04 janeiro 2014

Mobilidade urbana e a necessidade de uma boa gestão

mobilidade urbana
Mobilidade Urbana e a necessidade de uma boa gestão

Setor político faz muitas propagandas sobre obras e ações emergenciais, mas será que há preparo para administrar os transportes? E as diferentes posturas das novas gerações de empresários: em que interferem no dia a dia das pessoas?

Quando se fala em prioridade ao transporte coletivo, logo o primeiro discurso que aparece são de obras: metrô, corredores de ônibus, mais linhas de trens e outros modais ainda não comuns no Brasil como monotrilho e VLT – Veículos Leves sobre Trilhos.
Nas falas de administradores políticos e, eventuais candidatos novamente nas próximas eleições, tudo é muito bonito e as obras parecem como verdadeiros milagres que a população espera.
Todos sabem que priorizar o transporte coletivo no espaço urbano não passa de uma obrigação dos poderes constituídos e trata-se de uma ação de democratizar as tão disputadas áreas das cidades.
Mas deixando toda a hipocrisia de lado, apenas criar espaços na cidade não basta.

Assim como todas as demais atividades, o setor de transportes deve ter boa gestão.

E sem demagogia, deve-se pensar na lucratividade que os serviços de transportes devem ter como remuneração a seus operadores e no equilíbrio financeiro dos sistemas para que eles se mantenham e se aperfeiçoem, mas a gestão deve ser voltada para pessoas.

Isso mesmo, parece óbvio e ao mesmo tempo tão estranho num país como o Brasil, mas se a qualidade de vida das pessoas não for o principal ponto de uma gestão de transportes, logo o sistema criado ou o que já tem décadas de operação tem um único destino: Estação Fracasso.

Mas como fazer uma boa gestão de transportes pensando no bem estar das pessoas que são a real motivação dos serviços e nelas está a fonte de votos e renda?

Em primeiro lugar: transparência.
 
Quando um governante anuncia uma obra, algumas inclusive consideradas midiáticas, ele deve deixar claro para a população a real necessidade daquela intervenção, quantas pessoas vão ser beneficiadas, qual o tempo de saturação (esgotamento da capacidade de atendimento) da medida, o quanto vai custar para fazer e o quanto vai custar para manter e operar.
 
Além disso, a relação entre empresas e administradores públicos deve ser limpa e clara – isso é gestão com ética! Todos sabem que diversas áreas do país, inclusive os transportes, não vão para a frente por causa da corrupção e relações escusas. As licitações são realmente honestas ou há direcionamentos?
 
Numa administração pública há dois pesos e duas medidas diferenciando empresas que “contribuem” mais que as outras? Uma boa gestão de transportes passa por fiscalização.
 
Quando há corrupção, não há fiscalização. E a população fica exposta a maus e caros serviços. O bom empresário de ônibus concorda plenamente com isso.
 
Ele atua corretamente e não teme fiscalização. Pelo contrário, quando a gestão dos transportes é honesta e transparente, empresário de ônibus se sente seguro para investir. Sabe que vai ter estabilidade e que o contrato que assinou vai ser respeitado.
 
 A população só tem a ganhar, já que terá como diferenciar a boa da má empresa de ônibus. Hoje é possível ver empresas de ônibus e associações de empresários buscando cada vez mais qualidade e excelência.
 
Mas como em todos os ramos, há ainda os empresários que mancham a imagem do setor.

A transparência deve estar presente também nas obras de mobilidade.
 
Não se deve escolher um modal pelo lucro que ele eventualmente pode dar à construtora.
 
A empreiteira precisa e merece ter lucro, mas de maneira justa e a obra deve ser selecionada de acordo com o benefício que vai trazer à sociedade.

A pergunta que se faz é: qual o motivo de escolher uma obra que custa até dez vezes mais que outra solução que traz praticamente os mesmos benefícios?

Outra questão importante é saber gerenciar o sistema de transporte já estabelecido quanto à freqüência e demanda.

Às vezes a solução de transporte escolhida é a ideal. Mas se não houver uma inteligência de gestão que reflita na área operacional, os benefícios que determinada obra escolhida podem trazer correm o risco de ser minimizados.

Ou seja, um belo sistema, mas muito mal operado e fiscalizado.

E neste aspecto, passageiros, empresas e poder público devem criar canais permanentes de diálogo, mas que não se limitem às discussões. As medidas devem ser rápidas, mas não precipitadas.

Um corredor de ônibus, uma faixa exclusiva, uma linha de metrô são excelentes para a população.
 
Mas o que adianta se a oferta destes serviços não se adequar às necessidades das demandas, que é importante de se destacar: são dinâmicas e estão em constantes alterações.

E a questão na maior parte das vezes é mais relacionada à inteligência e capacitação técnica do que novos aditivos contratuais que só deixam os sistemas mais caros.
 
Não é de hoje que pequenas adequações nos horários de partidas de ônibus ou composições são muito mais eficientes que a criação de ramais ou vias paralelas.

As empresas de transportes modernas hoje investem em boa gestão interna também.

Para as companhias há vários grandes desafios. Um deles é em relação à estrutura das empresas.

O negócio dos transportes, mesmo com o estabelecimento de grandes grupos, é estritamente familiar.
 
Os fundadores das empresas foram pioneiros, investidores, visionários e verdadeiros corajosos diante dos desafios de áreas urbanas em plena expansão, que deixavam de ser rurais.

Mas hoje os desafios e realidades são diferentes e isso deve ser assimilado.

As novas gerações das famílias fundadoras de empresas de transportes apresentam um cenário animador e outro desolador.
 
Há filhos e netos dos pioneiros que assumiram os gostos pelos transportes, se atualizam e adequam a gestão das empresas à atual realidade do setor.
 
São empresários esclarecidos, que hoje apostam não só em tecnologia, mas em informação, abrindo um canal aberto com a população.
 
Não se limitam a ter um “0 800” nas garagens. Sempre dão satisfação ao passageiro, que é tratado como cliente, em caso de problemas e ouvem sugestões promovendo a interatividade.

Já outros descendentes não têm o mesmo interesse e aí que está parte da explicação de grandes companhias irem se desmantelando.
Assim, cabe ao pioneiro do setor ter uma gestão de empresa sim, mas também uma gestão de família. Isso mesmo. Saber gerir a família.

Travar conversas sérias com seus sucessores e identificar o nível de interesse deles no negócio de transportes. Inicialmente, o caminho é estimular as novas gerações. Se não for possível, será que vale a pena o negócio?

Isso porque, uma empresa de ônibus mal administrada, com diretores desinteressados, vai refletir em serviços insatisfatórios para a população.

Más empresas dão margem para a corrupção.

E neste cenário todos perdem, inclusive a minoria que num primeiro momento acha que está recebendo vantagens.

Quanto uma gestão de transportes coloca o bom serviço às pessoas em primeiro lugar, tudo acaba sendo conseqüência deste esforço: a satisfação dos passageiros, a boa imagem, o desenvolvimento econômico e social, o bem estar social e, claro, o lucro.

Transportar não é colocar veículos nas ruas ou fazer obras. É cuidar do ser humano.

As empresas e administradores públicos que têm essa premissa não com emoção apenas, mas com inteligência, são exemplos de sucesso em todos os sentidos.
 
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