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CBTU não tem estatísticas das reclamações das passageiras, mas abaixo-assinado foi feito
“Eu saía do metrô, pela estação Gameleira. Trem lotado, 18h. Senti a
mão batendo e apertando minha nádega, mas não vi a cara do sujeito. Tive
que descer como se nada tivesse acontecido”. A fim de evitar situações
de assédio como essa, e a exemplo de outras capitais do Brasil e do
mundo, Belo Horizonte discute a possibilidade de destinar um vagão
exclusivo a mulheres no metrô.
Como a vítima de agressão do caso acima (F.R., 35 anos), quem sofre
esse tipo de assédio não quer se identificar. Tanto que não há
estatísticas desse crime no país, nem registros formais de reclamações
na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
No Rio de Janeiro, o “vagão rosa” existe há oito anos, medida adotada
também pelo Distrito Federal e que tramita no Legislativo de São Paulo
como projeto de lei. Outros países, como o México – que separa
plataformas exclusivas para mulheres –, também adotam a separação.
Nesta semana, no Rio, onde o sistema funciona apenas nos horários de
pico, a presença de um policial militar no vagão feminino causou
revolta, no último domingo, ocasionando a prisão administrativa do
infrator. Por lá, os seguranças do metrô não têm poder de tirar homens
do vagão exclusivo, e a companhia conta com a consciência dos usuários.
Em BH, o projeto de lei (PL) 893/2013 prevê que a empresa responsável
pela operação do sistema de metrô, no caso a CBTU, seja multada, caso
permita homens no vagão exclusivo. O autor do PL, vereador Leo Burguês,
recebeu um abaixo-assinado com 10 mil nomes solicitando o vagão feminino
no horário de pico.
“Recebemos várias reclamações de mulheres que foram bolinadas no
transporte público. Creio que a população mineira se adaptaria bem à
mudança”, diz o presidente da Câmara de BH.
De acordo com o PL, ficaria a cargo da CBTU a decisão sobre a
instalação de um novo carro ou do uso de um daqueles já disponíveis nas
composições. Nos demais, o uso seria misto.
O PL justifica que é dever do poder público zelar pela integridade
física da população e que as usuárias do transporte público passam por
constrangimentos devido à superlotação dos veículos nos períodos de
maior movimento.
O projeto sustenta ainda que uma mulher que sofre tal constrangimento
pode apresentar “insegurança, culpa, depressão, baixa autoestima,
vergonha, fobias, tristeza e desmotivação”.
Uma audiência pública para discutir o tema ocorrerá na próxima sexta-feira, na Praça da Estação.
Por meio da assessoria de imprensa, a CBTU informou que não comentaria o projeto de lei.
Controversa, proposta agrada quem já foi vítima de abusos
A criação do “vagão rosa” em Belo Horizonte divide opiniões. O anúncio
sobre a audiência pública, colocado no Facebook pela Câmara Municipal,
teve dezenas de manifestações, contra e a favor.
A maioria dos contrários ao projeto afirma que prefere investimentos
mais efetivos no transporte público, do que separar homens e mulheres
nos carros. A passageira Náthalie Mesquita, de 23 anos, acha que a
separação não faz sentido. “Situações de assédio podem acontecer em
qualquer lugar. Antes de segregar, as pessoas devem aprender a se
respeitar”, avalia.
Não pensa assim, no entanto, quem já sofreu abuso. “Há um ano, um homem
passou a mão em minhas partes íntimas dentro de um vagão. Eu saí de
perto, mas fiquei sem reação, não consegui gritar”, contou C.F, de 23.
Sentimento semelhante teve M.A, de 34, que certa vez cochilou dentro do
metrô e acordou com um homem passando a mão na perna dela. “Tirei a mão
dele, mas fiquei com tanta vergonha que não reagi. Depois fiquei com
raiva de mim mesma por não ter brigado”, afirma.
Traumas
Uma mulher que sofre os abusos rápidos e, muitas vezes, anônimos, pode
desenvolver um quadro de depressão, segundo Maria Beatriz Rios Ricci,
terapeuta de família e especialista em relações humanas em contextos de
violência.
“Geralmente, a pessoa adquire um medo de entrar novamente nessa
situação e começa a evitar o transporte público, mudando a rotina e
gerando um estresse”, explica.
Segundo a psicóloga clínica e professora no Centro Universitário Newton
Paiva, Sylvia Flores, o comportamento dos agressores está ligado ao
machismo. O homem não agride pela sexualidade, e sim pela sensação de
poder. “É isso que erotiza a situação e o deixa excitado com o ato”,
avalia.