Segundo dados oficiais do Ministério da Defesa, até 2020, a Rússia terá os primeiros protótipos experimentais de um novo sistema de mísseis ferroviário.

"A decisão de iniciar o desenvolvimento de um sistema de mísseis balísticos ferroviário tomada pela liderança política do país é uma das respostas à ameaça que será representada pelo escudo antimíssil europeu no período de 2018 a 2020", disse o editor-chefe da revista Defesa Nacional e diretor do Centro de Análise do Comércio Mundial de Armas, Ígor Korótchenko.

"É justamente nesse período que o escudo antimíssil europeu terá novas modificações dos mísseis SM-3 e será capaz de interceptar mísseis balísticos intercontinentais russos. Por essa razão, Moscou fica obrigada a tomar contra-medidas adequadas."

Segundo ele, a frota de trens porta-mísseis deixará os meios técnicos de reconhecimento dos EUA completamente inseguros quanto à sua localização e será um bom reforço do conceito de medidas de retaliação eficazes.

Para Korótchenko, a melhor opção seria adaptar a versão naval do míssil balístico Bulavá à instalação em trens por caber em um vagão padrão, o que é importante em termos de camuflagem.

"Esse trabalho poderia ser feito em pouco tempo", afirma.

O veterano da Força de Mísseis Estratégicos e da indústria espacial russa Iúri Zaitsev também acredita que a frota de trens porta-mísseis reforçará significativamente o poder de combate do arsenal de mísseis da Rússia. Até recentemente, os trens porta-mísseis faziam parte do arsenal terrestre de dissuasão nuclear.

Histórico

Em fevereiro de 1983, a União Soviética adotou um trem porta-mísseis munido com um míssil de combustível sólido RT-23.

O trem era capaz de percorrer despercebido mais de 1.000 km por dia e lançar mísseis em qualquer ponto de seu percurso.

Uma composição ferroviária porta-mísseis integrava três locomotivas e 17 vagões, entre os quais um vagão de comando, vagão de pessoal e três rampas de lançamento.

O trem porta-mísseis deveria ser a principal arma de retaliação por apresentar uma maior probabilidade de sobreviver ao primeiro golpe nuclear do inimigo do que os demais meios de dissuasão nuclear.

A primeira composição ferroviária munidal com o míssil RT-23UTTH Molodets entrou em serviço em outubro de 1987.

Em meados de 1988, o país já tinha sete trens porta-mísseis. Em 1999, o número cresceu para 12.

Os trens estavam estacionados em depósitos ferroviários a uma distância de 4 km uns dos outros e se dispersavam quando saíam para o patrulhamento.

 Em toda a história dos trens porta-mísseis do país, o míssil Molodets foi lançado uma única vez durante os exercícios militares.

Lançado pelo trem na Região de Kostroma, no centro da Rússia, o míssil atingiu o alvo na Kamchatka, no Extremo Oriente, sem ser detectado pelos EUA.

No início dos anos 1990, a liderança política do país, com Mikhail Gorbachev à frente, mandou suspender as atividades dos trens porta-mísseis. Zaitsev afirma que os americanos temiam os trens porta-mísseis mais do que o míssil RS-20 (Satanás) e insistiam em sua retirada do serviço nas conversas com a URSS.

O veredicto final foi lavrado pelo START-2 (Tratado sobre a Redução das Armas Estratégicas): todos os RT-23UTTH deveriam ser removidos do serviço e desmantelados.

No entanto, após a retirada unilateral dos EUA do Tratado ABM, Moscou declarou irrelevante o START-2, ainda não aprovado pelos parlamentos dos dois países. Mesmo assim, mandou  retirar os trens porta-mísseis do serviço ativo.

Em 2003, em Briansk, foi desmantelado o primeiro e, em 2005, o último trem porta-mísseis estratégico russo.

Uma rede ferroviária ramificada e desenvolvida e uma rica experiência de operação de trens porta-mísseis, porém, permite ter esperança de que esse tipo de armas nucleares volte a servir o país. 

Rússia deve ter primeiros protótipos de novos trens porta-mísseis até 2020