06 agosto 2013

Primeiro aeromóvel do Brasil deve ser inaugurado em agosto


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Há meses em fase de testes, o aeromóvel está deixando sua operação experimental
Em uma via elevada, por entre avenidas e viadutos, serpenteando no meio de prédios, o aeromóvel passa quase sem fazer barulho em direção ao seu destino. 

Silencioso, o veículo brasileiro parece flutuar, estável, sem trepidações. 

Mesmo sobre trilhos, aparentemente voa no ar, acima dos carros e ônibus ─ próximo dos céus, para onde os passageiros se dirigem, a caminho do aeroporto. 

A operação ainda é experimental, mas a fase de testes está perto do fim. A inauguração oficial, com a presença de presidente Dilma Rousseff, deve ocorrer ainda em agosto.

Usuários que hoje dependem de carros e ônibus para percorrer o trajeto entre uma estação de trens urbanos e o aeroporto da capital gaúcha ─ um caminho de menos de um quilômetro hoje acessível apenas por rodovias movimentadas ─ passarão a ter acesso à alternativa sem qualquer custo. 

A primeira linha da tecnologia brasileira vai interligar a Estação Aeroporto do transporte público de trens de Porto Alegre ao Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

A expectativa é que o aeromóvel realize seus primeiros deslocamentos com passageiros na terceira semana de agosto. 

A data prevista para a inauguração é o dia 15, com participação da presidente da República. 

Os recursos necessários para implementar o projeto (R$ 37,8 milhões) foram investidos pelo governo federal. 

O veículo atualmente em operação, chamado de A100, é o primeiro ─ e menor ─ dos dois que devem funcionar de maneira intercalada no local. 

O segundo aeromóvel (A200), com capacidade para 300 pessoas, está sendo construído e deve chegar a Porto Alegre no final de setembro, segundo estima a Trensurb.

O projeto do aeromóvel vai possibilitar maior integração para o transporte público da região metropolitana de Porto Alegre e será oferecido como um serviço gratuito aos usuários da Trensurb. 

A ligação direta deve beneficiar também funcionários da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) que percorrem o caminho até o aeroporto diariamente. 

Quanto ao número de passageiros, a Trensurb estima que aproximadamente 8 mil pessoas por dia devem fazer o caminho até o aeroporto pelo aeromóvel.

"Essa tecnologia foi duramente criticada no Rio Grande do Sul, mas verificamos que o questionamento é um grande equívoco. 

A vantagem energética é tremenda: vale muito a pena transformar a energia elétrica em vento para empurrar (o aeromóvel)", afirmou Ernani da Silva Fagundes, superintendente de Desenvolvimento e Expansão da Trensurb, após uma viagem de testes conferida pelo Terra.

Trinta e um anos se passaram desde que a execução do projeto foi interrompida. 

Questões políticas, acredita o idealizador do aeromóvel; o preço do pioneirismo, acreditam os responsáveis pela implementação atual, justificando a defasagem. 

"Isso que a gente chama de atraso é o custo de uma inovação", defende o gestor do projeto do aeromóvel, Sidemar Francisco da Silva. 

"Era impossível fazer esse veículo no prazo que estava nos contratos, ele tinha que ser adaptado dentro de novos padrões e seguir todo um conjunto de regras de segurança até então não definidas", afirma o gerente de Desenvolvimento de Engenharia da Trensurb.

O antigo protótipo ainda permanece parado nos trilhos elevados da linha original, em frente à Usina do Gasômetro: um símbolo do abandono. 

Apesar de a obra ter cessado na década de 1980, o projeto continuou tomando forma. 

E muito mudou desde o primeiro modelo, criado em 1977. 

A ideia conceitual, no entanto, permanece a mesma.

O aeromóvel se movimenta com a energia gerada por um ventilador movido por um motor elétrico.

 Anda sobre trilhos, em rodas de aço, mas não queima combustível. Seu inventor, o gaúcho Oskar Coester, compara o funcionamento do aeromóvel ao de um barco à vela ─ só que invertido. 

Em ambos os casos, é o fluxo de ar que promove a impulsão; no aeromóvel, um duto localizado dentro da via elevada empurra a "vela", fixada sob o veículo por meio de uma haste.

 A estrutura é leve: com capacidade para carregar 150 passageiros, pesa apenas 10 toneladas, enquanto um carro popular costuma ter cerca de uma tonelada.

