30 abril 2011

Turistas reclamam dos preços no Brasil

"Planejava ficar um mês no Brasil, mas, quando vi os preços, resolvi ficar a metade do tempo." O comentário feito pelo canadense Cory Augustyn, 32 anos, no Rio de Janeiro resume a percepção crescente entre estrangeiros que visitam o País ou que nem chegam a vir repelidos pelos custos crescentes. Quem tenta reservar um hotel nas principais cidades do País se surpreende. Hoje é mais caro se hospedar no Rio do que em Tóquio, e São Paulo está acima de Berlim. 

Num ranking feito pela agência virtual Hoteis.com, o Rio é a 10ª cidade com a hospedagem mais cara, em uma lista de 50 destinos. Numa outra comparação, por classe de hotel, nas categorias duas, quatro e cinco estrelas, o Rio só perde para Nova York. Considerando-se apenas os três estrelas, a acomodação em Jerusalém também é mais salgada do que na capital fluminense. A diferença entre as listas ocorre porque no Rio, ao contrário de outras cidades, grande parte dos hotéis reservados pertence a categorias mais baixas, puxando o preço médio geral para baixo.

A carestia dos hotéis tem tido reflexo direto nos negócios das companhias aéreas que voam para o País. Algumas relatam que está difícil atrair o turista estrangeiro. "Infelizmente, a política hoteleira hoje no Brasil é de tarifas muito acima do normal. Isso impossibilita um pouco (a vinda de turistas), porque o custo fica muito elevado para o passageiro internacional", avalia o executivo da área comercial da Copa Airlines, Leandro Horta.
Grande parte dos altos preços se explica pelo descompasso existente entre oferta e demanda. O próprio presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi, sentiu na pele o problema. Há duas semanas, em uma viagem de última hora ao Rio, viu-se sem acomodação e teve de dormir na casa de um amigo. "Em função da pequena oferta de hoje e da procura ser muito forte, você tem preços maiores", explica. Ele afirma que, por causa da escassez de leitos, o Rio já está deixando de receber uma série de eventos. Um plano, porém, prevê a construção de 10 mil quartos na cidade até a Copa do Mundo de 2014.

CÂMBIO  - Já nas alturas, produtos e serviços pesam ainda mais no bolso dos estrangeiros por causa da valorização do real ante outras moedas. Em seis anos, a cotação do dólar saiu de cerca de R$ 2,15 para menos de R$ 1,60. Por conta disso, além de hospedagem, alimentação, entrada para atrações turísticas e transporte estão mais salgados para os turistas que vêm ao País. Andar de metrô no Rio e em São Paulo, por exemplo, custa mais do que em Los Angeles ou Roma. 

Prestes a embarcar no bondinho do Pão de Açúcar, pelo qual pagaria R$ 44, o canadense Cory, que viaja na companhia da finlandesa Eva Gronow, 20 anos, e da australiana Laura Kennedy, 31 anos, externou decepção com os preços. "Muitas coisas são mais caras até mesmo do que nos nossos países", diz o turista, ao lamentar que na viagem de seis meses pela América do Sul, a passagem pelo Brasil terá de ser encurtada. Um passeio na Estátua da Liberdade, em Nova York, custa o equivalente a R$ 30, aproximadamente.

Também surpresa com os custos, Laura reclama, principalmente, da alimentação. "Ontem pagamos R$ 22 por uma porção de 12 bolinhos de queijo. É muito caro." Nem mesmo se hospedando em um albergue, acomodação mais econômica, o grupo conseguiu escapar dos altos preços. "Pagamos R$ 33 durante a semana e R$ 45 no fim de semana. Na Argentina e no Chile, é mais barato", compara Cory.

Dados divulgados pela Embratur há duas semanas mostram que o número de turistas no Brasil chegou a 5,16 milhões em 2010, um aumento de 7,5% ante o ano anterior, mas ainda inferior ao recorde de 2005.

Apesar do avanço, o professor de economia Alcides Leite, da Escola de Negócios Trevisan, avalia que o número ainda é tímido na comparação com países como México e Argentina. "Somos um país de grande dimensão. Poderíamos ter de três a quatro vezes mais turistas do que recebemos."

O presidente da Embratur, Mário Moysés, reconhece que os preços estão elevados e afirma que o País precisa encontrar meios de lidar com o câmbio valorizado. "A valorização do real faz com que tenhamos um produto turístico com um preço cujo patamar exige que melhoremos em qualidade", declarou em evento.

DEMANDA INTERNA - Para Leite, porém, há outros fatores além do câmbio que explicam as tarifas cobradas. De costas para o turismo internacional, o País teria investido pouco no setor, o que resultou em baixa concorrência e custos altos para os turistas. Além disso, uma carga tributária pesada sobre produtos e serviços agrava a situação.

Tudo isso num momento em que a demanda interna está altamente aquecida. Com dinheiro no bolso e crédito disponível, a nova classe média entra com vontade no mercado consumidor de produtos turísticos, lotando os principais destinos do País. Esse quadro gera um ambiente ainda mais favorável a preços elevados.

"As classes C e D estão vindo para a nossa base de consumo", diz Fermi, da ABIH. "Nos últimos 15 anos, foram 30 milhões de brasileiros e todos os indicadores econômicos levam a crer que vamos ter mais 50 milhões nos próximos dez

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