“Olá, muito bom dia, uma ótima semana a todos. Hoje é
segunda-feira, 23 de outubro de 2017. Você, que acabou de sintonizar na
nossa Rádio Stop, vamos falar com o nosso repórter aéreo, Genilson
Araújo. Diga aí, Genilson, qual é a situação do trânsito?” “Olá,
ouvintes, não tenho boas notícias.
A Avenida Borges de Medeiros tem tráfego parado. O mesmo acontece na Francisco Bicalho. A situação é semelhante na Presidente Vargas e na Rio Branco. Na Zona Sul, Norte e Oeste, está tudo congestionado.
As saídas da cidade estão bloqueadas pelo excesso de veículos. Aliás, querem uma sugestão? Não saiam de casa!”
A situação imaginária descrita acima, num dia de 2017, não está muito distante do cotidiano dos cariocas.
Pelo rádio, pelo celular ou qualquer outro dispositivo móvel de informação, o morador do Rio de Janeiro sabe, hoje como ninguém, onde o trânsito está complicado. Mas, em cinco anos, o cenário tende a piorar.
De manhã, à tarde ou até mesmo à noite, os congestionamentos poderão entrar definitivamente para a paisagem da cidade.
Estimativas feitas a partir da média de novos veículos que entram todos os anos em circulação no Rio indicam que o nosso trânsito deverá ficar como o de São Paulo.
Hoje, na capital paulista, onde há recordes diários de engarrafamentos, existe uma relação de 423 veículos por cada quilômetro de via. São sete milhões de carros, motos, caminhões e ônibus que disputam espaço em 17 mil quilômetros de ruas e avenidas.
A ser mantido o cenário atual, com as taxas de crescimento da frota, poucos investimentos em alternativas de trânsito e transporte e ausência de melhorias na engenharia de tráfego, em 2017 a cidade do Rio terá a mesma proporção que a registrada em São Paulo. São, portanto, cinco anos para tentar evitar o cenário sombrio descrito pelo locutor.
Motos: 173% a mais em dez anos
Para entender as principais causas dos problemas do trânsito do Rio, O GLOBO inicia hoje a série “Nós no trânsito”. Em mais de 20 anos sobrevoando a cidade e informando as condições do trânsito, o repórter Genilson Araújo só tem visto a situação se agravar: excesso de carros nas ruas, longos engarrafamentos e um sistema de transporte sem organização.
— Cada bairro hoje tem seus congestionamentos, independentemente do dia e da hora.
Fico espantado de ver congestionamentos nos fins de semana, de dia, de noite e de madrugada.
Durante minhas coberturas, em algumas situações fico às vezes sem opções para dar aos ouvintes.
Os viadutos e as vias em construção estão levando as pessoas de uma maneira mais rápida aos congestionamentos. É incrível, mas é verdade — lamenta Genilson.
Entre 2001 e 2011, a frota na cidade cresceu 56%. Passou de 1,6 milhão para 2,5 milhões de carros, motocicletas, ônibus, micro-ônibus e caminhões.
O maior avanço foi com relação ao número de motocicletas, que subiu de 83 mil para 227 mil (173%).
Com a entrada em circulação de 80 mil a 113 mil veículos novos todos anos, em 2017 a previsão é que a frota chegue a 3.152.306, que terão que circular em 7.423 quilômetros de vias, caso nenhum novo logradouro seja aberto até lá. Isso dá 424 veículos por quilômetro. Hoje, a relação é de 335/km.
A situação em 2017 deverá ser tão complicada que, se for considerado o comprimento médio de 4,15 metros por veículo, os espaços serão mínimos na cidade.
Cada quilômetro de via comporta apenas 240 carros em fila.
No cenário projetado para daqui a cinco anos, o Rio precisaria de mais de 5.711 quilômetros de novas vias para suportar o tráfego de toda a frota, caso os motoristas decidissem sair ao mesmo tempo do trabalho e das suas casas.
Apesar disso, novos carros continuam chegando diariamente às ruas.
— Sempre quis ter um carro. O que me levou a comprar agora um automóvel foram os incentivos fiscais e também a situação do trânsito.
