Se o crescimento do número de faixas exclusivas de ônibus em São Paulo está
acelerando os coletivos, também está confundindo quem dirige carro ou moto pelas
vias que receberam a novidade.
A Folha levantou ao menos 20 regras diferentes entre os horários de
funcionamento de faixas e corredores.
O horário determina em que período a faixa é só para ônibus.
O desrespeito
pode resultar em multa que varia de R$ 53,20 (faixas à direita) a R$ 127,69 (à
esquerda).
Na avenida Paulista, por exemplo, carros estão proibidos de segunda a sábado
das 6h às 22h. Logo adiante, na Doutor Arnaldo, a proibição acaba no sábado, às
14h.
No corredor norte-sul, que engloba avenidas como 23 de Maio e Washington
Luís, o sábado é liberado.
Já nas marginais Tietê e Pinheiros, ao contrário dessas outras vias, as
faixas funcionam apenas de segunda a sexta nos picos da manhã (das 6h às 9h) e
da tarde (17h às 20h). Mas na Tietê é um horário em cada sentido, e na Pinheiros
eles valem para os dois.
O taxista Lino Firmino da Silva, 59, diz que as regras variam tanto que ele
se arrepende quando arrisca entrar em algumas das faixas.
"Levei multa semana passada na Paulista.
Era 13h05, deixei um passageiro na
calçada e continuei na faixa porque ia virar em seguida, na alameda Campinas. Aí
chegou a multa", conta.
As regras para táxi também variam. Assim como os outros carros, eles são
proibidos nas faixas à direita. Já nos corredores à esquerda, são liberados
desde que estejam com passageiro e não usem película escura nos vidros.
As faixas se tornaram a principal bandeira do prefeito Fernando Haddad (PT)
na área de transporte público após a onda de protestos. Inicialmente sua meta
era implantar 150 km até 2016. Após os protestos, ampliou o número para 220 km e
antecipou o prazo para este ano.
Até hoje, já foram implantados 130 km. Na segunda-feira começam a funcionar
mais 6,7 km de faixas, em 11 vias da cidade.
PADRONIZAÇÃO
Segundo especialistas, a variação de regras atrapalha.
Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela USP, diz que os horários
exibidos nas placas de regulamentação são praticamente impossíveis de serem
lidos à distância.
"Os números são pequenos, e fica ainda mais difícil quando se está a 60 km/h.
Quando chega perto, já está dentro da faixa. Ninguém dirige olhando para cima
também", diz, sobre o local em que as placas são afixadas.
Ele defende o uso de letras maiores, para facilitar a identificação das
regras, e critica o ritmo de implantação das faixas, "que parece estar seguindo
mais o critério político do que o técnico".
O consultor Horácio Figueira, partindo de dados da pesquisa Origem/Destino,
propõe uma padronização nos horários, com a criação de apenas três regras: das
6h às 14h, das 14h às 22h ou os dois combinados.
"A demanda segue ao longo do dia, então sou favorável a aumentar os horários,
para favorecer também quem anda de ônibus fora dos horários de pico", afirma.
CRITÉRIOS
A prefeitura diz que diversos fatores são levados em consideração para
definir o horário das faixas.
"Além das características estruturais da via, como extensão e número de
faixas de rolamento, também são levados em conta o fluxo de veículos e,
principalmente, a quantidade de ônibus e o número de passageiros transportados",
afirma, em nota.
Segundo a gestão Haddad, "em bairros mais distantes do centro, o horário de
maior movimentação de pessoas e veículos acontece antes do chamado horário de
pico.
Por esse motivo, nesses locais, as faixas exclusivas tem horários
distintos, com funcionamento antes mesmo das 7h".
MULTA
Começa hoje a aplicação de multas aos motoristas que invadirem a faixa
exclusiva de ônibus do corredor norte-sul.
Das 6h às 22h, quem for flagrado pelos 50 agentes destacados para a
fiscalização estará sujeito a penalidade de R$ 53,20 e terá três pontos anotados
na habilitação.
A faixa foi implantada em três etapas e hoje funciona da praça Campo de
Bagatelle, na zona norte, à avenida do Jangadeiro, na zona sul.
Hoje começa a funcionar um quarto trecho da faixa, com percurso pela avenida
Senador Teotônio Vilela, até a avenida Atlântica.
A novidade é que, além de reservar a faixa da direita apenas aos ônibus, a
prefeitura vai impedir a circulação de outros tipos de veículo por cerca de 420
metros, entre a rua Padre José
Garzotti e a avenida do Jangadeiro.
Garzotti e a avenida do Jangadeiro.
A
proibição será só no sentido centro, por período integral. Os motoristas terão
de usar um desvio pela rua Icanhema.
No novo trecho haverá período de orientação e ainda não há data para as
multas.