A falta de ferrovias é um atestado de burrice estratégica de uma
sucessão de governos.
Um país de dimensões continentais, com distâncias
de até quatro mil quilômetros, não ter trem é algo incompreensível,
concentrar-se no transporte a conta-gotas, sobre pneus.
Um país tão rico
que se dá ao luxo de jogar trens e ferrovias no lixo.
Justamente o trem que falta para o país transportar sua riqueza maior,
que são as pessoas, mas também as demais riquezas, as que vêm da terra e
das fábricas.
Quando começou a opção rodoviária, para estimular a
indústria automobilística, também começou a decadência da ferrovia. E se
esvaziaram as estações ferroviárias, tão populares que eram chamadas
apenas de estações.
Nas cidades européias, a estação de trem, acessível dentro do centro
urbano, é o principal lugar de entrada e saída.
Aqui, as estações ou
foram demolidas ou viraram ruínas e umas poucas se converteram em
centros culturais ou museus de um passado mais racional que o presente.
O último trem é testemunho de um transporte seguro, confortável,
divertido, embora com a lentidão do passado.
O último trem ‘bão’ tinha
que ser de Minas. Que ele seja a semente de uma ressurreição, porque o
trem não será concorrente do ônibus ou do avião, mas um alívio para
aeroportos e estradas abarrotados.
Como tudo no país da imprevisão, é
preciso chegar ao último trem, ao fundo do poço, para depois tentar se
levantar, quando fica bem difícil.