A estudante Karin Camolese Vivan recuperou o celular perdido na Estação Sacomã após 20 dias
Procura-se o dono do livro em braile do escritor Monteiro Lobato. Na capa da obra Reinações de Narizinho, a identificação de Matheus Lombardo, um estudante da 2ª série, turma F, 2008. Procura-se Larissa para entregar um quadro que ela pintou em homenagem ao Dia dos Pais, em agosto de 2007.
Procura-se a estudante da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Eduardo Prado, que perdeu seu álbum com fotos da formatura de 2006. Procura-se Rubens e Lena, donos de uma coleção de discos em vinil de artistas como Nilton César, Adilson Ramos, Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano e Wando.
Todos esses objetos foram perdidos em alguma estação do Metrô de São Paulo, em datas imprecisas, e que hoje fazem parte de uma espécie de museu no setor de Achados e Perdidos da companhia, localizado na Praça da Sé, na região central da capital paulista. Os donos nunca foram localizados nem procuraram o serviço para resgatar seus pertences.
Além de livros, quadros, LPs, álbuns de formatura e de casamento, o acervo da sala com cerca de 30 m² abriga aparelhos de telefones celular e analógico, a réplica de uma plataforma de petróleo, um aparelho de scanner, um trompete e um porta-chinelos de couro. No mesmo local, se vê próteses dentárias, livros, apostilas, bolsas, malas, mochilas e muletas.
Os objetos mais comuns encontrados no Metrô, entretanto, são guarda-chuvas, aparelhos de telefonia móvel, óculos, carteiras e documentos. Há 48 gavetas reservadas para os celulares perdidos e a mesma quantidade para os óculos.
Só em 2010, de acordo com o Metrô, foram encontrados cerca de 37 mil objetos, sendo que 26% desse total - ou 9,62 mil objetos - foi devolvido aos donos. Aparelhos celulares, por exemplo, são recuperados por cerca de 70% dos usuários, sendo que carteiras, bolsas, mochilas e aparelhos eletrônicos estão entre os pertences mais devolvidos, diferente dos guarda-chuvas, relógios e óculos, recuperados por menos de 20% dos usuários "esquecidos".
Os objetos ficam à disposição por dois meses, e o que não é devolvido segue para o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (roupas, por exemplo) ou para os órgãos emissores (documentos). Os produtos perecíveis (alimentos) são descartados, mas dinheiro é levado para um local adequado, onde o "dono" só poderá resgatá-lo se descrever com exatidão a quantidade de notas e detalhes de como estava acondicionado (preso por um elástico, por exemplo).
A Central de Achados e Perdidos funciona desde 1974, ano do início da operação dos trens subterrâneos em São Paulo. De lá para cá, os funcionários contam que até um fogão foi "perdido" nas dependências do Metrô. A hipótese mais provável é que o usuário, sem mobilidade para transportar, decidiu abandonar seu utensílio doméstico ali mesmo, na estação.
O que se perde e o que se acha
Portador de deficiência visual, o aposentado Marco Rogério, 45 anos, perdeu a sua bengala há cerca de 20 dias na Estação Sé/Linha Azul. Ele comprou um acessório novo, mas ainda tem esperança de recuperar a bengala perdida. Na sexta-feira, ele foi ao setor de Achados e Perdidos, mas não teve sucesso.
"Cheguei de viagem e embarquei de volta para casa na Estação Tietê com duas malas. Quando levantei para fazer a baldeação, na Sé, percebi que a bengala havia caído. Pedi ajuda para um funcionário, mas não conseguimos encontrá-la. Não sei quem teria interesse em uma bengala. Só posso dizer que não foi um cego que achou", disse Marco, com bom humor.
Já o aposentado Aurélio Henrique Soares, 66 anos, teve sucesso na primeira vez que procurou o setor do Metrô. Ele recuperou na última sexta-feira a carteira da mulher, Maria Antonia, perdida havia um mês e meio em uma van, na zona leste. "Foi como ganhar na Mega-Sena, porque ela perdeu em uma van e devolveram aqui", afirmou, exibindo o documento de identidade e Bilhete Único reencontrados.
Luiz Cláudio Assunção foi outro usuário que comemorou a boa sorte. Ele perdeu o exame de ressonância magnética da mãe, Natália Flores Assunção, na Estação Jardim São Paulo, na quinta-feira, por volta das 20h. Na sexta-feira, às 13h30, ela recuperou o envelope com o exame. "Minha mãe nem sabe que eu perdi. Antes de contar a ela, resolvi passar aqui e deu certo. O exame era importante para ela e já estava até pensando na desculpa que iria dar", confessou.
A estudante Karin Camolese Vivan, 23 anos, conseguiu, após 20 dias, achar o celular perdido na Estação Sacomã. Na sexta-feira (15), ela foi informada por um funcionário que o aparelho fora encontrado. Não conseguiu, porém, levá-lo embora porque era preciso apresentar uma nota fiscal, medida determinada pelo Metrô para não devolver objetos para o dono "errado". Mesmo indo embora de mãos vazias, ela comemorou. "Comprei outro, mas fiquei feliz por ter encontrado. Agora, talvez eu venda esse para pagar o novo", disse ela.
Em alguns casos, os funcionários do setor de Achados e Perdidos entram em contato com o usuário para avisá-lo do objeto recuperado. Foi o que aconteceu com o radialista João Vieira, 51 anos. Ele perdeu o crachá da empresa na segunda-feira e foi até a Estação Sé para buscar o documento quatro dias depois. "Eles tiveram o cuidado de ligar para a empresa e avisar que o crachá estava aqui. Para falar a verdade, nem percebi que havia perdido (o crachá). Os funcionários do Metrô é que ligaram avisando, não esperava", contou.
Como o serviço funciona
De acordo com o Metrô, o processo de devolução conta, antes de mais nada, com a "honestidade e solidariedade de todos os envolvidos", de quem encontra a quem recebe e guarda os objetos ou documentos.
De acordo com o Metrô, o processo de devolução conta, antes de mais nada, com a "honestidade e solidariedade de todos os envolvidos", de quem encontra a quem recebe e guarda os objetos ou documentos.
Todo o material encontrado nas estações é enviado em malotes para cadastramento na Estação Sé do Metrô, onde funciona a Central de Achados e Perdidos. O funcionário responsável pelo recebimento abre os malotes diante de câmeras de segurança e confere os objetos com uma lista enviada pela estação de origem.
Feita a checagem, os itens são cadastrados em um banco de dados e, depois, guardados na sala de objetos à espera do dono. O que chega com identificação possibilita ao Metrô entrar em contato com o usuário. O local onde o material fica armazenado é monitorado 24 horas por dia por câmeras de segurança.
O que fazer em caso de perda
O Metrô orienta o usuário que perdeu um objeto a procurar um funcionário na companhia e informá-lo sobre sua perda.
O Metrô orienta o usuário que perdeu um objeto a procurar um funcionário na companhia e informá-lo sobre sua perda.
O recolhimento do material é feito em horários de pouco movimento nas estações. Em hipótese alguma, segundo o Metrô, os usuários devem tentar recuperar um objeto que caiu na via do trem. É possível também procurar documentos pela internet, no site http://www.metro.sp.gov.br/servicos/achados/achados.shtml.
O posto central de Achados e Perdidos funciona na Estação Sé, de segunda a sexta, das 7h às 20h, exceto feriados. A Linha 5-Lilás também tem posto na Estação Largo 13, com horário de atendimento de segunda a sexta, das 8h às 17h, menos nos feriados. Mais informações podem ser obtidas pelo número 0800-770-7722, diariamente, das 5h30 às 23h30.