31 maio 2013

Trem, saída para pesadelo das grandes cidades

Pergunta inevitável que se faz quando alguém fica preso em um desses enormes congestionamentos que estrangulam a vida nas grandes cidades: quando tudo vai travar de vez?

Falta pouco, pelo vagaroso andar das carruagens. Por maiores que sejam as intervenções urbanas – como a construção de túneis, pontes e viadutos ou alargamento de marginais –, de pouco adianta; logo os veículos engolem os novos espaços e tudo volta a parar.
Ou seja, soluções pontuais têm sido inócuas diante do volume avassalador de carros. Só na cidade de São Paulo são mais de sete milhões de veículos licenciados. Somados aos milhares que vêm de fora e precisam circular pela Capital, o resultado é o fogo do inferno, como vemos diariamente. 

Numa cidade em que um simples pneu furado é capaz de provocar quilômetros de engarrafamento, o que se chama de mobilidade urbana não merece esse nome, pois quase nada se move em ruas e avenidas.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas concluiu que o prejuízo de manter as filas de carros parados equivale a 1% do PIB brasileiro. No ano passado, a conta chegou a R$ 40 bilhões. Esse custo soma gastos com combustível para carros, ônibus e caminhões parados, estimativas sobre gastos com saúde pública em virtude da poluição e as horas de salário perdidas pelas pessoas presas em seus veículos. Em 2002, quando a FGV fez o estudo pela primeira vez, o prejuízo coletivo foi de R$ 10 bilhões.

Em dez anos o desperdício foi multiplicado por quatro. É por isso que os governos federal, estaduais e municipais passam a dar tanta importância ao transporte sobre trilhos, não apenas para resgatar um passado em que o País era privilegiado por sua malha ferroviária, mas para devolver às maiores cidades a mobilidade perdida. E melhor qualidade de vida. Além do projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV), que ligará Campinas ao Rio de Janeiro, e do ferroanel de São Paulo, ambos do governo federal, cidades e Estados tratam de multiplicar seus investimentos.

Expansão de metrôs, novas linhas de monotrilhos e trens de média velocidade são projetados para destravar o caos urbano e aliviar as estradas que, no caso de São Paulo, viraram apenas avenidas congestionadas. As reformas recentes nos trens do Metrô de São Paulo e nos sistemas da CPTM trouxeram uma sensível melhoria nesse transporte, pois já incorporam novas tecnologias que permitem viagens mais rápidas e confortáveis. Não à toa, houve um salto de 63% no número de usuários na CPTM e de 44% no Metrô no período de 2006 a 2012.

As malhas de trens metropolitanos conduzem hoje cerca de 6,8 milhões de pessoas por dia. 

O projeto do governo paulista para o trem intercidades também é grandioso, com parceria público-privada. 

Está prevista uma malha ferroviária de 430 quilômetros para ligar várias cidades da região mais rica do País.
As obras devem começar em 2014, com um prazo de três anos para sua conclusão. 

É o tipo de trem que há muitos anos faz parte do sistema de transporte coletivo de vários países europeus, numa perfeita integração com os Trens de Alta Velocidade, como deve ocorrer aqui também. 

No começo estão previstos dois trajetos: o primeiro ligará a Capital a Campinas, Americana, Jundiaí, Santo André, São Bernardo, São Caetano e Santos.
No segundo, estarão interligadas São Paulo, Sorocaba, São Roque, São José dos Campos, Taubaté e Pindamonhangaba. 

Essa região concentra 25% do PIB do País, o que prova a importância do projeto. 

Perto de dois milhões de pessoas circulam diariamente entre suas cidades para trabalhar ou estudar, sendo o carro e o ônibus os meios utilizados, o que ajuda a complicar ainda mais o trânsito urbano e as rodovias nos horários de pico.
A velocidade média dos trens intercidades deve ser de 120 km/hora, podendo chegar a 160 km/hora, argumento imbatível diante da imagem desoladora da fila interminável de carros, ônibus e caminhões pelas cidades. 

As iniciativas na direção desse sistema de transporte ferroviário trarão benefícios incalculáveis para os cidadãos, além de servir de estímulo aos governos de outras grandes concentrações urbanas que convivem com o pesadelo, como o Rio de Janeiro. 

Mas vale a pena reduzir a balbúrdia que vigora hoje nas regiões metropolitanas.
*Paulo Fontenele é presidente da CAF Brasil. Economista, foi secretário de Planejamento do Ministério dos Transportes (1994 a 1995) e secretário-executivo do Ministério dos Transportes (1998 a 2000).

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