Cansei de perder até duas horas para ir para o trabalho. Decidi comprar porque prefiro ficar no congestionamento, mas numa situação um pouco mais confortável, a ter que encarar o transporte público do Rio — conta o advogado Humberto Motta, de 30 anos, que comprou seu primeiro carro este mês.
Cariocas mudam rotinas
O trânsito tem levado os cariocas a mudarem as suas rotinas e os seus hábitos. A enfermeira Ana Paula Ortiz, de 37 anos, só pega ônibus em último caso.
Há cerca de dois anos, ela embarcava em dois ônibus e gastava duas horas e meia para ir de casa, em Rocha Miranda, até o trabalho, em Ipanema. Foi quando decidiu passar a fazer grande parte do percurso de metrô.
Quando tem de seguir de Ipanema para outro hospital, em Madureira, de novo o transporte sobre trilhos é a opção de Ana Paula, que pega metrô e trem para chegar a seu destino.
— É inviável andar de ônibus. É muito engarrafamento.
Procuro não ir a lugar onde não haja metrô ou trem — diz ela. — De Rocha Miranda a Ipanema, gasto 1h30m hoje. Faço um pequeno percurso de ônibus até a estação do metrô em Coelho Neto.
De Ipanema a Madureira, levo 1h15m. Mesmo assim, é muito tempo.
Queria ter mais tempo para a minha família, para o lazer e para estudar. Além disso, o metrô sempre está lotado. Às vezes, tenho que esperar duas ou três composições para conseguir entrar.
A manicure Viviane de Oliveira, de 27 anos, mora na Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e trabalha num salão na Rua Paulo Barreto, em Botafogo.
Ela sabe como ninguém o tempo que perde no trânsito.
Como sai um pouco mais tarde, às 7h30m, leva até duas horas e meia para chegar ao emprego. São dois ônibus: o 409 (Miguel Couto-Central) e um outro para a Zona Sul.
— O pior é na Avenida Brasil, principalmente entre Bonsucesso e a Rodoviária Novo Rio. Como pego no trabalho às 10h, consigo sair às 7h30m e viajar sentada.
O pessoal que sai mais cedo, 4h30m, 5h, dificilmente consegue lugar para se sentar. Mas já me acostumei. É minha rotina todos os dias. Não tem jeito. E piora quando chove ou acontece um acidente — conta a manicure.
A Avenida Borges de Medeiros tem tráfego parado. O mesmo acontece na Francisco Bicalho. A situação é semelhante na Presidente Vargas e na Rio Branco. Na Zona Sul, Norte e Oeste, está tudo congestionado.
As saídas da cidade estão bloqueadas pelo excesso de veículos. Aliás, querem uma sugestão? Não saiam de casa!”
A situação imaginária descrita acima, num dia de 2017, não está muito distante do cotidiano dos cariocas.
Pelo rádio, pelo celular ou qualquer outro dispositivo móvel de informação, o morador do Rio de Janeiro sabe, hoje como ninguém, onde o trânsito está complicado. Mas, em cinco anos, o cenário tende a piorar.
De manhã, à tarde ou até mesmo à noite, os congestionamentos poderão entrar definitivamente para a paisagem da cidade.
Estimativas feitas a partir da média de novos veículos que entram todos os anos em circulação no Rio indicam que o nosso trânsito deverá ficar como o de São Paulo.
Hoje, na capital paulista, onde há recordes diários de engarrafamentos, existe uma relação de 423 veículos por cada quilômetro de via. São sete milhões de carros, motos, caminhões e ônibus que disputam espaço em 17 mil quilômetros de ruas e avenidas.
A ser mantido o cenário atual, com as taxas de crescimento da frota, poucos investimentos em alternativas de trânsito e transporte e ausência de melhorias na engenharia de tráfego, em 2017 a cidade do Rio terá a mesma proporção que a registrada em São Paulo. São, portanto, cinco anos para tentar evitar o cenário sombrio descrito pelo locutor.
Motos: 173% a mais em dez anos
Para entender as principais causas dos problemas do trânsito do Rio, O GLOBO inicia hoje a série “Nós no trânsito”. Em mais de 20 anos sobrevoando a cidade e informando as condições do trânsito, o repórter Genilson Araújo só tem visto a situação se agravar: excesso de carros nas ruas, longos engarrafamentos e um sistema de transporte sem organização.
