Arquitetos preocupados com andamentos das obras dos aeroportos
Arquitetos e gestores discutem obras dos aeroportos (crédito: Rodrigo Prada )
postado em 11/11/2010
Começou ontem (10), em Salvador, o Fórum Projetando o Brasil 2014/2016. O evento promovido pelo Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia) e pelo Portal 2014 reúne arquitetos, engenheiros e representantes do poder público e gestores das 12 cidades-sede com o objetivo de tratar de assuntos como infraestrutura e mobilidade urbana para a Copa e a Olimpíada de 2016.
O debate que marcou o primeiro dia do evento teve como tema a infraestrutura logística aeroportuária das cidades-sede, um dos principais problemas apontados tanto pelos gestores, quando pelos engenheiros e arquitetos, alguns deles responsáveis pelas obras de reforma de terminais de aeroportos.
Quem participou das discussões foi o superintendente de Obras da Infraero, Ricardo Ferreira. Ele apontou quais aeroportos do Brasil podem apresentar gargalos em determinadas áreas. No caso da capital baiana, o maior problema é no pátio. Ferreira mostrou os investimentos previstos pela Infraero no setor aeroportuário.
Segundo o representante da Infraero, cerca de R$ 6,1 bilhões serão investidos nas 12 cidades-sedes. Além disso, os aeroportos de Porto Alegre, Brasília e Manaus, por exemplo, “já estão com obras de reforma e ampliação do terminal de passageiros”, disse. Ferreira afirmou ainda que é "contra a contratação de projetos e serviços especializados de arquitetura e engenharia por pregão eletrônico". Segundo ele, essa é a posição da estatal aeroportuária: "Pregão, na Infraero, é somente para a compra de equipamentos".
Contraditoriamente, os chamados módulos operacionais (MOPs), solução que a Infraero considera a mais viável para resolver os problemas devido à expansão acelerada da demanda nos últimos anos, são considerados "equipamento" e, assim, são contratados em regime turn key por pregão eletrônico, de acordo com o superintendente de Obras da estatal.
Alerta e Críticas
Destoando do tom das informações da Infraerol que administra os principais aeroportos do país, o arquiteto Mário Roque, da MD Concept, responsável pelo projeto de modernização e ampliação do aeroporto de Manaus, o sinal de alerta está aceso, o que deve exigir atenção máxima. “Se continuar neste ritmo os aeroportos não vão ficar prontos até a Copa”, afirmou. O arquiteto brasiliense Sérgio Parada, autor do projeto do aeroporto de Brasília, fez duras críticas à Infraero. “O órgão não trabalha com o quesito arquitetura. As características arquitetônicas dos projetos são sempre deixadas de lado. Não existe preocupação com as estruturas nem com a estética. Somos o país do puxadinho”, criticou, citando os Módulos Operacionais. Parada afirmou que nunca foi consultado para tratar sobre as mudanças e ampliações do projeto original do aeroporto da capital federal.
Para Wilson Vieira, engenheiro e diretor da Engevix, que desenvolve projetos, em etapas distintas (projeto básico e projeto executivo) de oito aeroportos, entre eles o de Florianópolis, Confins/MG, Galeão, Viracopos e Fortaleza, entre outros, além de realizar a supervisão de projetos para a Superintendência Regional Sudeste da Infraero, o planejamento das obras em todo o Brasil está aquém das exigências do evento Copa. Para o especialista, é necessário melhorar o diálogo entre as empresas contratadas e a Infraero, como uma das formas de obter projetos de melhor qualidade e ajudar a resolver os gargalos existentes. Na mesma linha, o engenheiro Guaracy Klein, vice-presidente de Engenharia do Sinaenco-DF e também diretor da Regional Brasília da Concremat, a Infraero detém um importante acervo de conhecimentos, mas as suas contas não fecham: "Só para definição do escopo e contratação dos projetos demora de seis a oito meses; e o projeto exige mais um ano para seu desenvolvimento. Uma obra de ampliação de aeroporto não se faz em dois anos", avalia ele, num exercício de aritmética simples e conhecimento do setor.
