O que fazer quando é preciso, além de pedalar, usar o metrô ou o ônibus? Experimentamos tudo isso com uma dobrável.
As
pessoas observam curiosas e tentam decifrar o trambolho com rodas que
transporto a tiracolo: uma bicicleta dobrável.
Prática, esse tipo de
bike pode ser embarcado, dobrado, em diferentes meios de transporte.
com
algum esforço, porta-se esta pequena magrela "aro 20", de pouco menos
de 15 kg, em automóveis, ônibus, trens e até vans.
Aliás, o ato de
usá-la juntamente com outros meios de transporte chama-se comutação.
E
isso, muitas vezes, é essencial para conseguir transpor longas
distâncias, como 20 ou 30 km - nem todo mundo mora a menos de 10 km do
trabalho, certo?
Daí a necessidade de as estações de metrô permitirem o
ir e vir das bikes.
No metrô de São Paulo, por exemplo, a dobrável é
bem-vinda nos trens em qualquer horário, desde que esteja embalada ou
não ultrapasse a medida de 150 x 60 x 30 cm.
Um vídeo bem bacana produzido pela rede de ciclistas Ciudad Ciclista - e divulgado no blog do grupo - mostra o que é a comutação. Ele foi gravado em Gênova, Itália, e acompanha um dia "de transporte" na vida de um homem.
Um vídeo bem bacana produzido pela rede de ciclistas Ciudad Ciclista - e divulgado no blog do grupo - mostra o que é a comutação. Ele foi gravado em Gênova, Itália, e acompanha um dia "de transporte" na vida de um homem.
Ele sai
de casa, de terno, capacete e uma dobrável embaixo do braço.
Monta o
acessório e pedala um trecho e, depois, utiliza vários meios de
transporte: trem, metrô, ônibus. Escadas rolantes vazias e ônibus com
muitos assentos desocupados facilitam a vida desse trabalhador.
Mas, de
qualquer forma, o vídeo traz ótimas lições da melhor maneira para
posicionar a bicicleta nos vários meios e como a rotina pode se tornar
mais fácil e até mesmo mais divertida - é delicioso perceber o vento
soprando em seu rosto enquanto pedala - quando existe a comutação.
As dificuldades no caminho
A maneira correta de levar a bike
Estou no principal entroncamento do Metropolitano de São Paulo, a estação Sé. Transporto a bicicleta amarrada a um carrinho de mão também dobrável para facilitar as baldeações.
As dificuldades no caminho
A maneira correta de levar a bike
Estou no principal entroncamento do Metropolitano de São Paulo, a estação Sé. Transporto a bicicleta amarrada a um carrinho de mão também dobrável para facilitar as baldeações.
Dentro do vagão, deixo-o paralelo ao
comboio para evitar que caia a cada chacoalhada.
Nas demais instalações,
levo a bike como se estivesse puxando uma mala, o que me permite
caminhar com mais facilidade e subir as escadas rolantes sem fazer
força.
Usar uma dobrável significa depender dos acessos destinados a
"cadeirantes".
Ao menos quando eles existem, o que não é o caso de
muitas estações da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Passar pela catraca é desconfortável e a melhor alternativa é utilizar a
porta para cadeiras de rodas. Em horários de maior movimento, a melhor
opção é procurar os vagões destinados ao chamado "embarque
preferencial", para prevenir choques indesejados ao entrar e sair do
trem.
A rotina de pedalar pelas ruas
Desembarco na estação Conceição e, sob a marquise do terminal de ônibus, inicio a montagem da bicicleta. Vendedores ambulantes apontam dedos em minha direção e cochicham. Retiro a bicicleta do carrinho de mão, desdobro o quadro, estendo o guidão, ergo o selim, baixo os pedais e pronto, como num passe de mágica, surge uma bicicleta.
A rotina de pedalar pelas ruas
Desembarco na estação Conceição e, sob a marquise do terminal de ônibus, inicio a montagem da bicicleta. Vendedores ambulantes apontam dedos em minha direção e cochicham. Retiro a bicicleta do carrinho de mão, desdobro o quadro, estendo o guidão, ergo o selim, baixo os pedais e pronto, como num passe de mágica, surge uma bicicleta.
Dobro o carrinho de mão e
amarro-o no bagageiro. Agora é só pedalar até o trabalho.
A posição para
pedalar é confortável, mas estranho a combinação "calça jeans e sapato
com capacete e luvas meio dedo". Pedalo por uma avenida de movimento
médio.
Trata-se de um pequeno aclive e, por isso, devo tomar cuidado com
os ônibus, que tendem a me espremer contra o meio-fio. Já precisei
subir na calçada para evitar um acidente.
