Publicada em 27/11/2010
RIO - Entre 1986 e 1993, Barcelona sofreu a mais dramática transformação urbana de toda a Europa. O que isso tem a ver com o Rio? Em 86, a cidade foi escolhida e, em 92, durante o verão, sediou as Olimpíadas. Espera-se que a história se repita no Rio, não só em termos de infraestrutura, em especial em transportes públicos, mas também catapultando o desenvolvimento de áreas escolhidas para receber o tão falado legado: aqui na cidade, este lugar é a Zona Portuária, para onde se voltam todas as expectativas. Que são grandes. Os Jogos já mostraram que têm efeito embelezador, com o perdão da palavra antiesportiva, até "anabolizante" sobre economias estagnadas.
A região tem tudo para ser a nossa Barcelona. Mas vai depender de como serão conduzidos os investimentos. Algumas vitórias já foram garantidas. Ao convencer o COI a transferir as vilas de Árbitros e de Mídia e o Centro de Tecnologia da Barra para o Porto, o prefeito Eduardo Pes dava um sinal claro do que pretende para o local. O projeto que vem sendo gestado - já existia antes da candidatura do Rio, mas cresceu com o anúncio da vitória da cidade - também não deixa dúvidas: Porto Maravilha.
" Aproveitar os Jogos para recuperar uma área degradada é uma estratégia que já foi utilizada por várias cidades "
- Aproveitar os Jogos para recuperar uma área degradada é uma estratégia que já foi utilizada por várias cidades. Barcelona fez isso com sua área histórica. Londres (que sedia as Olimpíadas de 2012) está fazendo o mesmo na área leste da cidade. O que nós queremos é que a Zona Portuária seja uma região que combine moradias e efervescência comercial. Todas as vilas que serão construídas ali vão deixar como legado imóveis residenciais. A classe média vai poder morar lá. Fora isso, o interesse comercial é inequívoco, já que o centro de tecnologia se converterá num centro de convenções e o local é uma extensão do Centro - aposta o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Felipe Góes.
Os bons ventos que sopram vão tirar do papel projetos como o de recuperação do Morro da Conceição, que conta um pouco da história do Rio. Seu casario será restaurado - somente para resgatar o charme de suas antigas ladeiras serão investidos R$ 8 milhões - assim como outras preciosidades: a Igreja São Francisco da Prainha, de 1696, hoje abandonada, será reaberta à visitação.
Também será construído um arrojado Museu do Amanhã, que levará a assinatura do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Um dos primeiros arranha-céus do Rio, o Edifício "A noite", que assim ficou conhecido por abrigar um jornal de mesmo nome, além da Rádio Nacional nos anos 30, será recuperado.
A previsão é de se criar também o AquaRio, um moderno e gigantesco aquário, com cinco milhões de litros d'agua e 12 mil animais de 400 espécies, que os visitantes poderão cruzar por meio de túneis; e o Museu de Arte do Rio (Mar), que ocupará o Palacete Dom João VI, imóvel histórico da Praça Mauá construído em 1912. Do ponto de vista econômico, vale destacar que também será construída ali a nova sede do Banco Central.
O presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) no Rio, Sérgio Magalhães, acha que a revitalização pode ter efeitos para muito além da Zona Portuária.
- O desenvolvimento da Zona Portuária é muito importante. Hoje, o Centro da cidade está enfraquecido porque, nas últimas décadas, o Rio de Janeiro investiu exageradamente em outras áreas, sobretudo na Barra da Tijuca. É um lugar muito importante na construção da identidade metropolitana - analisa Magalhães, que está à frente do concurso nacional que escolherá os projetos que vão dar forma à nova cara da região.
" As mudanças terão impacto na melhoria do sistema de trnasporte público, principalmente aquele sobre trilhos "
- As mudanças também terão impacto na melhoria do sistema de transporte público, principalmente aquele sobre trilhos, e também deverá contaminar positivamente o desenvolvimento a partir de São Cristóvão até a Zona Norte suburbana. Mas tudo isso só será possível se os projetos tiverem qualidade. É necessário que a infraestrutura seja muito bem projetada e o espaço público incorpore os novos valores que a arquitetura e o urbanismo defendem para o século 21, que é uma sustentabilidade plena. A mobilidade deve ser limpa, não poluidora, a área portuária tem que ser um lugar de comércio e negócios, mas também com outras funções urbanas, para habitação, cultura, serviço, recreação. Enfim, tem que ser um lugar muito agradável para se morar, trabalhar e visitar.
Paralelamente, um canteiro de obras será aberto. O consórcio Porto Novo - formado pelas empreiteiras Norberto Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia -, escolhido vencedor da primeira Parceria Público Privada (PPP) da cidade, vai executar uma série de intervenções. Em janeiro, começa a ser aberta a Avenida Binário e a ser perfurado o mergulhão sob a Avenida Rodrigues Alves. Em seguida, um trecho da Perimetral - que enfeia a paisagem há algum tempo - será apagado de vez. O valor da PPP é R$7,3 bilhões e o grupo vai explorar a concessão por 15 anos.
Até 2015, o consórcio terá que implantar quatro quilômetros de túneis e viadutos, reurbanizar 70 quilômetros de ruas da área e implantar 700 quilômetros de redes de água, esgoto, telefonia, drenagem e gás, entre outros serviços.
Do pacote também fazem parte a reurbanização de 650 mil metros quadrados de calçadas, o equivalente a 79 campos do Maracanã; a instalação de sete mil novos postes de iluminação pública e o plantio de 15 mil árvores. O consórcio terá ainda que fazer toda a reurbanização do Morro do Pinto.