Depois de anos sem investimentos, governo retoma projetos de melhoria e construção em grande escala
Durante muito tempo, as estradas de ferro do
mundo foram consideradas um meio de transporte em vias de extinção.
Os trens
viajavam lentamente, eram desconfortáveis e pouco obedeciam os horários
previstos.
O investimento em novas malhas ferroviárias também era escasso.
Porém,
desde os anos 2000, com a construção das ferrovias de alta velocidade, começou
uma reviravolta nesse cenário e as estradas de ferro ganharam novo fôlego.
Hoje
em dia, a concorrência aumentou não somente em relação ao transporte
rodoviário, mas também com as companhias aéreas.
Os japoneses foram os primeiros a perceber a vantagem dos trens em relação aos
aviões.
Por ocasião dos Jogos Olímpicos
de Tóquio, em 1964, foi inaugurada a primeira linha ferroviária de alta
velocidade do mundo, a Shinkansen.
O trem de alta velocidade se mostrou tão bem
sucedido que, em três anos, o lucro obtido com a linha férrea superou as
despesas operacionais, incluindo a taxa de juros sobre os empréstimos assumidos.
Foi somente em 1991 que surgiu a primeira ferrovia de alta velocidade na
Europa, a alemã ICE. Na época, os trens-bala livraram da ruína as estradas de
ferro que estavam ameaçadas pela concorrência com os aviões.
Essa tendência
estava também presente na França, onde as companhias aéreas praticamente monopolizaram
os percursos de 250 a 500 km de distância a partir de 1970. A implementação do
serviço de trens de alta velocidade a partir do ano 2000 não só devolveu os
passageiros ao transporte ferroviário, como também reduziu os voos de média
distância em diversas cidades.
Na Rússia, entretanto, esse movimento surgiu muito mais tarde do que na Europa.
O primeiro trem-bala do país, “Sapsan” (falcão-peregrino, em russo), foi posto
em funcionamento no final de 2009.
Desde então, os moradores de Moscou se
acostumaram a utilizar o “Sapsan” para viajar a São Petersburgo ou Nijni
Novgorod, enquanto os peterburguenses perderam o hábito de voar para a vizinha
Finlândia após a introdução do trem-bala “Allegro”.
Em 2010, o “Sapsan” transportou 1,9 bilhões de passageiros no trajeto Moscou-São
Petersburgo, mas no ano passado esse número subiu para 3 bilhões. Igualmente,
dos 299,4 mil passageiros transportados “Allegro” em 2011, cerca de 55 mil
passageiros a mais passaram a usar esse mesmo trem no ano seguinte.
“É impossível separar o processo do próprio desenvolvimento das cidades da
influência que o surgimento das linhas ferroviárias de alta velocidade exerce
sobre ele.
Mas o próprio fato da lotação do Sapsan nunca ser inferior a que 85%
nos diz muito”, afirma Andrêi Rojkov, analista sênior do setor de transportes
da Companhia de Investimentos Financeiros Metropol. “Os trens parecem bem
adaptados às necessidades dos passageiros e o fato de encontrarmos poucas malas
neles indica que esses meios são usados sobretudo para viagens de negócios”,
acrescenta o analista.
Além disso, os trens começaram a suprimir o transporte por terra para os
percursos até os aeroportos. Na Rússia, os chamados “Aero Express” dão acesso
direto a todos os aeroportos de Moscou.
A popularidade do meio de transporte
fez com que um serviço semelhante entrasse em operação nas cidades de
Vladivostok e Sôtchi, no ano passado, com possibilidade de implantação em São
Petersburgo e em Kazan num futuro próximo.
“As ferrovias de alta velocidade são muito úteis quando muitas vias de
transporte que conectam as cidades estão congestionadas e expandi-las é problemático.
Como é necessário garantir a mobilidade da população de alguma forma, elas não
ocupam muito espaço e podem transportar um grande número de passageiros”,
comenta Marta Lawrence, especialista sênior em transportes do Banco Mundial.
Melhorar
é preciso
Apesar dos projetos de alto nível em relação ao transporte de passageiros, as
ferrovias russas, ao contrário das europeias, continuam ainda a transportar
principalmente cargas.
De acordo com dados fornecidos por Iúri Saakian,
diretor-geral do Instituto dos Problemas dos Monopólios Naturais, a proporção
de trens de carga na UE varia de 5 a 40% e na Rússia é de 73% . “Na Europa, os
trens de carga são preponderantemente leves, curtos e percorrem pequenas
distâncias, enquanto que, na Rússia, eles são mais pesados, de 3 a 5 vezes mais
longos e percorrem distâncias de 4 a 6 vezes maiores”, diz o especialista.
Segundo ele, os sistemas ferroviários russos e europeus são diferentes em
termos funcionais e tecnológicos, por isso é difícil compará-los.
Na Rússia, a
velocidade dos trens é mais baixa, pois as estradas estão muito carregadas.
Ao
comparar os indicadores russos e europeus, levando em conta o tráfego do
transporte de carga junto com o do transporte de passageiros, verifica-se que
na Europa ele é de 4 a 5 vezes mais baixo que na Rússia.
Mas ao fazer uma
comparação apenas em relação ao tráfego de cargas, constata-se que, na Europa,
as estradas de ferro estão de 7 a 30 vezes mais livres. Na Itália, por exemplo,
o valor desse indicador é 27,5 vezes menor do que o russo.
Por essa razão, a Rússia está atualmente solucionando questões mais triviais do
que a construção de novas ferrovias para trens de alta velocidade; o país está
tendo que enfrentar os problemas das ferrovias que já existem. “Entre eles,
podemos destacar o desgaste e a capacidade insuficiente das principais
ferrovias, bem como a baixa lucratividade do transporte de passageiros, ao lado
de um fluxo de passageiros relativamente baixo”, constata o analista do
Investcafe, Andrêi Chenk.
Além disso, para concretizar os projetos de uma ferrovia moderna, são necessários
investimentos adicionais que ainda não estão disponíveis.
O custo da linha
Moscou-São Petersburgo é estimado em 16 bilhões de dólares, e da linha
Moscou-Ekaterimburgo, que planejam terminar de construir até a Copa do Mundo
2018, é de 48 bilhões de dólares.
Enquanto isso, o programa de investimentos da
RZD (Russian Railways) destinou apenas 50 bilhões de dólares para o período
entre 2013 e 2015.
Esse valor é a metade do investimento da China na construção
de uma única ferrovia para trens-bala
http://gazetarussa.com.br/ciencia/2013/04/18/ferrovias_russas_apostam_na_velocidade_18737.html.