A bike dobrável é mais leve,
lenta e estreita que as convencionais, o que me permitiria circular
entre pedestres com segurança. Mas procuro seguir o que manda a lei, que
é utilizar a mesma via dos demais veículos.
E quando não há um chuveiro
Uma hora e meia após sair de casa, chego ao trabalho com a camiseta levemente umedecida de suor.
E quando não há um chuveiro
Uma hora e meia após sair de casa, chego ao trabalho com a camiseta levemente umedecida de suor.
Sem um chuveiro no escritório, a
transpiração representa um desafio. Sigo a recomendação de uma amiga
ciclista, adepta do chamado movimento Cycle Chic, que alia pedal e moda.
Ela sugere que se tome um banho antes de sair de casa. Funciona! Na
empresa, apenas troco de camisa, lavo o rosto e o pescoço. Saídas
durante o expediente exigem um planejamento mais cuidadoso.Uma boa
alternativa é pegar um táxi, com abicicleta no bagageiro. Fiz isso uma
vez, e deu certo. Só tive problemas no edifício onde aconteceria a
reunião, pois não havia bicicletário. O jeito foi subir com
a bicicleta pelo elevador de serviço. A secretária me recebeu bem e
acabei deixando a magrela na recepção. Vale saber que, em São Paulo, foi
aprovada, no fim de 2012, uma lei municipal que obriga os
estacionamentos (de prédios, shoppings e condomínios) a destinarem 5%
das vagas para bicicletas.
A ciclovia facilitando a vida
A última etapa do dia será mais gratificante. Vou pedalar do trabalho até minha casa - pouco mais de 15 quilômetros. Apesar da distância, o percurso mais parece um passeio. O vento no rosto e a cidade passando mais devagar ao redor aguçam a percepção. Fico com uma sensação boa de que "estou fazendo minha parte" para melhorar o trânsito. Mais do que isso, andar debicicleta permite sentir os cheiros da cidade, ouvir os barulhos e olhar de perto a metrópole sem a moldura da janela do carro. Você consegue perceber uma árvore repleta de frutas ou de flores, o cachorro que passa assustado, as pessoas que se aglomeram freneticamente pelas calçadas. A cidade parece ficar, até mesmo, mais gentil. Chego à parte mais agradável do meu caminho: a recém-finalizada ciclovia que liga a Avenida Brigadeiro Faria Lima ao Parque Villa-Lobos. São 7 quilômetros planos de via exclusiva e sinalizada para bicicletas. Um luxo delicioso.
O saldo final sempre é positivo
Prossigo mais alguns quilômetros depois do fim da ciclovia. Cansado e ainda sem preparo para encarar a pirambeira que dá acesso à minha casa, decido pegar um ônibus.
A ciclovia facilitando a vida
A última etapa do dia será mais gratificante. Vou pedalar do trabalho até minha casa - pouco mais de 15 quilômetros. Apesar da distância, o percurso mais parece um passeio. O vento no rosto e a cidade passando mais devagar ao redor aguçam a percepção. Fico com uma sensação boa de que "estou fazendo minha parte" para melhorar o trânsito. Mais do que isso, andar debicicleta permite sentir os cheiros da cidade, ouvir os barulhos e olhar de perto a metrópole sem a moldura da janela do carro. Você consegue perceber uma árvore repleta de frutas ou de flores, o cachorro que passa assustado, as pessoas que se aglomeram freneticamente pelas calçadas. A cidade parece ficar, até mesmo, mais gentil. Chego à parte mais agradável do meu caminho: a recém-finalizada ciclovia que liga a Avenida Brigadeiro Faria Lima ao Parque Villa-Lobos. São 7 quilômetros planos de via exclusiva e sinalizada para bicicletas. Um luxo delicioso.
O saldo final sempre é positivo
Prossigo mais alguns quilômetros depois do fim da ciclovia. Cansado e ainda sem preparo para encarar a pirambeira que dá acesso à minha casa, decido pegar um ônibus.
Paro no ponto, dobro a bicicleta e embarco no coletivo
vazio com a mochila nas costas, a bike numa mão e o carrinho na outra.
Prendo a "bagagem" com o cinto de segurança para cadeira de rodas e me
sento ao lado dela. Passo o bilhete eletrônico e peço para descer pela
frente.
O cobrador puxa conversa: "Eles não têm mais o que inventar..."
Meu balanço final: usando a bicicleta como meio auxiliar de transporte,
tomei chuva e entrei no metrô com a bike dobrada sem necessidade - após
as 20h30, qualquer bicicleta entra.
Também ganhei massa magra e
disposição.
Aprendi que podemos transformar problemas em soluções ao
usar o tempo "perdido" no deslocamento em oportunidade para dar um basta
no sedentarismo.
Mais que isso, mudei meu jeito de me relacionar com a
cidade.