Na iminência de grandes eventos ocorrerem em algumas das principais metrópoles brasileiras (Copa do Mundo e Olimpíadas), e tendo em vista o aumento gradativo do poder aquisitivo da população, um tema que merece destaque é o da mobilidade urbana.
Nos últimos anos, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília viram um aumento expressivo na circulação de veículos por suas ruas, fruto de uma demanda que estava reprimida até o advento da nova classe média brasileira.
Além disso, o fortalecimento de uma cultura que privilegia o individualismo ajuda a explicar o aumento da circulação de veículos nas metrópoles, visto que o cidadão tem substituído o transporte coletivo pelo veículo de uso particular.
Diante desse cenário, os governantes têm se deparado com um problema que está comprometendo a competitividade de muitas empresas e até mesmo a qualidade de vida nos grandes centros urbanos: a ineficiência da engenharia de tráfego.
Quando olhamos apenas para o eixo que liga as duas principais metrópoles nacionais (São Paulo e Rio de Janeiro), outro problema que carece de solução efetiva a curto e médio prazos é o do sistema de transportes (ônibus, trens, metrôs, etc.).
E isso se deve à conjugação da ausência de qualidade com o alto preço das tarifas praticadas pelos concessionários de transportes públicos.
Em vista disso, nos últimos 6 anos, o tempo médio que uma pessoa que mora a mais de 10 km de distância do Centro do Rio de Janeiro permanece no carro ou no ônibus foi acrescido em cerca de 30 minutos por trecho.
Sendo assim, por dia, o carioca tem levado mais uma hora para ir e voltar do trabalho no centro econômico e político da capital fluminense.
Considerando que milhões de pessoas circulam nos dias úteis por essa região da cidade a trabalho e/ou estudo, estamos falando de uma perda econômica em trânsito na casa dos bilhões de reais por ano.
A conta é bastante simples:
1. Número de pessoas que circulam pelo Centro do Rio de Janeiro => cerca de 2 milhões por dia útil;
2. Tempo adicional de permanência no trânsito nos últimos 6 anos => uma hora por pessoa que utiliza ônibus ou carro e que vive a mais de 10 km do Centro da cidade;
3. Número de dias úteis por mês => em média, 22 dias;
4. Carga horária mensal de um trabalhador => 220 horas; e
5. Salário médio mensal do carioca => R$2.000,00.
Assumindo que cerca de 50% do quantitativo de pessoas que circulam pelo Centro do Rio de Janeiro se refere a pessoas que vivem a mais de 10 km dessa região da cidade, tomam ônibus ou carro diariamente para ir trabalhar lá e que o tempo de percurso é caracterizado como perda integral de capacidade produtiva, estamos falando de um incremento de perda produtiva na capital fluminense da ordem de:
1 hora x 22 dias úteis x 12 meses = 264 horas / ano.
264 horas / 220 horas mensais = 1,2 mês.
1,2 mês x R$2.000,00 x 2.000.000 de pessoas x 50% = R$2,4 bilhões de reais de perda incremental / ano, o que equivale a mais da metade dos gastos efetuados com educação pública no município do Rio de Janeiro no ano de 2012 .
Assim, e considerando o custo que nosso país possui com carga tributária e gargalos de infraestrutura, ficamos cada vez mais para trás na competição com os demais países do BRICS, os Tigres Asiáticos e com países emergentes como Turquia, México e Chile.
Logo, urge uma resposta rápida de nossos governantes e administradores públicos no sentido de mitigar essas ineficiências.
No caso das regiões metropolitanas, medidas como a ampliação do sistema ferroviário de passageiros, rodízio de veículos de passeio nos dias úteis e descentralização da relevância política e econômica de regiões centrais (o que reduz o movimento pendular) ajudam a reduzir o tempo de permanência em trânsito da população, diminuindo perdas de capacidade produtiva, amenizando o estresse do cidadão e, por conseguinte, melhorando a qualidade de vida de cada indivíduo.
Ademais, a descentralização política e econômica ajuda a reduzir problemas ambientais nos centros e adjacências dessas cidades, tal é o caso da emissão de poluentes no ar e das ilhas de calor.
Ainda em relação à descentralização supracitada, ações de desoneração tributária e investimento em infraestrutura em outras áreas dos municípios ajudam a redistribuir a atividade econômica nos espaços municipais.
No caso das empresas, a revisão de métodos e processos de trabalho que estimulem a prática de home office ajudam não só a reduzir o gasto e o desgaste dos trabalhadores com mobilidade, mas também os gastos empresariais com aluguel de espaços cada vez mais valorizados, água, luz, telefone,Internet e manutenção predial.
No entanto, no caso do home office, tal decisão deve ser acompanhada de um estudo que avalie os prós e os contras de se perder o controle presencial de colaboradores e a relação custo x benefício resultante disso no que concerne à estratégia de negócios, cultura e cadeia de valor das organizações.
Diante do exposto, os tomadores de decisões de organizações públicas e privadas devem repensar a forma como encaram a questão da mobilidade das pessoas, pois ela afeta a competitividade de empresas, regiões e países.
Se não, pagaremos o preço de não sermos capazes de nos adaptar ao desenvolvimento econômico nacional e de nossos parceiros internacionais.
Portanto, pense na efetividade global, porém aja sobre a eficiência local.