— Cada bairro hoje tem seus congestionamentos, independentemente do dia e da hora.
Fico espantado de ver congestionamentos nos fins de semana, de dia, de noite e de madrugada.
Durante minhas coberturas, em algumas situações fico às vezes sem opções para dar aos ouvintes.
Os viadutos e as vias em construção estão levando as pessoas de uma maneira mais rápida aos congestionamentos. É incrível, mas é verdade — lamenta Genilson.
Entre 2001 e 2011, a frota na cidade cresceu 56%. Passou de 1,6 milhão para 2,5 milhões de carros, motocicletas, ônibus, micro-ônibus e caminhões.
O maior avanço foi com relação ao número de motocicletas, que subiu de 83 mil para 227 mil (173%).
Com a entrada em circulação de 80 mil a 113 mil veículos novos todos anos, em 2017 a previsão é que a frota chegue a 3.152.306, que terão que circular em 7.423 quilômetros de vias, caso nenhum novo logradouro seja aberto até lá. Isso dá 424 veículos por quilômetro. Hoje, a relação é de 335/km.
A situação em 2017 deverá ser tão complicada que, se for considerado o comprimento médio de 4,15 metros por veículo, os espaços serão mínimos na cidade.
Cada quilômetro de via comporta apenas 240 carros em fila.
No cenário projetado para daqui a cinco anos, o Rio precisaria de mais de 5.711 quilômetros de novas vias para suportar o tráfego de toda a frota, caso os motoristas decidissem sair ao mesmo tempo do trabalho e das suas casas.
Apesar disso, novos carros continuam chegando diariamente às ruas.
— Sempre quis ter um carro. O que me levou a comprar agora um automóvel foram os incentivos fiscais e também a situação do trânsito.
Cansei de perder até duas horas para ir para o trabalho. Decidi comprar porque prefiro ficar no congestionamento, mas numa situação um pouco mais confortável, a ter que encarar o transporte público do Rio — conta o advogado Humberto Motta, de 30 anos, que comprou seu primeiro carro este mês.
Cariocas mudam rotinas
O trânsito tem levado os cariocas a mudarem as suas rotinas e os seus hábitos. A enfermeira Ana Paula Ortiz, de 37 anos, só pega ônibus em último caso.
Há cerca de dois anos, ela embarcava em dois ônibus e gastava duas horas e meia para ir de casa, em Rocha Miranda, até o trabalho, em Ipanema. Foi quando decidiu passar a fazer grande parte do percurso de metrô.
Quando tem de seguir de Ipanema para outro hospital, em Madureira, de novo o transporte sobre trilhos é a opção de Ana Paula, que pega metrô e trem para chegar a seu destino.
— É inviável andar de ônibus. É muito engarrafamento.
Procuro não ir a lugar onde não haja metrô ou trem — diz ela. — De Rocha Miranda a Ipanema, gasto 1h30m hoje. Faço um pequeno percurso de ônibus até a estação do metrô em Coelho Neto.
De Ipanema a Madureira, levo 1h15m. Mesmo assim, é muito tempo.
Queria ter mais tempo para a minha família, para o lazer e para estudar. Além disso, o metrô sempre está lotado. Às vezes, tenho que esperar duas ou três composições para conseguir entrar.
A manicure Viviane de Oliveira, de 27 anos, mora na Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e trabalha num salão na Rua Paulo Barreto, em Botafogo.
Ela sabe como ninguém o tempo que perde no trânsito.
Como sai um pouco mais tarde, às 7h30m, leva até duas horas e meia para chegar ao emprego. São dois ônibus: o 409 (Miguel Couto-Central) e um outro para a Zona Sul.
— O pior é na Avenida Brasil, principalmente entre Bonsucesso e a Rodoviária Novo Rio. Como pego no trabalho às 10h, consigo sair às 7h30m e viajar sentada.
O pessoal que sai mais cedo, 4h30m, 5h, dificilmente consegue lugar para se sentar. Mas já me acostumei. É minha rotina todos os dias. Não tem jeito. E piora quando chove ou acontece um acidente — conta a manicure.
http://oglobo.globo.com/rio/nos-no-transito-rio-caminho-de-sao-paulo-6470301