Foram encontradas mais de 200 mil peças, inteiras ou
fragmentadas, que remontam ao Rio de Janeiro dos séculos XVII, XVIII e
XIX, nas obras da Linha 4 do metrô, que liga a Barra da Tijuca a
Ipanema, no Rio de Janeiro.
"Podemos estar diante do mais importante sítio arqueológico da
cidade.
A quantidade e qualidade do material encontrado são
impressionantes", afirma Cláudio Prado de Mello, arqueólogo responsável
pelo trabalho de pesquisa no local.
Um dos objetos encontrados por Cláudio e sua equipe - que conta com
26 profissionais, entre arqueólogos, historiadores, biólogos e
ajudantes -, foi uma escova de dente em marfim e osso com a inscrição
em francês: "S M L'EMPEREUR DU BRESIL" (Sua majestade, o imperador do
Brasil). Acredita-se que ela pertenceu a Dom Pedro II ou outro membro
da família real portuguesa, que vivia ali perto em São Cristóvão.
Além da inscrição, a tese é reforçada não só pela proximidade da
região com o Palácio da Quinta da Boa Vista, mas também pelo fato de a
história mostrar que a região da atual Leopoldina servia como local de
descarte de resíduos provenientes do Palácio Imperial. Há ainda canecas
com o brasão da família real, frascos de perfume e joias dos nobres da
época do Império.
"Entre 50 centímetros e 2,5 metros da superfície encontramos peças de
louça, vidro, porcelana, couro e até ouro.
Com este trabalho, iniciado
em março, é possível reconstituir o passado de toda essa região", diz
Cláudio.
As peças foram encontradas no terreno da Avenida Francisco Bicalho,
ao lado da antiga estação de trens da Leopoldina, onde foi instalada a
fábrica de anéis de concreto que serão utilizados na escavação dos
túneis do metrô.
Em todo o empreendimento da Linha 4 do Metrô, a equipe
de arqueologia acompanha a execução das obras para o caso de aparecer
algum material durante as escavações.
No entanto, na Leopoldina o
serviço foi intensificado, pois já se tinha notícia da existência do
sítio arqueológico, apesar de, até então, nunca terem sido feitas
prospecções no local.
Os materiais têm sido resgatados com extremo cuidado e depois de
estudados e catalogados, serão enviados para uma instituição de pesquisa
arqueológica que será definida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
História
Os primeiros habitantes da região da Leopoldina foram índios que
procuravam as águas tranquilas e quentes do Saco de São Diogo para caçar e pescar.
As pesquisas históricas indicam que ali bem perto na
área do Gasômetro vivia a tribo de Araribóia e que depois da chegada dos
franceses ao Rio de Janeiro, por volta de 1570, foram levados para
Niterói.
Mais tarde, D. João VI decidiu se mudar do Paço da Cidade (Praça XV)
para São Cristóvão. Fato que determinou as profundas mudanças que o
local iria passar. Por volta de 1808 e 1809, começou-se a fazer um
aterro que facilitaria o caminho do Rei e de seus súditos.
O "Caminho
das Lanternas" ou o "Aterrado das Lanternas", pois colocava-se uma
espécie de poste para iluminar o trajeto, seguia da região da atual
Central do Brasil até São Cristóvão.
No meio do caminho estava o Largo do Matadouro, atual Leopoldina. No
local existiu entre 1853 e 1881 o local oficial do abate de animais que
era controlado pelo poder público.
O Matadouro Imperial de São
Cristóvão foi inaugurado em 1853 e foi utilizado ativamente até passar a
incomodar pelo mau cheiro e abutres que perseguiam os restos de
animais.
Em 1881, o matadouro foi transferido para a antiga Fazenda dos
Jesuítas, em Santa Cruz, e os pavilhões da região da Leopoldina, foram
demolidos.
O único remanescente das construções é o pórtico neoclássico
de acesso que pode ser visto na atual Praça da Bandeira, na entrada da
Escola Nacional de Circo.