19 maio 2013

Metrô de BH bate recorde e transporta o equivalente à população de Ipatinga

 Marca revela que cidadãos tentam fugir do tráfego caótico optando por um serviço de estrutura obsoleta, que há anos exige modernização

Trem metropolitano de BH bate recorde, transportando em um único dia o equivalente à população de um município como Ipatinga ( (ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS))
Trem metropolitano de BH bate recorde, transportando em um único dia o equivalente à população de um município como Ipatinga
 
Em apenas um dia, uma quantidade de passageiros equivalente à população inteira de Ipatinga, no Vale do Aço, passou pelo metrô de Belo Horizonte. Mesmo sem a expansão, o sistema sobre trilhos atrai usuários e bateu recorde ao transportar 241.624 pessoas na última quarta-feira, 11 mil a mais do que a média diária de 230 mil embarques. 

A superação ocorreu uma semana depois de a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) ter registrado marca histórica de 237.001 usuários. 
Os recordes fazem parte de um contexto em que a adesão ao metrô cresceu quase 10% em abril, na comparação com o mesmo mês do ano passado, e, na avaliação da própria CBTU, reflete uma fuga do cidadão dos congestionamentos nas ruas e avenidas da capital.

Quem usa o sistema de transporte sente na superlotação o impacto desse crescimento, que não foi acompanhado por maior conforto e agilidade. Tanto que às 16h de sexta-feira, horário considerado fora do pico, o assunto na Estação Central, a terceira mais lotada entre as 19 do percurso, era somente o “empurra-empurra”. “Antigamente não tinha essa quantidade de gente neste horário. Aqui é o seguinte: você tem que empurrar, porque senão não tem jeito de entrar”, conta o vendedor Guilherme Damasceno, de 19 anos. Morador de Contagem, ele enfrenta o aperto para ir mais rápido para casa. “O ônibus fica agarrado no trânsito e você não sabe quando vai chegar”, diz.

No mês passado, 5,7 milhões de passageiros embarcaram na Linha 1 – que percorre 28,2 quilômetros, do Eldorado, em Contagem, à Estação Vilarinho, em Venda Nova. O aumento foi de 9,6% em relação a abril do ano passado, quando 5,2 milhões de pessoas usaram o sistema. Nesse mesmo período, a frota de carros da capital cresceu 5,6%, salto de 1.455.588 para 1.537.871 de veículos. “A elevação sucessiva da demanda em BH, bem como o novo recorde, têm sido creditados a uma preferência natural do consumidor, que busca fugir dos vários congestionamentos provocados por obras viárias que vêm tumultuando o trânsito na cidade”, informa a CBTU em nota.

Para o coordenador do Núcleo de Transportes (Nucletrans) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Gouvêa, os números reforçam a necessidade de incrementar o sistema, que atualmente tem a capacidade de transportar 26,6 mil passageiros em uma hora, segundo a CBTU. “Esse é um atestado de que o poder público já deveria ter investido no metrô para atender essa demanda. Com o crescimento, o risco é de a estrutura existente não suportar o número de passageiros. Parte desse aumento vem de pessoas que já não aguentam mais a Avenida Cristiano Machado, por exemplo. Quem começa a andar de metrô não volta para o transporte rodoviário”, afirma.

Moradora de Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, Betânia Moreira, de 39, faz parte desse grupo que abandonou ruas e avenidas para dar preferência aos trilhos. “Faz dois anos que pego só o metrô para ir ao trabalho. Antes, perdia quase duas horas no trânsito. Agora gasto a metade”, afirma. A faxineira Josenária de Araújo, de 37, também é fiel ao meio de transporte e fala com bom humor de um problema sério: “Aqui vive lotado que nem lata de sardinha. A gente vai encostando um no outro. É na base do arrocha”.

O especialista Ronaldo Gouvêa estima que o transporte rápido por ônibus (BRT) – em implantação nas avenidas Antônio Carlos e Pedro I, além da Cristiano Machado – alivie um pouco a situação, mas ressalta a importância da expansão do sistema sobre trilhos. “O metrô é reconhecido mundialmente como o meio mais adequado para o transporte de massa”, afirma. Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da UFMG, Leandro Cardoso destaca que somente com a construção das linhas 2 (Calafate/Barreiro) e 3 (Savassi/Lagoinha) será possível quantificar com mais rigor a migração do transporte rodoviário para o metrô. “Mas, além da construção dessas linhas, é preciso pensar em soluções de transporte em escala metropolitana”, ressalta.

São mais de 25 anos de espera pela ampliação do sistema de metrô em BH, que prevê a expansão da Linha 1 até o Novo Eldorado e a construção dos ramais 2 e 3. De acordo com a Trem Metropolitano de Belo Horizonte (Metrominas), as obras começarão no início do ano que vem. 

No mês passado, os governos estadual e federal anunciaram a liberação de R$ 52,8 milhões pela Caixa Econômica Federal para contratação dos serviços de topografia e projetos executivos. 

Para junho, está prevista a conclusão dos trabalhos de sondagem, que já atestaram a viabilidade do metrô na capital.

A ampliação totaliza R$ 3,1 bilhões, sendo R$ 1 bi da União, R$ 750 milhões da prefeitura e governo do estado e o restante da iniciativa privada.
Enquanto isso...

...modernização a passos lentos

A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) promete melhorias na Linha 1 do metrô. Dez novos trens vão integrar a frota, hoje com 25 carros. Mas as máquinas, que custaram R$ 172 milhões, ainda vão demorar a chegar, com previsão de entrega para o segundo semestre de 2014. 
 
Outros R$ 14,6 milhões estão sendo empregados na modernização das composições antigas. Elas receberão novo sistema de freios. Os testes começam este ano e o trabalho será concluído em três anos.
 

Arquivo INFOTRANSP