Em uma via elevada, por entre avenidas e viadutos, serpenteando no meio de
prédios, o aeromóvel passa quase sem fazer barulho em direção ao seu destino.
Silencioso, o veículo brasileiro parece flutuar, estável, sem trepidações.
Mesmo
sobre trilhos, aparentemente voa no ar, acima dos carros e ônibus ─ próximo dos
céus, para onde os passageiros se dirigem, a caminho do aeroporto.
A operação
ainda é experimental, mas a fase de testes está perto do fim. A inauguração
oficial, com a presença de presidente Dilma Rousseff, deve ocorrer ainda em
agosto.
Usuários que hoje dependem de carros e ônibus para percorrer o trajeto entre
uma estação de trens urbanos e o aeroporto da capital gaúcha ─ um caminho de
menos de um quilômetro hoje acessível apenas por rodovias movimentadas ─
passarão a ter acesso à alternativa sem qualquer custo.
A primeira linha da
tecnologia brasileira vai interligar a Estação Aeroporto do transporte público
de trens de Porto Alegre ao Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado
Filho.
A expectativa é que o aeromóvel realize seus primeiros deslocamentos com
passageiros na terceira semana de agosto.
A data prevista para a inauguração é o
dia 15, com participação da presidente da República.
Os recursos necessários
para implementar o projeto (R$ 37,8 milhões) foram investidos pelo governo
federal.
O veículo atualmente em operação, chamado de A100, é o primeiro ─ e
menor ─ dos dois que devem funcionar de maneira intercalada no local.
O segundo
aeromóvel (A200), com capacidade para 300 pessoas, está sendo construído e deve
chegar a Porto Alegre no final de setembro, segundo estima a Trensurb.
O projeto do aeromóvel vai possibilitar maior integração para o transporte
público da região metropolitana de Porto Alegre e será oferecido como um serviço
gratuito aos usuários da Trensurb.
A ligação direta deve beneficiar também
funcionários da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero)
que percorrem o caminho até o aeroporto diariamente.
Quanto ao número de
passageiros, a Trensurb estima que aproximadamente 8 mil pessoas por dia devem
fazer o caminho até o aeroporto pelo aeromóvel.
"Essa tecnologia foi duramente criticada no Rio Grande do Sul, mas
verificamos que o questionamento é um grande equívoco.
A vantagem energética é
tremenda: vale muito a pena transformar a energia elétrica em vento para
empurrar (o aeromóvel)", afirmou Ernani da Silva Fagundes, superintendente de
Desenvolvimento e Expansão da Trensurb, após uma viagem de testes conferida pelo
Terra.
Trinta e um anos se passaram desde que a execução do projeto foi
interrompida.
Questões políticas, acredita o idealizador do aeromóvel; o preço
do pioneirismo, acreditam os responsáveis pela implementação atual, justificando
a defasagem.
"Isso que a gente chama de atraso é o custo de uma inovação",
defende o gestor do projeto do aeromóvel, Sidemar Francisco da Silva.
"Era
impossível fazer esse veículo no prazo que estava nos contratos, ele tinha que
ser adaptado dentro de novos padrões e seguir todo um conjunto de regras de
segurança até então não definidas", afirma o gerente de Desenvolvimento de
Engenharia da Trensurb.
O antigo protótipo ainda permanece parado nos trilhos elevados da linha
original, em frente à Usina do Gasômetro: um símbolo do abandono.
Apesar de a
obra ter cessado na década de 1980, o projeto continuou tomando forma.
E muito
mudou desde o primeiro modelo, criado em 1977.
A ideia conceitual, no entanto,
permanece a mesma.
O aeromóvel se movimenta com a energia gerada por um ventilador movido por um
motor elétrico.
Anda sobre trilhos, em rodas de aço, mas não queima combustível.
Seu inventor, o gaúcho Oskar Coester, compara o funcionamento do aeromóvel ao de
um barco à vela ─ só que invertido.
Em ambos os casos, é o fluxo de ar que
promove a impulsão; no aeromóvel, um duto localizado dentro da via elevada
empurra a "vela", fixada sob o veículo por meio de uma haste.
A estrutura é
leve: com capacidade para carregar 150 passageiros, pesa apenas 10 toneladas,
enquanto um carro popular costuma ter cerca de uma tonelada.
