Linha da Paralela - prometida inicialmente para a Copa - só vai ficar pronta mesmo em 2016. Para o Mundial, na melhor das hipóteses, o soteropolitano terá apenas a linha 1 completa, ligando a Lapa a Pirajá
Se o metrô da Bonocô passou intrépido por vários prefeitos e governadores, o da Paralela segue o mesmo caminho. Ontem, o governador Jaques Wagner admitiu que terminará o seu mandato sem colocar o veículo nos trilhos. Longe disso, aliás. “Até o final de 2014, a gente já vai ter finalizado a linha 1 (cujo primeiro trecho a prefeitura promete colocar para funcionar ainda este ano) e um trecho razoável da linha 2”, afirmou Wagner, ontem, durante lançamento do edital de abertura de consulta pública para o metrô.
Pelo novo cronograma para o sistema de metrô, anunciado ontem pelo governo, o restante do ‘trecho razoável’ só ficará pronto em 2016. Nos próximos 60 dias, uma consulta pública ficará aberta no site da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (veja na página ao lado), para então começarem as audiências públicas e ser iniciado o processo de licitação.
Se nada atrasar, está previsto para novembro um pregão na Bolsa de São Paulo para definir o vencedor. Pronto. Aí é que se pode pensar em começar a construir algo. Pelas novas previsões, as obras devem iniciar no início de 2013 para, em 18 meses, finalmente concluir a linha 1, até Pirajá.
Isso porque, a empresa ou consórcio que vencer a licitação para o metrô da Paralela terá de assumir também a obra da Bonocô. Ou seja, se as obras iniciarem em 2 de janeiro de 2013 (dia 1º é feriado), e o cronograma for seguido religiosamente, em junho de 2014 a linha 1 estará pronta. É o que teria para a Copa.
Para a linha 2, a da Paralela, serão necessários mais 18 meses. Fazendo as contas a partir do mesmo 2 de janeiro, chegamos ao prazo mínimo para o soteropolitano finalmente ver o sistema inteiro nos trilhos: 1º de janeiro de 2016.
Estações
Além do cronograma, a Sedur apresentou um projeto do que será o sistema. Ao todo, ele terá 36,4 km e 20 estações, sete da linha antiga (Lapa, Campo da Pólvora, Brotas, Acesso Norte, Retiro, Juá e Pirajá) e 13 da linha nova (Bonocô, Detran, Rodoviária, Imbuí, CAB, Pituaçu, Flamboyant, Tamburugy, Bairro da Paz, Mussurunga, aeroporto e Insinuante de Lauro de Freitas). O projeto também inclui a construção de três viadutos (no Imbuí, na Av. Orlando Gomes e em Lauro de Freitas) e a implantação de terminais de integração de metrô e ônibus.
Se a tarifa será integrada, porém, ainda não foi definido. Na verdade, nem a tarifa está definida. Mas, segundo o chefe de gabinete da Sedur, Eduardo Copello, “os valores estudados até o momento estão bem compatíveis com as atuais tarifas do transporte público”. Apesar disso, o preço da passagem para o consumidor não será uma regra eliminatória na licitação que será aberta.
As obras serão executadas através de uma parceria público-privada (PPP) e custarão em torno de R$ 3,5 bilhões. Deste valor, R$ 1,85 bilhão sairá dos cofres públicos e o restante será negociado entre a empresa vencedora da licitação e o governo do estado.
Na conta não estão incluídos os R$ 30 milhões que faltam para iniciar os testes do tramo 1 da linha 1 (Lapa – Acesso Norte). Este valor está sendo negociado com o Ministério das Cidades.
Concessão
A concessão de 30 anos inclui a conclusão do tramo 2 da linha 1 (Acesso Norte – Estação Pirajá), a construção da linha 2 (Acesso Norte – Lauro de Freitas) e a operação do sistema de metrô completo.
E concorrer no processo de licitação não será para qualquer empresa. Só para as que tiverem um patrimônio líquido de, no mínimo R$ 300 milhões. Valem companhias nacionais e estrangeiras. Além disso, as empresas candidatas devem ter experiência comprovada de no mínimo 1 ano em operações metroviárias ou ferroviárias de transportes de passageiros. “Empresas que operam com transporte de carga não servem”, explica Copello.
Crianças brincam em linha
Aos 5 anos, Mickaelly corria com outras crianças para cima e para baixo, na localidade de Calebetão de Baixo. Brincava de boneca, de pega-pega, amarelinha. Aos 8 anos, sofreu as primeiras quedas e raladuras - ela aprendia a andar de bicicleta com o ajuda do avô. Tudo isso numa estrutura de concreto construída para o metrô. Ela cresceu na linha do metrô. “Como ficou no abandono, a gente levava as crianças para brincar no local, onde antes se tinha uma área de lazer”, conta a mãe de Mickaelly, a dona de casa Eva Santos Gomes, 50.
Se quem passa no trecho Acesso Norte - Pirajá, tem a ideia de um extenso elefante branco, Michele dos Santos da Silva, 13, tem o local como o seu parque de diversões. “O pessoal se reúne aqui para jogar baleô, cinco cortes, sete pedras e elástico”, diz a menina, sem se importar com os riscos de queda, cortes e com o mato que começa a brotar na estrutura de concreto. Na imaginação no pequeno Caíque Costa, 8, o elevado é seu campo de futebol. “É aqui que eu e meus colegas jogamos bola todos os dias”, diz. Para Letícia Gomes, 6, ali é o melhor lugar para apostar corrida com as amigas. Ela corre na estrutura a perder de vista. “Aqui é legal, é gostoso para se brincar. Minha mãe é que não gosta. Ela acha que posso cair”, diz a menina, de sorriso largo. Mas não é só o risco de acidente que preocupa os pais do Calabetão de Baixo. “Tem um monte de bandido usando drogas entre as vigas. Estamos com medo. Moro aqui há 20 anos e há 12 é um perigo chegar à noite em casa”, diz Eva.
Há 13 anos foi iniciada a construção do metrô de Salvador. O plano inicial era de 12 quilômetros para ligar o Centro à Estação de Transbordo de Pirajá. Hoje, apenas 6 km (da Lapa à Rótula do Abacaxi) estão construídos e a prefeitura promete colocar os trens para rodar ainda este ano. Porém, as estações ainda apresentam problemas. O CORREIO teve acesso à estação da Rótula do Abacaxi e flagrou até uma rachadura em um trem estacionado nos trilhos. De acordo com operários, a avaria pode ter sido causada em uma manobra durante o período de testes. “Apesar de toda grandiosidade, faltam muitas coisas ainda nas estações”, diz um operário na Estação de Brotas. Segundo ele, todas as estações (Brotas, Lapa, Campo da Pólvora e Rótula do Abacaxi) têm pendências. “Falta fiação elétrica para a instalação dos exaustores, refrigeradores e elevadores”, relata.
A ausência de sinalização é outro problema. “Não há nenhuma em todas as estações , nem no percurso indicando a velocidade do metrô. Aqui falta material simples, como usado para retocar pinturas”, diz outro operário. Na Estação Rótula do Abacaxi, há luminárias com fiação exposta. Na área destinada à espera de passageiros, o único ser vivo são as trepadeiras que se enroscam nos corrimãos. Procurada pelo CORREIO, a Secretaria Municipal de Transporte e Infraestrutura (Setin), informou, por assessoria, que só a partir de segunda-feira irá se pronunciar, mas adiantou que, um técnico irá analisar a avaria no vagão.
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