19 dezembro 2013

Em dez anos, o número de carros por habitante dobrou na RMBH

         Em 2002, havia um automóvel para cada quatro pessoas, contra a atual proporção de um carro para cada duas pessoas
 
Trânsito ficou congestionado          
Atualmente a demanda pelo transporte coletivo é basicamente idêntica à do transporte individual
                     
    Em uma década, o número de carros por habitante na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) dobrou. Enquanto em 2002, havia um automóvel para cada quatro pessoas, atualmente a proporção é de um para dois moradores. A maior quantidade de veículos particulares fez com que, nos últimos dez anos, a parcela da população que opta pelo transporte coletivo se equiparasse à que escolhe o meio individual.
                
De acordo com a pesquisa Origem Destino, apresentada ontem pelo secretário de Estado de Gestão Metropolitana, Alexandre Silveira, 30,8% dos moradores da RMBH usam, hoje, carro ou moto para se locomover, contra 31,4% que optam pelo transporte de massa. Em 2002, esses índices eram de 18,2% e 44,2%, respectivamente.

Dois fatores explicam a mudança de cenário diagnosticada pelo estudo, segundo o diretor geral da Agência de Desenvolvimento da RMBH, Gustavo Horta Palhares. De acordo com ele, além do crescimento da renda, que justifica a maior quantidade de veículos particulares, o incremento do tempo médio de viagem dentro da RMBH fez com que a população abrisse mão do transporte coletivo. “Com mais de 60 minutos para cada deslocamento, as pessoas entenderam ser necessária a transferência para o modal individual”, destacou.

Conforme o levantamento, o usuário do transporte coletivo que, em 2002, demorava 42 minutos para se deslocar na região metropolitana, hoje leva 61,7 minutos. No caso do veículo individual, o tempo médio passou de 23 para 31,7 minutos em idêntico período.

A situação se agrava à medida em que o usuário do transporte de massa precisa se deslocar várias vezes ao longo do dia. A pesquisa diagnosticou que as pessoas que mais se locomovem são as que têm maior renda, o que ajuda a explicar o interesse no carro próprio. No geral, o moradores da região se deslocam em média, atualmente, 2,66 vezes por dia, contra 1,49 em 2002.

Metrô. Para o secretário de Gestão Metropolitana, o levantamento apresentado ontem, mais uma vez, chamou a atenção para a necessidade dos investimentos no metrô de Belo Horizonte. “A pesquisa evidencia a necessidade de cobrarmos do governo federal. Sabemos que o metrô é uma obrigação federal e Belo Horizonte foi deixada de lado, o que o que piorou muito a questão da mobilidade”, afirmou. “Se hoje há esta prevalência do transporte individual, é muito devido à falta de investimentos no metrô”, complementou Silveira.

A presidente da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo de BH e Região Metropolitana, Gislene Gonçalves dos Reis, reafirmou a necessidade do metrô para minimizar a situação do trânsito. “Somente melhorando o transporte público ninguém mais precisará comprar carro”. Para ela, soluções alternativas, como o Move (nome dado ao BRT), não são suficientes. “O Move só vai maquiar. Mas, no momento em que as estações ficarem superlotadas, o caos estará instalado, vai haver briga pelo transporte. Só o metrô é a solução”, destacou Gislene.
Especialista defende descentralização do fluxo

Embora seja apontado pela maioria da população como a solução para o trânsito, o metrô não é um consenso. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da UFMG Dimas Gazolla, a solução para cidades da proporção de Belo Horizonte é promover a descentralização territorial.

Segundo Gazzolla, o metrô é indicado para locais com população acima de seis milhões de pessoas. A região metropolitana de Belo Horizonte tem atualmente quatro milhões, mas o especialista destaca que esse número não irá oscilar consideravelmente nos próximos anos. “É mais inteligente investir recursos na redistribuição das atividades, criando novos centros que reduzam a necessidade de deslocamentos e que sejam atendidos por sistemas mais leves, como BRT. Até porque, não temos recursos para um metrô de qualidade”.

Arquivo INFOTRANSP