03 maio 2012

Vagões exclusivos para mulheres no metrô do Rio é uma vitória, avalia jornal francês

Em uma semana intensa, marcada pela corrida eleitoral, o jornal de esquerda francês Libération resolveu contar a história de um outro tipo de corrida para seus leitores: a de milhares de brasileiras que enfrentam todos os dias o metrô da "cidade maravilhosa" e podem ser vítimas de abuso sexual. 

Em uma viagem pelo subsolo do Rio de Janeiro, a reportagem mostra a opinião das cariocas sobre o direito a vagões exclusivos ao sexo feminino, ainda pouco comum em outras grandes cidades do mundo.

Nesta segunda-feira, o jornal Libération dedicou duas páginas aos vagões exclusivos para mulheres no metrô carioca, projeto apresentado como uma "vitória". 

A reportagem ganha vida ao escutar as anedotas dessas mulheres, que enfrentam o empurra-empurra diário nos transportes públicos do Rio de Janeiro. Com números interessantes e um estilo descontraído, a jornalista vai além da informação sobre vagões exclusivos e se interessa pelas histórias das passageiras, coletadas em meio ao balanço do trem, para desenhar a atual situação econômica e social da mulher brasileira.

O sistema de vagões exclusivos ao público feminino foi um projeto de lei votado no dia 8 de março de 2006, Dia Internacional das Mulheres. 

O Rio de Janeiro é um dos poucos lugares no mundo a implantar esse projeto, junto com outras cidades japonesas e mexicanas, sem contar países muçulmanos, que também praticam a separação por motivos religiosos. Segundo dados do MetroRio, companhia responsável por operar o metrô carioca, as mulheres são maioria entre os usuários do transporte, com 54% do total.

A repórter começa a viagem às 6h15 da manhã na estação General Osório, quando ela encontra Danielle, uma secretária de 34 anos, que a adverte: "Por enquanto não tem muita gente. 

A separação entre homens e mulheres parece inútil, mas você vai ver que daqui a alguns minutos, quando nos aproximarmos do centro da cidade, o vagão vai lotar imediatamente". 

A jovem também conta ser desagradável estar em um metrô lotado e ter que enfrentar as "mãos bobas" de alguns rapazes. "A gente nunca sabe como reagir. Então, normalmente, a gente se mantém calada e fica com o coração batendo esperando a hora de descer", confessa.

Entre os argumentos de Michelles, Luzias, Nívias e até mesmo de um Fernando, a jornalista mostra as vantagens em ter um vagão especial para o "sexo frágil", mas também traz depoimentos contrários à iniciativa. 

É o caso de Jussara, de 46 anos, que considera a lei uma discriminação contra os homens. "Eu nunca me senti insegura dentro do metrô. Eu fico no canto, me apoio sobre a parede e fica tudo bem. Eu não sei porque as mulheres se beneficiam disso e não os homens. Isso é discriminação e não é digno de nosso país", contesta a auxiliar de enfermagem, que passa cerca de duas horas diárias dentro do metrô.

Enquanto descreve a história de brasileiras que enfrentam rotinas pesadas de trabalho, a reportagem do Libération ainda aborda o número de empregadas domésticas usuárias da linha 2 do metrô carioca, o que sublinha a estrutura social do país. 

E no meio da mulherada, a jornalista encontra um homem que a lança olhares assustados. É um francês que, desavisado, entrou no vagão exclusivo sem perceber a proibição. "É reservado às mulheres? Eu havia reparado que era o único homem. Me perguntei se isso era um sonho ou um pesadelo...", disse o rapaz.

http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20120430-vagoes-exclusivos-para-mulheres-no-metro-do-rio-e-uma-vitoria-avalia-jornal-frances 

Arquivo INFOTRANSP