O menino de 10 anos, ao voltar da escola, no Jardim Internorte, recebe um mau exemplo da avó. Para chegarem em casa, no Jardim Bertioga, eles atravessam a linha do trem nas proximidades do Pátio de Inflamáveis para pegar, do outro lado, um coletivo que os levará para casa.
No local, as composições são abastecidas para continuar viagem. Um funcionário da América Latina Logística (ALL), empresa que administra a ferrovia, conta que algumas delas chegam a ter 80 vagões e manobram sem horário marcado. "As crianças e adultos que passam por aqui não respeitam. Quando estão manobrando, passam entre os vagões. Só por Deus não morreu ninguém aqui ainda".
A avó diz que tem medo de passar pelo local. "Às vezes, eles [trens] estão parados bem no meio da linha ou manobrando e precisamos pular". Mesmo assim, ela prefere correr o risco a gastar alguns minutos a mais. Para não correr esse perigo, eles precisariam pegar um ônibus perto da escola até o Terminal Rodoviário para, então, pegar a linha Bertioga, que os deixa próximos de casa.
O movimento de pedestres e ciclistas – que carregam a bicicleta para facilitar a transposição – é maior às 7h, meio-dia e a partir das 17h. É quando crianças e adultos vão e voltam da escola ou do trabalho. Entre as crianças, a maioria é da Escola Estadual Marco Antônio Pimenta, no Internorte. "Eu já quase caí", diz uma criança. "Conheço um menino que se machucou", afirma outra.
A diretora da escola, Elizabeth Cristina Ponciano dos Santos, conhece o problema. Segundo ela, a direção orienta a todos – inclusive professores e funcionários - que peguem a linha 314 do circular até a Avenida Brasil e se dirijam até a Igreja São José, na Avenida Mauá, para pegarem outro ônibus.
Estudantes passam por alambrado para cortar caminho pela linha férrea ao invés de pegarem dois ônibus
"Mas é difícil convencê-los. Todos os anos falamos, vamos de sala em sala orientar os alunos, lembramos que ali é uma área muito perigosa por causa dos trens, mas também por ter muitos assaltos. Mesmo assim, grande parte prefere ir por aquele caminho", explica.
Providência
A ALL informou que deve averiguar a situação no Pátio de Inflamáveis, assim como a conservação dos alambrados – a proteção que estiver a menos de 15 metros dos trilhos é de responsabilidade dela. Quanto à conscientização da população, a empresa tem dois programas que são executados na cidade.
O primeiro, para passagens de nível, orienta os moradores que cruzam com frequência os trilhos, e outro para orientar crianças nas escolas. O calendário de palestras deste ano não inclui a escola do Internorte.
http://maringa.odiario.com/maringa/noticia/453802/criancas-se-arriscam-na-ferrovia-para-encurtar-caminho/