19 maio 2012

Metrô de SP é 100% seguro e medo é 'absurdo', dizem especialistas

A colisão entre duas conduções da linha 3-Vermelha do Metrô, que deixou dezenas de pessoas feridas na quarta-feira, em São Paulo, causou preocupação entre os usuários do sistema e gerou dúvidas sobre a segurança no transporte sobre trilhos. Mais de 100 pessoas foram atendidas em hospitais da capital paulista, mas especialistas ouvidos pelo Terra, garantem: apesar do acidente, o metrô do Estado é seguro.

"É legítima a preocupação das pessoas e as reclamações dos passageiros, mas ter medo do metrô de São Paulo é um absurdo", disse Telmo Porto, professor do departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), especialista em ferrovias. "O fato de ninguém ter ficado ferido com gravidade, e de não ter havido nenhuma morte, não foi sorte, é prova de que é um sistema seguro", completou.

De acordo com Porto, o metrô paulista usa uma tecnologia conhecida como ATO (sigla em inglês para Operação Automática dos Trens), o que faz com que as conduções se locomovam automaticamente, embora o maquinista esteja presente, enquanto a movimentação dos trens é controlada pelo Centro de Controle Operacional (CCO). Em linhas gerais, essa tecnologia foi desenvolvida para ser "à prova de falhas", ou seja, havendo qualquer problema, seja causado por uma pane mecânica ou por um erro humano, os trens perdem velocidade até parar.

De acordo com o Metrô, no acidente desta quarta, as conduções se chocaram a uma velocidade estimada de 9 km/h e 12 km/h. "É quase um acoplamento. Foi um acidente muito raro, provavelmente a primeira vez que aconteceu no Metrô", disse o secretário de Transportes Metropolitano, Jurandir Fernandes, em entrevista coletiva pouco após a batida.

Ainda segundo o especialista, embora o metrô de São Paulo ainda sofra com alguns problemas, como a superlotação em horário de pico, por exemplo, em termos de tecnologia, o modelo paulista está "absolutamente de acordo com os parâmetros internacionais", afirma.

Tanto a Polícia Civil quanto uma comissão de engenheiros e técnicos do Metrô irão analisar, de forma paralela, as causas do acidente, cujas respostas devem ser obtidas dentro de 30 a 90 dias. Segundo o professor da Poli-USP, contudo, é muito pouco provável que haja apenas uma causa para a pane. "Uma coisa é certa: não existe ocorrência ferroviária que tenha causa única. É igual ao avião, é uma conjunção de fatores."

O presidente da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense, também diz que o modelo de transporte sobre trilhos adotado pelo Estado é seguro, e opina que, após esse acidente, a segurança do sistema deve ser reforçada. "O metrô de São Paulo é 99% confiável, mas esse 1% que falta custa muito caro e leva tempo para ser alcançado. (..) Ele foi feito para não causar problemas, mas não há sistema no mundo completamente livre de falhas.

O que se pode fazer é garantir que as falhas, quando ocorrerem, não colocarão as pessoas em risco. Esse acidente deverá causar uma revisão em vários procedimentos e deixar o transporte mais seguro", opina.

Embora avalie que o governo de São Paulo aumentou os investimentos no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) com certo "atraso", Brasiliense discorda que o acidente tenha qualquer ligação com falta de investimentos ou baixa manutenção dos trens, conforme apontou o Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

"O número de falhas hoje é muito menor do que o registrado antigamente. E o aumento da tecnologia garante, justamente, que os custos com manutenção caiam", argumentou.

O metrô de São Paulo começou a operar em 1974 e, atualmente, transporta mais de 4,5 milhões de passageiros diariamente e realiza mais de 4,5 mil viagens por dia em um percurso de cerca de 74 km de extensão. Segundo os especialistas, grande parte dos problemas enfrentados hoje ocorre porque, entre a década de 70 e os anos 2000, o transporte metroviário não foi priorizado.

"Agora, é muito improvável que uma falha como essa ocorra dentro de muitos anos. As pessoas não têm com o que se preocupar (em relação à segurança)", conclui o presidente da ANTP.



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