Engarrafamentos diários e cada vez mais longos, aumento nos preços de
combustíveis, edifícios com menos vagas de garagem e aumento dos
investimentos em transportes públicos estão criando um cenário favorável
para o surgimento de um novo mercado de veículos no Brasil.
Iniciado em 2010 na capital paulista, onde congestionamentos de mais de
100 km são rotina e que atravessa um momento de obras de infraestrutura
de mobilidade por ocasião da Copa do Mundo de 2014, o compartilhamento
de veículos vem sendo explorado pela jovem empresa Zazcar, que tem meta
de crescer sua base de clientes em quase cem vezes nos próximos cinco
anos.
O serviço é uma modalidade de aluguel de veículos que tem ganhado
popularidade em mercados maduros como Estados Unidos e Europa, onde até
montadoras de veículos estão investindo no conceito.
Pesquisa da KPMG com executivos das principais indústrias automotivas do
mundo, divulgada neste ano, afirma que 72% deles acreditam no conceito
de mobilidade do serviço como alternativa à propriedade de carros em
áreas urbanas.
SERVIÇO EM VEZ DE PROPRIEDADE
O cliente pode reservar pela Internet um carro para usar por algumas
horas, sem precisar se preocupar com custo de combustível, impostos e
outros gastos referentes à propriedade do veículo, como IPVA, DPVAT,
licenciamento e seguro.
Um dos exemplos de utilização é chegar ao trabalho via transporte
público e alugar um veículo para eventuais reuniões fora do escritório.
Ao final do compromisso, o cliente devolve o carro no ponto em que o
retirou.
"A era da informação criou uma geração mais aberta ao conceito de
acessar o bem, em vez de ter o bem.
As pessoas estão percebendo a
mobilidade como serviço", afirmou o presidente da Zazcar, Felipe
Barroso, em entrevista à Reuters. Segundo ele, 25% dos 2.300 atuais
usuários do serviço na empresa venderam seus carros ou deixaram de
comprar novos veículos.
INSPIRAÇÃO GRINGA
A Zazcar surgiu inspirada na Zipcar, criada nos Estados Unidos há cerca
de 12 anos e que hoje tem mais de 760 mil clientes em 37 Estados no
país.
A companhia norte-americana recebeu em 2 de janeiro oferta de
aquisição de US$ 500 milhões pela gigante do aluguel de veículos Avis.
Ainda sem concorrentes em seu nicho, a Zazcar, oriunda da paranaense
Ícaro Locadora e do grupo de engenharia AGF, está negociando injeção de
capital que deve ser concluída no segundo trimestre junto a investidores
nacionais e internacionais, disse Barroso, evitando dar números ou
detalhes sobre as conversas.
Segundo o executivo, a Zazcar tem elevado seu faturamento em 180% ao ano
desde o início de suas operações e deve atingir lucro nos próximos dois
anos.
A intenção é vender aos investidores participação de 15% na
empresa na rodada de financiamento do segundo trimestre.
Por enquanto, a frota da Zazcar tem 60 carros distribuídos por 45 pontos
da capital paulista. Barroso afirma que o mercado da cidade tem
capacidade para 2.500 carros "compartilhados". Perguntado se a companhia
não teme a entrada das grandes redes de locação de veículos do país no
segmento, como a Localiza, o executivo afirmou que "a entrada delas
seria bem vinda até para expandir o conceito entre a população".
A empresa planeja para o segundo semestre expansão para o Rio de Janeiro
e está avaliando também as cidades de Curitiba e Belo Horizonte.
A expectativa de Barroso é que a Zazcar amplie seu alcance para 11
cidades do país nos próximos cinco anos, prazo no qual espera ter um
total de 210 mil clientes e frota de 2.800 carros.
A expansão do transporte público é um dos itens para a evolução da
empresa uma vez que os serviços se complementam, disse Barroso.
Mas isso
depende em parte de mudanças na legislação, que impede a parada dos
carros nas ruas pelos operadores do serviço, tornando mais difícil
disponibilizar os veículos em locais mais convenientes, afirmou.
Apesar disso, a pesquisa da KPMG sugere crescimento no interesse pelo
conceito de mobilidade como serviço, que pode ser referido pela sigla
MaaS ("mobility as a service").
"Mais, mais e mais pessoas vão escolher não ter carro, preferindo
acessar veículos e outras formas de transporte", afirma o estudo, que
aponta que o mercado de MaaS pode alcançar 20 milhões de pessoas no
Brasil, 32 milhões nos Estados Unidos, 18 milhões na Europa ocidental e
105 milhões na China.
Parte do interesse é a diferença de custo. Segundo a Zazcar, o valor de
uma hora de táxi em São Paulo é de R$ 73,20 enquanto quem utiliza os
serviços da empresa gasta R$ 27,90.