29 outubro 2010

Automóvel, do sonho à realidade e morte

Notícia da edição impressa de 27/10/2010




Ter um automóvel, esse é o sonho de 10 entre 10 brasileiros. Símbolo de status, ter um carro era tudo o que os homens queriam, desde os adolescentes até circunspetos executivos. O automóvel atravessou todo o século XX povoando a imaginação de milhões de pessoas no mundo. Mais do que poderio financeiro, o automóvel também foi descrito como um poderoso afrodisíaco, um atrativo para as mulheres. Dirigir por uma boa rodovia em um dia ensolarado era tudo o que os hoje avós queriam, até os anos de 1970.

Mas para se comprar um era preciso ter muito dinheiro. Chegaram os financiamentos, vieram os consórcios e os automóveis ficaram acessíveis, mas não baratos como queriam os que ainda não o tinham. Pois uma crise internacional conseguiu o prodígio de tornar o crédito mais acessível no Brasil, as prestações menores e os juros baixos. Então, hoje não tem um automóvel quem não quer, tais as facilidades dadas pelas montadoras e as revendas.

No caso de Porto Alegre, no entanto, surgiu um feito correlato, nem sempre agradável, com o congestionamento das ruas e avenidas. A III Perimetral sempre é apontada como o exemplo de uma via que tinha tudo para facilitar - e facilita mesmo - a ligação entre as zonas Norte e Sul da cidade e hoje está prejudicada pela falta de viadutos em cruzamentos.

 O presidente mundial da Michelin, Michel Rollier, afirmou no Rio que a busca por uma indústria automobilística que não ameace o meio ambiente passa pelo Brasil, pelo pioneirismo do País em projetos de combustíveis de fontes renováveis, como o etanol, uma tecnologia que já se mostrou competitiva e eficiente.

Michel Rollier também afirmou que os desafios não são apenas os de criar uma mobilidade limpa, mas também mais segura, com o combate à mortalidade rodoviária. Segundo o executivo, os projetos mostram que, em pouco tempo, a indústria automobilística conseguirá reduzir a níveis muito baixos as emissões de dióxido de carbono (CO2) dos automóveis, de cerca de 50 gramas por veículo. Ele citou o carro elétrico, os biocombustíveis e a recuperação de energia na frenagem.


Enquanto isso, o trânsito no Brasil mata 35 mil pessoas anualmente, entre 15 e 44 anos de idade. No mundo são 1,3 milhão de vítimas fatais por ano. Em Porto Alegre, com uma frota de 600 mil veículos para um universo de 1,4 milhão de habitantes, os últimos nove anos registraram 206 mil acidentes, com 64 mil pessoas feridas e 1,4 mil mortes, conforme a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).

Nos países mais pobres, 80% das mortes no trânsito são dos chamados usuários vulneráveis, ou as pessoas que não estão nos carros. O número de pessoas feridas no trânsito aproxima-se de 50 milhões. É para se refletir, quando o Brasil e o Rio Grande do Sul aparecem em posições lastimáveis nessa mortandade que, parece, jamais terá fim. Não se pode culpar apenas as autoridades de trânsito. É que sempre cabe ao motorista ter todos os cuidados.

Enquanto isso, a cada dia mais e mais automóveis são lançados nas ruas e avenidas das cidades, para alegria da maioria e alguma preocupação da sociedade, mesmo que o acesso ao automóvel pelas classes C e D só possa ser festejado. Mas não devemos correr. Assim, o sonho continuará se tornando realidade.

Arquivo INFOTRANSP