Ministério das Cidades, através dos PACs da Copa (R$ 570 milhões) e da Mobilidade
(R$ 2,4 bilhões).
As vias onde seriam implantados os corredores exclusivos de ônibus também é algo sem definição. “A ideia é fazer isso em vias mais largas, como a Dorival Caymmi e a Pinto de Aguiar”, disse Zezéu. Além destas, Alberto Valença citou também as avenidas Gal Costa, 29 de Março e Orlando Gomes. As ruas mais estreitas continuam com o sistema de ônibus já existente.
Segundo Ney Campello, o governo estuda ainda implantar 215 quilômetros de ciclovias em Lauro de Freitas, na Paralela, no Centro Histórico e outras vias ainda não definidas. “Seremos a 2ª cidade da América Latina em quilômetros de ciclovia, perdendo só para Bogotá (Colômbia)”, assegurou.
Gestão disputada
Com o anúncio dos 22 quilômetros novos de metrô (ou monotrilho), o governo do estado pretende assumir também o trecho iniciado (há 11 anos) pelo município. “Estamos conversando com a prefeitura sobre esse projeto”, afirmou o secretário Zezéu.
O trecho em questão está sendo construído pelo consórcio Metrosal, que inclui a construtora Camargo Corrêa, responsável também por um dos sete projetos.
A ideia do governo estadual é que a empresa vencedora da licitação para a construção e gestão do novo trecho do metrô herde também a administração do primeiro tercho, ainda em construção, que vai da Estação da Lapa à Rótula do Abacaxi (em fase final), com extensão prevista até Pirajá. Este segundo trecho é alvo de uma auditoria de uma equipe de engenharia do Exército, que deve dizer, até 1º de julho, qual o valor estimado para esta obra.
“Vamos pegar este valor e apresentar para a Metrosal. Se ela aceitar, fica com a obra, senão, abriremos nova licitação”, explica o secretário José Mattos, da Secretaria Municipal dos Transportes e Infraestrutura (Setin). A auditoria teve início depois que o consórcio foi alvo de denúncias de superfaturamento nas obras do primeiro trecho. Procurada, a Camargo Corrêa informou que não comentaria o assunto. Já o gerente-geral da Metrosal não foi localizado pelo consórcio até o fechamento desta matéria.
Especialistas em trans porte, tráfego e urbanismo têm opiniões divergentes sobre o novo metrô. Para o coordenador do curso de Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), professor Ney Castro, há questões que não foram estudadas pelo governo estadual, como o plano econômico e financeiro da obra, a demanda potencial de passageiros e a projeção de crescimento da cidade, que segundo ele está defasada há mais de oito anos.
Ele diz ainda que o tempo também será vilão. “Se for calcado no esconderijo das contas e do orçamento, vai sair. Agora, pelos rigores da lei, se fizerem tudo dentro dos parâmetros legais, não teremos nada disso”, afirma.
“Além disso, o governo renunciou ao papel que deveria ter sido dele, já que perdeu a grande oportunidade de exercer o seu papel de gestor metropolitano quando terceirizou o direito e o papel de fazer a escolha do perfil tecnológico do transporte a ser escolhido”, comentou, referindo-se ao processo de chamada de projetos.
O professor Élio Santana Fontes, do Departamento de Transportes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), acredita no projeto, mas é cauteloso. “Se fosse subterrâneo, seria impossível, mas o modal ferroviário na Paralela tem capacidade mais elevada, já que o canteiro central é plano. Com investimento, o projeto é viável”, avalia.
Já a doutora em transportes da Politécnica da Ufba, Ilce Marília Dantas Pinto, comemorou o projeto. “O trecho já era previsto. Seria a linha 2. É possível fazer, mesmo com tempo curto. Afinal, no Rio dá tempo, em Recife também. Por que aqui não?” .
Já a doutora em transportes da Politécnica da Ufba, Ilce Marília Dantas Pinto, comemorou o projeto. “O trecho já era previsto. Seria a linha 2. É possível fazer, mesmo com tempo curto. Afinal, no Rio dá tempo, em Recife também. Por que aqui não?” .