30 abril 2011

Traçado do metrô gera discórdia entre moradores da Zona Sul até a Barra

Linha 4 racha a cidade

RIO - O Comitê Olímpico Internacional (COI) foi envolvido na sexta-feira na polêmica que criou um racha entre associações de moradores em relação às obras de expansão do metrô em direção à Barra da Tijuca . De um lado está a Câmara Comunitária da Barra, que defende o traçado que o Estado sugeriu e o COI aprovou: um prolongamento da Linha 1, indo da Praça General Osório, em Ipanema, até o Jardim Oceânico, na Barra. Do outro, 18 associações de moradores - a maioria da Zona Sul - e ONGs do movimento "A Linha 4 que o Rio Precisa", que defendem um projeto alternativo, com ramais e trajetos independentes.

A vereadora Andrea Gouvea Vieira (PSDB), representando as entidades que querem a revisão do projeto, entregou à presidente da comissão de coordenação das Olimpíadas 2016, Nawal El Moutawaqel, um manifesto contra o atual traçado . O COI preferiu ficar fora da polêmica. O coordenador de Jogos Olímpicos, Gilbert Felli, disse que o traçado é uma questão que tem que ser discutida com os governos locais.

O grupo dissidente propõe que os trens, após passarem pela Barra e por São Conrado, sigam para a Gávea, pegando depois Jardim Botânico, Humaitá, Laranjeiras (ou Cosme Velho) até chegar ao Largo da Carioca, no Centro. O governo do estado quer entregar para testes, em 15 de dezembro de 2015, cinco novas estações: Jardim Oceânico, São Conrado, Praça Antero de Quental, Jardim de Alah e a Praça Nossa Senhora da Paz. Destas, apenas Jardim Oceânico e São Conrado estão em obras - as demais estão em fase de licitação. A operação comercial começaria em maio do ano seguinte, três meses antes dos Jogos. Uma sexta estação, na Gávea, não deverá ficar pronta a tempo para as Olimpíadas. O custo do projeto chegaria a R$ 5 bilhões.

- Se vamos construir um metrô apenas para atender às necessidades de 20 dias das Olimpíadas o melhor é fechar a cidade e decretar feriado. Essa é uma obra que vai deixar um elefante branco. Se queremos deixar um legado, a situação ainda é reversível - diz Andrea.

Câmara da Barra critica dissidentes

O presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, Delair Dumbrosck, reagiu, dizendo que as três associações do bairro que querem mudar o projeto estão em minoria:
- Em 1998, quando começaram as discussões sobre o trajeto do metrô para a Barra, as associações de moradores da Zona Sul foram contra. Eles se opuseram também a outras proposta ao longo dos anos para melhorar o trânsito para o bairro, como construir um mergulhão na Praça Sibelius. Nesse momento, nós queremos construir o metrô que for possível.

A presidente da Associação de Moradores de Botafogo (Amab), Regina Chiaradia, rebateu Delair:
- Se o projeto sair conforme o proposto, não terá retorno. Nunca a estação da Gávea será construída. A história do Metrô provou isso deixando esqueletos inacabados pelo caminho: a estação São João (Botafogo) e a ligação Estácio-Carioca jamais foram feitas - disse.

A Câmara Comunitária da Barra e o Movimento da Linha 4 só concordam em um ponto. Eles não querem que a estação do Jardim Oceânico seja a única da Barra. Defendem que os trens sigam até o Terminal Alvorada, onde se integrariam aos ônibus dos corredores de BRTs Transoeste (Barra- Santa Cruz) e Transcarioca (Barra-Penha-Aeroporto Tom Jobim), em construção pela prefeitura. Pelos planos apresentados ao COI, o trajeto Alvorada-Jardim Oceânico seria coberto por uma extensão do Transoeste ainda não licitada pelo município. Delair provoca as demais associações com uma sugestão para viabilzar financeiramente a expansão na Barra:

- Se existem dúvidas sobre quando a estação da Gávea será concluída, que ela não seja feita agora. O dinheiro economizado seria usado para levar o metrô até o terminal Alvorada - disse Delair.
O Movimento Linha 4 alega que a estação da Gávea é essencial, pois temem que os trens circulem superlotados. Em meio à discussão, a presidente da Associação de Moradores do Leblon, Evelyn Rosenzweig, propôs uma solução intermediária. Ela sugere que o traçado proposto pelo governo do estado seja concluído, mas sob algumas condições:
- Se não for possível concluir a estação da Gávea, que ao menos seja projetada em dois níveis, e não apenas numa única plataforma. O ramal independente permitiria a expansão da Linha 4.
O governador Sérgio Cabral preferiu se manifestar sobre a polêmica em nota oficial, sem citar o traçado alternativo porque, segundo o Palácio Guanabara, este não tem estudos de viabilidade. A nota aborda o traçado original da Linha 4, licitado em 1998. Nele, o ramal teria cinco estações: Morro São João (Botafogo), Humaitá, Jockey Clube (Gávea), São Conrado e Jardim Oceânico (Barra). Segundo a nota, o traçado que está em construção é o que assegura a maior mobilidade para a população. A viagem da Barra ao Largo da Carioca levaria 33 minutos e a demanda de passageiros chegaria a 219 mil por dia.
A entrega do manifesto no Palácio da Cidade ocorreu logo após a prefeitura apresentar o site Cidade Olímpica(www.cidadeolímpica.rj.gov.br ou www.cidadeolimpica.com), em que o cidadão poderá acompanhar a evolução dos projetos para as OIimpíadas com recursos multimídia, que incluem fotos diárias tiradas dos canteiros, depoimentos de especialistas e da população beneficiada pelas obras. No primeiro dia, ficou congestionado e saiu várias vezes do ar. Logo depois do lançamento do site, Nawal explicou que o COI ficou satisfeito com o andamento dos projetos. Mas, por duas vezes, disse esperar que na próxima visita, em junho, a Autoridade Pública Olímpica (APO) esteja formalmente constituída. A implantação da APO já está atrasada cerca de um ano. Para que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles seja nomeado, terá ainda de ser sabatinado pelo Senado.




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