19 agosto 2012

Em meio a disputa política, metrô de Buenos Aires vive sua pior crise


Nem governo Cristina nem prefeitura querem assumir serviço, com três greves em três meses

Transportes públicos na Argentina recebem subsídios generosos do Estado para diminuir impacto da inflação
Leo La Valle - 10.ago.2012/Efe
Parada de ônibus em Buenos Aires, uma das alternativas para os usuários do metrô durante a paralisação do serviço
Parada de ônibus em Buenos Aires, uma das alternativas para os usuários do metrô durante a paralisação do serviço

Uma disputa política entre o governo nacional e o da Prefeitura de Buenos Aires está fazendo com que o metrô da capital argentina atravesse sua pior crise desde que foi fundado, em 1913.

Na última semana, teve fim a terceira greve dos últimos três meses, que durou dez dias e causou caos na cidade.

Agora, vive-se o impasse para saber quem o administra e se seus operadores vão voltar a parar, uma vez que não tiveram todas suas reivindicações atendidas.

O chamado "subte", utilizado por 1 milhão de usuários, é operado desde os anos 90 por empresas concessionárias, mas é difícil precisar a quem ele pertence.

Em janeiro, a presidente Cristina Kirchner havia decidido transferi-lo da esfera do governo federal para a cidade de Buenos Aires.

Um acordo foi firmado entre ela e o prefeito Mauricio Macri. Porém, ambos se desentenderam quanto à transferência dos recursos que o mantêm. Cristina recusou-se a repassar os subsídios que o sistema recebia, e Macri disse que, sem eles, não aceitaria o encargo.

Uma terrível tragédia no sistema ferroviário, em março, com 51 mortes, terminou de convencer o prefeito.

Temeroso de que o mesmo pudesse ocorrer com o metrô, tentou devolvê-lo ao poder federal, que não o aceitou.

O impasse estava armado, quando o sindicato dos operadores reivindicou aumento de 28%. Nem Cristina nem Macri quiseram negociar e o serviço foi interrompido.

O prefeito acusou a presidente de estar manipulando os grêmios para que atuem para dinamitar sua imagem.
Macri também denunciou que a Polícia Federal havia sido retirada da vigilância das estações por razões políticas.

Na noite de segunda-feira, o sindicato aceitou uma proposta dos representantes de Macri de um aumento de 23%. O serviço se normalizou. Para Lucio Castro, especialista em transportes, a solução a que se chegou é "instável".

"Sem resolver a questão de fundo, que é quem controla o metrô, ficam no ar os temas dos subsídios, da manutenção, da estabilidade dos trabalhadores, dos salários. Pode haver nova paralisação a qualquer momento."

SUBSÍDIOS

Desde a gestão Néstor Kirchner (2003-2007), os transportes públicos recebem subsídios do Estado.

 Foi a forma encontrada para que o impacto da inflação herdada da crise de 2001 não fosse sentida pela população. No caso do metrô, 30% é pago pelos bilhetes, e 70% é subsidiado.

"Sem os subsídios, o metrô deveria custar 5,50 pesos, o ônibus, 7, e o trem, 15. Nenhum governante quer pagar o custo político desses aumentos", afirma a economista Marina Dal Poggetto.

Críticos do sistema dizem que, por a passagem ser muito barata, não se investe em melhorias e manutenção, e os acidentes acontecem.

Macri diz que Cristina está em campanha para fazê-lo desistir de ser presidente em 2015. "Isso não vai acontecer", afirmou. E acrescentou que a população deve deixar de andar de metrô se a situação continuar assim, para evitar novos acidentes.

Por sua vez, os kirchneristas dizem que Macri é negligente e que não cumpre com o que foi acordado.

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