13 setembro 2013

Descoberto no Rio sítio arqueológico com peças da época do Império


Peças foram encontradas no terreno da Avenida Francisco Bicalho, ao lado da antiga estação de trens da Leopoldina
Peças foram encontradas no terreno da Avenida Francisco Bicalho, ao lado da antiga estação de trens da Leopoldina
Foram encontradas mais de 200 mil peças, inteiras ou fragmentadas, que remontam ao Rio de Janeiro dos séculos XVII, XVIII e XIX, nas obras da Linha 4 do metrô, que liga a Barra da Tijuca a Ipanema, no Rio de Janeiro.

"Podemos estar diante do mais importante sítio arqueológico da cidade. 

A quantidade e qualidade do material encontrado são impressionantes", afirma Cláudio Prado de Mello, arqueólogo responsável pelo trabalho de pesquisa no local.

Um dos objetos encontrados por Cláudio e sua equipe - que conta com 26 profissionais, entre arqueólogos, historiadores, biólogos e ajudantes -, foi uma escova de dente em marfim e osso com a inscrição em francês: "S M L'EMPEREUR DU BRESIL" (Sua majestade, o imperador do Brasil). Acredita-se que ela pertenceu a Dom Pedro II ou outro membro da família real portuguesa, que vivia ali perto em São Cristóvão.

Além da inscrição, a tese é reforçada não só pela proximidade da região com o Palácio da Quinta da Boa Vista, mas também pelo fato de a história mostrar que a região da atual Leopoldina servia como local de descarte de resíduos provenientes do Palácio Imperial. Há ainda canecas com o brasão da família real, frascos de perfume e joias dos nobres da época do Império.

"Entre 50 centímetros e 2,5 metros da superfície encontramos peças de louça, vidro, porcelana, couro e até ouro. 

Com este trabalho, iniciado em março, é possível reconstituir o passado de toda essa região", diz Cláudio.

As peças foram encontradas no terreno da Avenida Francisco Bicalho, ao lado da antiga estação de trens da Leopoldina, onde foi instalada a fábrica de anéis de concreto que serão utilizados na escavação dos túneis do metrô. 

Em todo o empreendimento da Linha 4 do Metrô, a equipe de arqueologia acompanha a execução das obras para o caso de aparecer algum material durante as escavações. 

No entanto, na Leopoldina o serviço foi intensificado, pois já se tinha notícia da existência do sítio arqueológico, apesar de, até então, nunca terem sido feitas prospecções no local.

Os materiais têm sido resgatados com extremo cuidado e depois de estudados e catalogados, serão enviados para uma instituição de pesquisa arqueológica que será definida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

História

Os primeiros habitantes da região da Leopoldina foram índios que procuravam as águas tranquilas e quentes do Saco de São Diogo para caçar e pescar. 

As pesquisas históricas indicam que ali bem perto na área do Gasômetro vivia a tribo de Araribóia e que depois da chegada dos franceses ao Rio de Janeiro, por volta de 1570, foram levados para Niterói.

Mais tarde, D. João VI decidiu se mudar do Paço da Cidade (Praça XV) para São Cristóvão. Fato que determinou as profundas mudanças que o local iria passar. Por volta de 1808 e 1809, começou-se a fazer um aterro que facilitaria o caminho do Rei e de seus súditos. 

O "Caminho das Lanternas" ou o "Aterrado das Lanternas", pois colocava-se uma espécie de poste para iluminar o trajeto, seguia da região da atual Central do Brasil até São Cristóvão.

No meio do caminho estava o Largo do Matadouro, atual Leopoldina. No local existiu entre 1853 e 1881 o local oficial do abate de animais que era controlado pelo poder público. 

O Matadouro Imperial de São Cristóvão foi inaugurado em 1853 e foi utilizado ativamente até passar a incomodar pelo mau cheiro e abutres que perseguiam os restos de animais.

Em 1881, o matadouro foi transferido para a antiga Fazenda dos Jesuítas, em Santa Cruz, e os pavilhões da região da Leopoldina, foram demolidos. 

O único remanescente das construções é o pórtico neoclássico de acesso que pode ser visto na atual Praça da Bandeira, na entrada da Escola Nacional de Circo.

Arquivo INFOTRANSP