"É um novo conceito de transporte. (O aeromóvel) tem custo bem menor porque movimenta menos peso", disse Coester. Sua ideia foi adotada apenas em um local até hoje: em Jacarta, capital da Indonésia, onde funciona dentro de um parque ao longo de uma linha de 3,5 quilômetros. 

"Esse sistema funciona desde 1989 em operação comercial na Indonésia e não registrou nenhum acidente", garante. 

Além do aspecto ambiental, ele destaca a segurança e economia do veículo não motorizado.

Todas as peças utilizadas na constituição do aeromóvel são de fabricação nacional. Os motores propulsores foram fabricados por uma empresa do Rio de Janeiro, e o motor elétrico foi desenvolvido em Caxias do Sul (RS). 

O projeto foi criado "do zero": toda a tecnologia e a estrutura necessárias são feitas no Brasil. O sistema é totalmente automatizado, e assim não exige condutores a bordo. Todo o controle é feito a partir de estações remotas, localizadas em cada ponto final da rota.

Inauguração
 
Um dia depois de inaugurado, o sistema vai começar a transportar passageiros em um chamado "processo de automação", como um período estendido de testes, que deve durar 90 dias. 

O intervalo entre cada viagem ─ cujo trajeto é percorrido em dois minutos a uma velocidade média de 65 km/h ─ ainda não foi definido, e vai depender da demanda de cada período. 

As primeiras viagens comerciais vão ocorrer entre as 10h e as 16h nos dias de semana.

"O intervalo entre essas viagens nós não definimos ainda, se vai ser de 5, 10 minutos... vamos ter que testar a demanda e sentir como é que (o sistema) vai se comportar", afirmou o superintendente da Trensurb Ernani Fagundes.

A demanda aferida nesse período também vai definir qual o veículo mais adequado para cada horário. Dependendo da quantidade de passageiros, será utilizado um aeromóvel ou outro, mas nunca os dois ao mesmo tempo: enquanto um opera, o outro fica estacionado.

Segurança
 
Diversas etapas de segurança buscam garantir que o funcionamento do aeromóvel não seja interrompido. 

Caso haja algum problema, porém, há um plano B (e até um plano C) para que o veículo nunca deixe de se movimentar quando necessário. 

A operação padrão é feita através de um centro de controle, que funciona no prédio da Trensurb e conta com câmeras que registram todo o trajeto. 

O sistema, quando configurado, opera sozinho, sem necessidade de operação manual. 

O trabalho dos técnicos e supervisionar a automatização.

Todo o sistema é pensado com alternativas para não ter nenhuma situação em que o veículo não possa andar
 
Ernani Fagundes
Caso o motor principal do aeromóvel ─ o ventilador movido a eletricidade ─ apresente alguma falha, uma subestação localizada na Estação Aeroporto conta com outro painel de controle.

 É ali também que fica o motor alternativo, movido a diesel. 

Assim, caso haja falta de luz, o veículo pode continuar funcionando. 

Um terceiro estágio de operação, se ambos os motores e estações apresentarem problemas, é o controle manual, por meio de joysticks.

"Pode parar o trensurb, mas o aeromóvel continua andando. Prevemos falhas seguras e temos estágios de backup com diversas soluções operacionais", garante Fagundes. 

"Todo o sistema é pensado com alternativas (de segurança), para não ter nenhuma situação em que o veículo não possa andar." 

Aeromóvel
http://www.correiodoestado.com.br/noticias/primeiro-aeromovel-do-brasil-deve-ser-inaugurado-em-agosto_190034/
 
 
VEÍCULO MOVIDO A AR TERÁ SUA ESTREIA EM PORTO ALEGRE. CONFIRA PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Inauguração: prevista para 15 de agosto de 2013
Trajeto: 814 metros em via elevada entre o aeroporto Salgado Filho e a estação da Trensurb
Tarifa: a passagem é gratuita para usuários do trensurb, que pagam R$ 1,70 pelo bilhete
Horário: das 10h às 16h, durante 90 dias após a inauguração
Capacidade: 150 passageiros no primeiro veículo. O segundo aeromóvel, com o dobro da capacidade, deve chegar em setembro e começar a operar em 2014
Custo total: R$ 37,8 milhões (recursos do governo federal)

Arquivo INFOTRANSP