Nos últimos 50 anos, o número de centros urbanos cresceu
mais que cinco vezes na América Latina e no Caribe e hoje a metade da população
urbana na região (222 milhões de pessoas) vive em cidades com menos de 500 mil
habitantes.
De acordo com o relatório Estado das Cidades da América Latina e
do Caribe, divulgado hoje (21) pelo Programa das Nações Unidas para os
Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), cerca de 14% dos habitantes da região estão
nas megacidades (65 milhões).
O êxodo rural perdeu força e as migrações ocorrem hoje, sobretudo entre
centros urbanos.
O crescimento populacional também tem caído, o que contribui
para a queda do desemprego e da pobreza. Segundo o oficial principal de
Assentamentos Humanos do ONU-Habitat, Erik Vittrup, essa oportunidade de tornar
as cidades mais inclusivas e melhores para seus habitantes pode ser desperdiçada
se não forem revistos os atuais modelos de crescimento e desenvolvimento nas
cidades da região.
“Os modelos de crescimento das cidades nos anos 90 e anteriores não se
adaptam aos desafios atuais. É ridículo que estejamos reproduzindo modelos de
cidade focados na expansão horizontal.
A vantagem de morar na cidade é a
concentração urbana, da estrutura urbana, de serviços”.
Para o representante da ONU, a densidade demográfica reduz custos e impactos
ambientais, além de estimular a criatividade e a cultura.
Esses benefícios só
podem ser sentidos se houver uma boa administração e planejamento urbano.
“Não precisamos de mais terras para uma cidade crescer. Ela pode crescer para
cima, por exemplo”, disse. Ele citou também como alternativa o reaproveitamento
das zonas centrais subaproveitadas, que já têm infraestrutura e equipamentos
prontos.
Se em 1950 havia 320 cidades com pelo menos 20 mil habitantes, meio século
depois o número passou para 2 mil. As metrópoles (com mais de 5 milhões de
habitantes), que não existiam na América Latina e no Caribe em 1950, hoje somam
oito na região: Cidade do México, São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Lima,
Bogotá, Santiago e Belo Horizonte.
As cidades com maior densidade populacional são as que estão crescendo menos
em termos populacionais desde a década de 1980 e, ao mesmo tempo, perdendo
vantagens competitivas. Já as cidades com menos de 1 milhão de habitantes são as
que mais têm crescido, mas também indicam movimento de queda.
O estudo mostra que a especulação imobiliária é um problema comum na maior
parte dos países estudados e contribui para a expansão das periferias, do número
de rodovias e centros comercias, além de condomínios fechados.
Esse tipo de
crescimento também estimula o uso de transportes individuais em detrimento da
criação de um tecido urbano interconectado. As consequências são
congestionamento, poluição e periferias que crescem desordenadamente, sem
infraestrutura e sem meios de transporte adequados.
“Com isso, há aumento do preço do transporte, da energia, a degradação do
meio ambiente, de dinheiro público que deveria estar sendo investido de outras
formas, entre outros problemas”, citou Vittrup.
A pesquisa mostra ainda que o número de veículos individuais duplicou nos
últimos dez anos, sem planejamento a longo prazo para lidar com os desafios da
mobilidade urbana.
O relatório elogia as iniciativas de alguns governos de
resgatar as zonas centrais, criar ciclovias, mas lamenta que essas não sejam uma
tendência.