O projeto trem-bala vai ligar as cidades do Rio de Janeiro a São Paulo e
Campinas. É o único projeto de trem de alta velocidade em andamento no
país.
Imagine uma viagem por terra do Rio a São Paulo a 350 quilômetros por hora em uma hora e meia de travessia.
Abandonado há décadas, o transporte ferroviário de passageiros parece
estar a um passo do futuro. Ainda no papel, a linha de trem de alta
velocidade estima 511 quilômetros entre as duas capitais.
De São Paulo,
sairia uma segunda linha de 97 quilômetros até Campinas, um percurso com
nove paradas no total.
A antiga estação de trens da Leopoldina, perto do centro do Rio, foi
construída nos anos 20, e está fechada há 11 anos. Hoje, o terminal
abriga um depósito de locomotivas.
Mas o projeto do trem bala prevê que a
estação volte a receber passageiros: será o ponto de partida e de
chegada do trem de alta velocidade.
A previsão do governo de pleno funcionamento é em 2020, bem depois da
Copa e das Olimpíadas. E um dos pontos mais discutidos entre
especialistas é o custo da obra, estimada em mais de R$ 30 bilhões, mas
que pode dobrar de valor ao longo da construção.
Para o consultor Maurício Lima, há outras prioridades à frente do trem
bala. De acordo com o Instituto Ilos, da UFRJ, o Brasil ocupa a lanterna
no ranking de infraestrutura ferroviária, quando comparado a outros
cinco países, entre eles, China, Índia e Estados Unidos.
“Outra possibilidade seria investimento do governo no transporte mais
ligado à mobilidade urbana, onde se gasta uma parte do tempo para ir e
voltar do trabalho”, afirma.
Já o economista Riley Rodrigues Oliveira, da Federação das Indústrias
do Rio de Janeiro, acredita que o projeto trará para o país uma
tecnologia inédita e um incentivo para pesquisadores e para o surgimento
de parques industriais que vão abastecer o setor.
“A tecnologia criada em um trem de alta velocidade pode ser aplicada em
vários outros setores, desde o setor automobilístico à ampliação do
próprio sistema ferroviário para carga e passageiros, que é incipiente
para passageiros no Brasil, e até para setores de mobilidade urbana”,
explica.
“Se não tiver o trem vamos ter que fazer mais aeroportos nas duas
cidades. O diagnostico do trem de alta velocidade é porque não existe
forma mais adequada de atender a demanda, não é possível construir nos
40 anos mais dois ou três aeroportos no Rio e em São Paulo. Termos
tráfego na magnitude que demanda vai exigir, a melhor solução é
ferroviária, que é a solução que se adota em todos os lugares do mundo”,
afirma Bernardo Figueiredo, presidente da ELP.
O projeto do “Trem do futuro” exige uma tecnologia inovadora, defende o
professor Richard Stephan, da Coppe da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. O sistema previsto para o trem bala é o roda trilho, usado no
Japão há 50 anos.
O professor diz que trens de levitação magnética, como o que liga o
aeroporto de Xangai, na China, até o centro da cidade, são ainda mais
rápidos e seguros: chegam a 500 quilômetros por hora. E, além da
tecnologia de ponta, oferecem mais vantagens, como uma alternativa mais
barata.
“O que abre perspectiva de inovação é levitação magnética, não o roda
trilho de alta velocidade. É claro que tem vantagens, mas já conhecida
há mais de 50 anos no Japão, país que já está visando a tecnologia de
levitação. Se queremos inovar vamos para a levitação , não acho justo
dizer que o trem de alta velocidade será inovação. Vai ser a implantação
de algo já consolidado em vários países do mundo”, diz.
A discussão sobre o transporte de passageiros sobre trilhos ganha
destaque no país pouco antes do novo edital de licitação do trem bala,
marcado para o fim deste mês.