Planejamento estratégico
O consultor Jorge Hori, colunista do Portal 2014, concluiu os debates destacando a importância do planejamento estratégico de projeções de longo prazo. “O planejamento não deve ser para 2014 ou 2016, e sim para 2025, 2030 e 2050.” Na opinião do analista, essa perspectiva deve levar em conta não apenas a infraestrutura dos aeroportos, mas a logística e o mapa viário do entorno. “Pensa-se nos aeroportos, mas se esquece da logística de como chegar e sair dele. No Brasil, o único aeroporto que possui metrô é o de Porto Alegre”, exemplificou.
O engenheiro Chris Van Note, da CH2M Hill, multinacional de projetos e gerenciamento, concorda com a opinião do especialista. “Temos de pensar de forma estratégica para atender às demandas daqui a 20 ou 30 anos, caso contrário teremos equipamentos defasados em pouco tempo”, destacou. Essa opinião foi avalizada pelo engenheiro Luiz Fabbriani, também da CH2M Hill, que complementou: "O Brasil precisa planejar pensando em prazos dilatados e ter projetos integrados, considerando os aeroportos inseridos nas cidades, buscando soluções globais para o transporte de pessoas e cargas!".
Agenda Positiva
Durante o encontro, os arquitetos e engenheiros aprovaram a criação de um fórum permanente com o objetivo de abrir canais de diálogo entre as empresas contratadas, o governo e a Infraero. Para Claudemiro Santos, presidente do Sinaenco-BA, a discussão é de extrema importância pela troca de experiência e informações. “Sentimos falta de políticas mais amplas, integradas no setor. Por isso, este evento exerce um papel fundamental. Vamos oferecer ao poder público um documento com parâmetros, indicando os problemas e as soluções”, assinalou.
Ao término do evento os arquitetos vão aprovar uma carta, que será enviada aos órgãos interessados, com os seguintes pontos: a exigência de planejamentos de longo prazo para as obras aeroportuárias; a necessidade de contratar projetos executivos; a defesa do direito autoral dos projetos, assim como a continuidade dos mesmos; a necessidade de adotar o concurso público para a escolha de projetos arquitetônicos nos órgãos do setor aeroportuário; e a atualização dos planos diretores aeroportuários, que devem pensar aeroportos como instrumentos integrados às metrópoles; entre outros.
Ao término do evento os arquitetos vão aprovar uma carta, que será enviada aos órgãos interessados, com os seguintes pontos: a exigência de planejamentos de longo prazo para as obras aeroportuárias; a necessidade de contratar projetos executivos; a defesa do direito autoral dos projetos, assim como a continuidade dos mesmos; a necessidade de adotar o concurso público para a escolha de projetos arquitetônicos nos órgãos do setor aeroportuário; e a atualização dos planos diretores aeroportuários, que devem pensar aeroportos como instrumentos integrados às metrópoles; entre outros.
O primeiro dia do Fórum Projetando o Brasil 2014/2016, contou com a presença do sub-secretário estadual da Secretaria de Trabalho, Renda e Esporte, Elias Dourado, e do chefe de gabinete do prefeito de Salvador, Leonel Leal, também responsável pelos assuntos da Copa no município.
O evento prossegue hoje, com a apresentação do cronograma do andamento das obras das cidades-sede. Durante uma hora, os gestores públicos prestarão contas de como andam as obras de reforma e construção dos estádios. Estão confirmadas as presença de representantes dos governos da Bahia, Paraná, Pernambuco, São Paulo e do Mato Grosso. Os outros sete estados também foram convidados. Na sexta-feira, um debate sobre mobilidade urbana encerra o Fórum.
http://www.copa2014.org.br/noticias/5711/ESPECIALISTAS+FAZEM+ALERTA+PARA+2014+SOMOS+O+PAIS+DO+PUXADINHO.html
http://www.copa2014.org.br/noticias/5711/ESPECIALISTAS+FAZEM+ALERTA+PARA+2014+SOMOS+O+PAIS+DO+PUXADINHO.html