Companhia afirmou que apesar de modelo ainda não ter sido definido, ainda há disposição de participar do projeto
O presidente da Alstom no Brasil, Philippe Delleur, afirmou nesta sexta-feira que a empresa mantém forte interesse em participar do leilão do Trem de Alta Velocidade (TAV) ligando Rio, São Paulo e Campinas (SP), embora ainda aguarde a definição do modelo.
A afirmação ocorre no mesmo dia em que governo brasileiro publicou, no Diário Oficial da União, o decreto que cria a Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A (Etav), estatal que ficará responsável pelo trem-bala.
"Somos líderes mundiais nesta área e há anos trabalhamos junto com o governo neste projeto", disse Delleur após apresentação sobre projetos de sustentabilidade da multinacional no âmbito da Rio+20. "Queremos participar." Segundo ele, na melhor das hipóteses a implementação do trem bala só será concretizada dentro de sete a oito anos. A parte de construção civil concentrará cerca de 80% dos investimentos, disse.
Às empresas de tecnologia, como a Alstom - multinacional sediada na França e fabricante de equipamentos para a área de energia e transporte -, caberia uma parte avaliada em 2 bilhões de euros.
Outras empresas que atuam no segmento de trens de alta velocidade são, por exemplo, a alemã Siemens, a espanhola Talgo e a japonesa Mitsui.
O executivo afirmou que, caso participe e ganhe a concorrência, a companhia já dispõe de fábricas instaladas no Brasil e infraestrutura disponível para iniciar a produção dos equipamentos com pelo menos 60% de conteúdo local, atendendo às exigências do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Delleur defendeu um conjunto de financiamento público junto com privado, já que o valor da passagem não será suficiente para compensar os investimentos. "Investimento privado, em nenhum lugar do mundo, é suficiente para um projeto de transporte público", disse o executivo francês Segundo ele, os desafios do projeto do TAV se concentram na construção civil.
Nos 400 quilômetros que separam Rio e São Paulo e no trecho São Paulo-Campinas foi encontrada necessidade de construir 100 quilômetros de túneis e viadutos.
"É um projeto muito desafiador e complexo, demanda muitos estudos e custos altos. O Brasil não pode esperar (o trem bala), precisa também investir em trens regionais", disse.
Delleur disse estar em negociação com o governo de São Paulo para a implementação de uma malha regional na área metropolitana do Estado que poderia ser construída mais rapidamente do que o trem bala, entre dois e três anos por trecho a partir do momento da decisão.
Os projetos ligariam São Paulo a até quatro cidades: Jundiaí, São José dos Campos, Santos e Sorocaba. "Há uma imensa demanda reprimida esperando para virar mercado", disse.
A Alstom tem interesse em participar dos projetos concomitantemente. O custo por quilômetro dos trens regionais é cerca da metade do TAV, disse o executivo.
Uma viagem de São Paulo ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, levaria meia hora. "Não vejo grandes entraves para esse projeto (regional). Se decidirem fazer, o processo depois seria muito rápido. Já estudamos o negócio e é muito factível", afirmou.
Outro interesse da empresa na área de transportes está nos VRTs, espécie de bonde amplamente difundido na Europa. Há projetos para o Rio, Cuiabá, São Paulo e Brasília. No Rio, espera-se o edital para as próximas semanas ou meses.
O executivo da Alstom disse que o sistema é complementar ao metrô e uma excelente solução especialmente para os centros urbanos, por demandar relativamente pouca intervenção de infraestrutura.
A execução também levaria de dois a três anos. "No Brasil, o complicado é convencer o mercado de que esta é uma boa solução. Na Europa, isso já é claro, mas aqui, ainda é novidade. Quando sair o primeiro projeto, acredito que logo outros virão", afirmou.