Os jovens que têm entre 20 e 30 anos estão ficando no máximo dois anos em cada emprego. É o que diz uma pesquisa da Page Personnel, feita com profissionais do Rio e de São Paulo. Nada menos que 78% dos que responderam à enquete afirmaram que, se num prazo de 24 meses não forem promovidos, vão em busca de uma corporação com melhores condições de trabalho. O problema é que, nesse curto período, dizem consultores, mal é possível absorver a cultura ou entender bem o negócio da empresa.
Não é tanto a pressa característica da chamada geração Y que surpreende, mas uma impulsividade tão grande que acaba por reduzir, cada vez mais, o tempo em que esses profissionais permanecem em cada organização, abortando, por vezes, chances de uma carreira mais sólida.
— Dois anos é muito pouco para um profissional se desenvolver, em qualquer corporação. Três anos é um ciclo mínimo de tempo para que ele possa, de fato, aproveitar a experiência — diz Roberto Picino, diretor executivo da Page Personnel.
O paulistano Thiago Ghougassian, de 23 anos, é um típico exemplar da geração Y. Jornalista, que trabalha como assessor e gerente de mídias sociais de uma agência de comunicação, ele trocou de emprego três vezes nos últimos três anos,
— Não posso me prender a lugares que não me dão o que quero. Vejo minha vida passando, e preciso correr atrás — resume Ghougassian.
Para José Augusto Figueiredo, presidente da International Coach Federation (ICF Brasil), a geração Y — que, segundo ele, já representa entre 40% e 50% do quadro da maioria das companhias — apresenta mais do que impaciência. A ela, falta tolerância.
— Eles não toleram relação de hierarquia, falta de significado do trabalho, falta de interação entre chefes e subordinados — diz Figueiredo. — Mas acima de tudo, não suportam falta de desafios e de perspectivas. Por isso, trocam tanto de emprego.
Consultores ressaltam que essa pressa também é resultado de um mercado aquecido, com baixo índice de desemprego, escassez de profissionais qualificados e muitas oportunidades.
Foi a falta de perspectiva de promoção e desenvolvimento de carreira que levaram o gerente de contas Leonardo Fontes, de 28 anos, a passar por quatro empresas, em apenas sete anos. Hoje ele trabalha na Sankhya, companhia especializada em tecnologia para gestão de negócios.
— Sou de uma geração movida a desafios, que se recusa a ficar na zona de conforto — define-se. — Se a empresa não tiver plano de cargos e salários, se não oferecer desafios profissionais e um bom clima, é hora de procurar outra oportunidade.
Desafios e plano de cargos e salários também são palavras-chave usadas pela analista de RH Fernanda Fernandes. Aos 30 anos, ela está na quarta empresa — em algumas delas, ficou até menos de dois anos — e não tem problemas em trocar de emprego:
— Quando vejo que não me dão desafios nem aumento, saio fora. Além disso, hoje não é bem-visto ter um currículo com muitos anos de trabalho numa só empresa; parece que a pessoa é acomodada.
Essa geração é inquieta, explica a consultora Jacqueline Resch, porque nasceu num mundo globalizado, interconectado, onde tudo muda rapidamente:
— Eles agem, na profissão, respondendo às exigências desse mundo, e é natural que seja assim.
Segundo Jacqueline, no entanto, é importante que esses jovens sejam capazes de conviver e reconhecer o valor de outras gerações, que têm padrões de comportamento diferentes. Caso não consigam, ressalta, fica difícil trabalhar em qualquer empresa.
Além do que, os riscos de tanta inquietude podem se traduzir até em problemas de saúde, como depressão e síndrome do pânico, entre outros males, acrescenta a psicóloga Andreia Calçada. É que os constantes apelos da sociedade de consumo, de acordo com ela, impelem a geração Y a buscar, para ontem, sucesso e status.
— O alto nível de cobrança interna e a pouca tolerância à frustração geram ansiedade e estresse — conclui Andreia.
http://oglobo.globo.com/emprego/geracao-profissionais-velozes-mas-tambem-inquietos-4884584