Na coluna de ciência e tecnologia ‘Você não sabia, mas já existe’, Márcio Gomes mostra a casa em que nada se desperdiça.
É o sonho de muitos brasileiros: uma casa nova, toda planejada e econômica, sem desperdício. Será que é possível? O repórter Márcio Gomes foi pesquisar as últimas novidades na coluna “Você não sabia, mas já existe”.
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é uma instituição importante. Tem mais de 100 anos de vida. A série “Você não sabia, mas já existe” foi conhecer o tal do escritório verde, a casa sustentável. Só de olhar a fase final de construção, percebe-se que ela não é comum.
Não se vê aquela quantidade de entulho, típica de obra. Há muita madeira, mas os forros são diferentes. O relógio de luz fica no meio da sala. O projeto é de um professor que leva o sonho no sobrenome: Eloy Casagrande. De concreto, no sentido literal da palavra, só mesmo as fundações.
O material parece madeira, mas ao ser tocado nota-se que a madeira é mole. Não é madeira. É PVC. Isso já existe lá fora há bastante tempo. “Isso existe: é um sistema construtivo que usa ‘wood frame’, o sistema de construção a seco que usa painéis de madeira em revestimentos internos e externos”, explica o professor Eloy Casagrande.
Ao entrar na casa, as surpresas continuam. A madeira usada para construir as janelas nasceu em um laboratório. É uma espécie de eucalipto geneticamente modificado e mais resistente. As paredes vêm de reflorestamento, com madeira certificada. São duplas para receber uma forração especial: um aspecto de algodão que o professor usou garrafas PET.
“Exatamente. São garrafas comuns. Para cada metro quadrado, eu usei 30 garrafas para reciclar. É um produto já usado no mercado. São sete mil garrafas que nós tiramos do ambiente para colocar na casa. Ela dá uma sensação agradável para quem está na casa tanto no inverno quanto no verão”, afirma o professor Eloy Casagrande.
Um engenheiro, ao ver a grama no teto, ficaria apavorado – “Meu Deus do céu, como ele impermeabilizou isso aqui? Vai chover, essa terra vai absorver, vai dar infiltração”. Eloy Casagrande explica.
“O sistema está resolvido com tecnologias bastante avançadas. Eu tenho uma impermeabilização com borracha líquida. Coloquei uma manta de plástico para fazer reforço. Colo por baixo. Ainda tem o sistema de rufos, com proteção de metal, e eu tenho um sistema por baixo da grama. Esse é o sistema do ecotelhado. Na verdade, é o reaproveitamento de solas de sapato das fábricas do Rio Grande do Sul, de onde já vem a terra com substrato com os nutrientes. Eu modulo, coloco as neivas de grama e a grama se fixa. Há projetos para se fazer cidades suspensas na China com que toda a plantação da China seja feita em situações como essa: nos telhados verdes, no ecotelhado”, afirma o professor.
A água da chuva será coletada para regar as plantas e ser usada nos sanitários. No telhado, serão instaladas placas solares e uma turbina de energia eólica. Sol e vento vão gerar energia, e isso vai aparecer em um dos relógios instalados dentro da casa.
Não é bonito, mas é uma sala de aula. Outro relógio mostra o quanto a casa consome e um terceiro, quanto vai sobrar de energia. A produção eólica e a produção solar vão ser capazes de abastecer toda a casa e ainda sobrar energia?
“Depende de quanto tenho de sol e de vento. Ainda dependo do clima. Mas digamos que eu esteja de férias em janeiro, por 30 dias, e a captação solar seja intensa nesse período de verão. Eu posso dar essa energia passando direto para a rede. Eu me torno um gerador de energia na rede”, explica o professor.
A sobra poderá ser vendida à companhia de energia elétrica em um sistema inteligente de geração e consumo. Da construção da casa sustentável que gera sua própria energia, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná tem também o projeto de um carro elétrico. Os dois projetos se somaram, já que a casa é capaz de alimentar o carro.
“Pelo menos, este é o projeto e estamos conseguindo fazer. O carro elétrico, quando ele for carregado na tomada normal da sua residência, pagando a conta de energia, já fica cinco vezes mais barato do que um carro convencional a etanol ou à gasolina. É o equivalente fazer 75 quilômetros por litro com seu veículo. Mas se abastecermos no escritório verde, por meio da geração de energia solar e eólica, gerando essa energia elétrica para carregar a bateria, aí fica de graça para você andar com seu veículo”, afirma Eloy Casagrande.
O carro ainda é um protótipo e está em fase de teste. A casa é um laboratório. Mas que ninguém duvide: projetos como esses já estão voando baixo no mundo inteiro