"É um novo conceito de transporte. (O aeromóvel) tem custo bem menor porque
movimenta menos peso", disse Coester. Sua ideia foi adotada apenas em um local
até hoje: em Jacarta, capital da Indonésia, onde funciona dentro de um parque ao
longo de uma linha de 3,5 quilômetros.
"Esse sistema funciona desde 1989 em
operação comercial na Indonésia e não registrou nenhum acidente", garante.
Além
do aspecto ambiental, ele destaca a segurança e economia do veículo não
motorizado.
Todas as peças utilizadas na constituição do aeromóvel são de fabricação
nacional. Os motores propulsores foram fabricados por uma empresa do Rio de
Janeiro, e o motor elétrico foi desenvolvido em Caxias do Sul (RS).
O projeto
foi criado "do zero": toda a tecnologia e a estrutura necessárias são feitas no
Brasil. O sistema é totalmente automatizado, e assim não exige condutores a
bordo. Todo o controle é feito a partir de estações remotas, localizadas em cada
ponto final da rota.
Inauguração
Um dia depois de inaugurado, o sistema vai começar a transportar passageiros em um chamado "processo de automação", como um período estendido de testes, que deve durar 90 dias.
O intervalo entre cada
viagem ─ cujo trajeto é percorrido em dois minutos a uma velocidade média de 65
km/h ─ ainda não foi definido, e vai depender da demanda de cada período.
As
primeiras viagens comerciais vão ocorrer entre as 10h e as 16h nos dias de
semana.
"O intervalo entre essas viagens nós não definimos ainda, se vai ser de 5, 10
minutos... vamos ter que testar a demanda e sentir como é que (o sistema) vai se
comportar", afirmou o superintendente da Trensurb Ernani Fagundes.
A demanda aferida nesse período também vai definir qual o veículo mais
adequado para cada horário. Dependendo da quantidade de passageiros, será
utilizado um aeromóvel ou outro, mas nunca os dois ao mesmo tempo: enquanto um
opera, o outro fica estacionado.
Segurança
Diversas etapas de segurança buscam garantir que o funcionamento do aeromóvel não seja interrompido.
Caso haja algum
problema, porém, há um plano B (e até um plano C) para que o veículo nunca deixe
de se movimentar quando necessário.
A operação padrão é feita através de um
centro de controle, que funciona no prédio da Trensurb e conta com câmeras que
registram todo o trajeto.
O sistema, quando configurado, opera sozinho, sem
necessidade de operação manual.
O trabalho dos técnicos e supervisionar a
automatização.
Todo o sistema é pensado com alternativas para não ter nenhuma situação em
que o veículo não possa andar
Ernani Fagundes
Caso o motor principal do aeromóvel ─ o ventilador movido a eletricidade ─ apresente alguma falha, uma subestação localizada na Estação Aeroporto conta com outro painel de controle.
Caso o motor principal do aeromóvel ─ o ventilador movido a eletricidade ─ apresente alguma falha, uma subestação localizada na Estação Aeroporto conta com outro painel de controle.
É
ali também que fica o motor alternativo, movido a diesel.
Assim, caso haja falta
de luz, o veículo pode continuar funcionando.
Um terceiro estágio de operação,
se ambos os motores e estações apresentarem problemas, é o controle manual, por
meio de joysticks.
"Pode parar o trensurb, mas o aeromóvel continua andando. Prevemos falhas
seguras e temos estágios de backup com diversas soluções operacionais", garante
Fagundes.
"Todo o sistema é pensado com alternativas (de segurança), para não
ter nenhuma situação em que o veículo não possa andar."
VEÍCULO MOVIDO A AR TERÁ SUA ESTREIA EM PORTO ALEGRE. CONFIRA PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS | |
Inauguração: | prevista para 15 de agosto de 2013 |
Trajeto: | 814 metros em via elevada entre o aeroporto Salgado Filho e a estação da Trensurb |
Tarifa: | a passagem é gratuita para usuários do trensurb, que pagam R$ 1,70 pelo bilhete |
Horário: | das 10h às 16h, durante 90 dias após a inauguração |
Capacidade: | 150 passageiros no primeiro veículo. O segundo aeromóvel, com o dobro da capacidade, deve chegar em setembro e começar a operar em 2014 |
Custo total: | R$ 37,8 milhões (recursos do governo federal) |